Ao fim de cinco meses de governo de maioria absoluta e dois depois de ter garantido que iria "continuar a lutar", Marta Temido desistiu. E a sua saída fez suspirar de alívio toda a oposição, bem como os profissionais que tutelava. Até Marcelo aproveitou para deixar o recado de que gostaria de uma saúde menos dependente do Ministério..No adeus, só o PS conseguiu inventar-lhe elogios. Líder partidário excluído - Costa agradeceu-lhe o esforço em pandemia, mas poupou-se a palavras doces. Após ter dito e repetido que não havia caos nenhum na saúde, só problemas pontuais, chegando até a irritar-se com a expressão no último debate de verão, depois de andar a carregar Temido em ombros desde o congresso em que lhe ofereceu o cartão de militante perante o êxtase da plateia socialista, aceitou-lhe agora a saída com serenidade absoluta..Quem o visse em São Bento, bronzeado, descontraído e risonho no seu outfit de verão, não acreditava que estava a comentar a demissão da sua protegida, que ele próprio levara ao estrelato. Quanto às respostas que deu, a mensagem resume-se a isto: a ministra sai e as políticas prosseguem dentro de momentos, porque o rumo do país é Costa quem o define, e quem está sentado nas cadeiras à volta é mero executor do que ele ordena. Não o disse assim, claro, afirmou antes que "as decisões e os documentos não pertencem a ministros", são do governo que lidera, e que "quem quer mudanças de políticas tem de derrubar o governo"..De resto, António Costa nem sequer tem urgência na mudança - tem compromissos na agenda, como uma viagem a Moçambique, e reuniões para preparar. Afinal, qual é a pressa? Se o primeiro-ministro continua a negar o caos que se instalou no SNS (mesmo depois do bebé que morreu há dois meses, mesmo depois da grávida que morreu há dias), não há campainhas que lhe despertem razões de preocupação maior..Os internos fazem três vezes mais horas extra do que a lei permite? Podem esperar. Os profissionais de saúde vivem entre o desespero de não ter mãos a medir e o pânico de a falta de condições os levar ao erro? Podem esperar. Há grávidas obrigadas a fazer 100 km para serem atendidas numa urgência? Podem esperar. O que são 15 dias para decidir quem será o novo responsável político por um setor em crise profunda e mais um ou outro mês para que comece a tentar resolver os enormes problemas que afetam a Saúde? Os portugueses que aguentem mais uns tempos sem contar com a infraestrutura que os seus impostos pagam. E enquanto esperam, talvez percebam que levar a ministra à porta da rua se calhar não chegou para grande coisa.