Qatar recusa ultimato mas não é alvo de novas sanções
O Qatar acusou ontem a Arábia Saudita, Bahrein, Egito e Emirados Árabes Unidos (EAU) de uma "clara agressão" contra o emirado e de criar "uma atmosfera internacional" contra as autoridades de Doha com o "objetivo de as isolar". A tomada de posição do governo qatari foi anunciada pouco antes daqueles países revelarem ter recebido uma "resposta negativa" ao conjunto de condições formuladas para o reatamento das relações diplomáticas com o emirado rompidas no início de junho.
Reunidos no Cairo, os representantes diplomáticos dos quatro países constataram a "resposta globalmente negativa" do Qatar, indicação de que o emirado "não tenciona alterar a sua política", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio, Sameh Shoukry, que lia um comunicado conjunto no final da reunião. O documento não refere, quais os próximos passos, apenas foi indicado se mantêm vigentes as sanções anunciadas e que nova reunião irá realizar-se na capital do Bahrein, Manama, mas sem menção de data. Também não foi mencionado o conteúdo da resposta de Doha. Antes de findar ontem o prazo, que fora prolongado por 48 horas no início da semana, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, afirmou que as condições dos quatro países eram equivalentes ao emirado "abdicar da sua soberania". Fontes oficiais do Qatar, citadas pela Reuters, explicaram que o nível das exigências apresentadas no ultimato de 22 de junho era de tal ordem que não teriam sido pensadas para serem consideradas como base de negociação. Entre as condições apresentadas constava a redução ao mínimo dos laços diplomático-económicos do Qatar com o Irão, o encerramento de uma base militar turca no emirado, o fecho da televisão Al Jazeera, o fim do financiamento a grupos terroristas e das interferências nas questões internas de cada um daqueles países, e ainda a concessão de nacionalidade qatari aos nacionais destes países. Num plano paralelo, mas que não consta do elenco das sanções, o Qatar arrisca a expulsão do principal mecanismo de cooperação na região, o Conselho de Cooperação do Golfo (além do emirado, integra a Arábia Saudita, Bahrein, EAU, Koweit e Omã).
Falando na reunião do Cairo, o ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Adel al-Jubeir, por seu lado, garantiu que "o boicote político e económica vai prosseguir até que o Qatar mude a sua orientação para melhor".
Em paralelo com a reunião dos responsáveis da diplomacia, os dirigentes dos respetivos serviços de informações encontraram-se na capital egípcia, mas sem serem divulgados quaisquer detalhes.
De visita à região, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Sigmar Gabriel, mostrou-se ambivalente sobre a evolução da crise, dizendo esperar que negociações sejam possíveis, mas que, também, a situação "pode continuar difícil por algum tempo".
[artigo:8537974]