Parece cada vez mais perto a confirmação de uma presença da Coreia do Norte nas Olimpíadas de Inverno, que decorrem em fevereiro na Coreia do Sul, e ontem sugeria-se mesmo que os atletas dos dois países pudessem participar como uma só equipa e desfilar na cerimónia de abertura sob uma mesma bandeira: a bandeira da unificação da península. O que já sucedeu no passado noutros eventos desportivos..A inesperada reviravolta no clima de tensão que se tem vivido na região - resultante dos sucessivos testes nucleares e disparos de mísseis balísticos do regime norte-coreano e da agressiva troca de declarações entre Pyongyang e o presidente dos EUA, Donald Trump - teve ontem novo desenvolvimento significativo, com a reabertura de uma linha de comunicação direta entre o Norte e o Sul, que se encontra em Panmunjon, na zona desmilitarizada entre as duas Coreias. A Coreia do Norte encerrara aquela linha de comunicação em fevereiro de 2016 e a sua reabertura foi anunciada por um responsável de Pyongyang, Ri Son-gwon, que dirige a comissão para as relações inter-coreanas. Garantindo estar o regime liderado por Kim Jong-un "de boa fé" e interessado de forma "sincera" no diálogo com Seul, Ri explicou que os contactos incidirão, numa primeira fase, nos preparativos para a presença dos atletas norte-coreanos nos Jogos Olímpicos de Inverno. Para Yoon Young-chan, porta-voz do presidente sul-coreano Moon Jae-in, a reabertura "deste canal de comunicação é profundamente significativo, permitindo a realização de diálogo a qualquer momento". Está prevista uma primeira ronda de negociações na próxima terça-feira em Panmunjon..A disponibilidade de Pyongyang para retomar o contacto direto com Seul, mostrando uma nova flexibilidade após quase dois anos de retórica incendiária acompanhada de testes de mísseis balísticos e ensaios nucleares, estava a ser interpretada ontem como uma estratégia do regime de Kim Jong-un para cavar um fosso entre a Coreia do Sul e Trump. Uma possível reconciliação entre as duas Coreias, ou mesmo só um abrandamento de tensões na península, poriam em causa a linha de ação defendida pelo presidente americano, que recusa a ideia de negociações diretas e sustenta como mais adequado a aplicação de sanções para forçar Pyongyang a suspender o seu programa nuclear. Ainda ontem, Trump divulgou no Twitter nova mensagem visando Kim Jong-un. "Alguém do seu pobre e esfaimado regime informe [Kim] que eu também tenho um Botão Nuclear, mas o meu é muito maior e mais poderoso do que o dele, e o meu Botão funciona!"..Por seu lado, o presidente sul-coreano tem advogado a necessidade de diálogo direto envolvendo os EUA e a Coreia do Norte, recuperando eventualmente o formato das negociações a seis (China, as duas Coreias, os EUA, Japão e Rússia). Pyongyang retirou-se em 2009. Moon considera também que só sanções não farão ceder Kim..A perspetiva das equipas dos dois países atuarem como uma só em algumas das modalidades nas Olimpíadas de Inverno, como por exemplo patinagem artística e hóquei no gelo, seria uma mensagem poderosa sobre a capacidade de Seul e Pyongyang chegarem a acordo em questões simbólicas mas também relevantes para se evitar novo conflito na península. A primeira vez que as duas equipas desfilaram sobre a bandeira de unificação da Coreia - que ostenta o contorno da península sob fundo branco - foi no Campeonato de Mundo de Ténis de Mesa de 1991, no Japão e a mais recente foi nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000.