A organização calculou em 100 mil, a agência TASS em 130 mil, a AFP em 80 mil. Números díspares, mas o facto é que uma multidão deslocou-se ontem ao complexo desportivo Luzhniki, em Moscovo, para o comício do candidato Vladimir Putin, que prometeu "vitórias brilhantes" para a Rússia.."Sim", gritou o público, rendido, em resposta à pergunta de Putin ("Somos uma equipa?"). Este foi o primeiro comício desde o início de uma campanha que culmina com o voto no dia 18, mas para a qual o presidente cessante tem despendido poucas energias: não anunciou o programa de governo e recusou participar em debates televisivos..Dizem os críticos que Putin, no poder desde 2000, ora como presidente, ora como primeiro-ministro, não necessita, até porque não tem oponentes à altura. O principal, Alexei Navalny, foi impedido de concorrer graças a uma sentença que o condenado diz ser uma orquestração do Kremlin..Nas sondagens, Putin conta mais de 70% de intenções de voto. Nenhum dos adversários que vão a votos tem mais de 8% das intenções de voto.."Queremos que o nosso país brilhe e que olhe para o futuro, para os nossos filhos e netos. Tudo faremos para fazê-los felizes", prometeu no comício. "Ninguém vai fazer isso por nós. E, se conseguirmos fazê-lo, a próxima década e todo o século XXI serão marcados pelas nossas brilhantes vitórias", afirmou..Longe vão os tempos da contestação popular que sofreu há meia dúzia de anos. E isto apesar de o nível de vida ter baixado e a pobreza aumentado durante o último mandato, que foi também marcado pela anexação da Crimeia..No palco montado no estádio desfilaram figuras públicas em apoio a Putin. "Somente com ele o nosso país conseguirá um sucesso cósmico", disse o cosmonauta Sergei Ryazansky. "Não vejo nenhum outro candidato que possa ser o nosso comandante-em-chefe. Ele é o único", disse o cineasta Nikita Mikhalkov..Provas pedidas aos EUA.Numa entrevista à cadeia norte-americana NBC, e transmitida na sexta-feira à noite, Vladimir Putin jogou à defesa no que respeita à acusação de que três empresas e 13 cidadãos russos interferiram nas eleições de 2016 numa conspiração para derrotar Hillary Clinton e dar a vitória a Donald Trump. "Primeiro tenho de ver o que fizeram. Mostrem-nos os materiais, passem-nos informação", afirmou. "Não podemos responder se não violaram as leis russas", disse de seguida, ao ser questionado se iria agir em relação aos acusados pelo procurador especial Robert Mueller. E concluiu, em tom crítico: "Isto tem de passar pelos canais oficiais, não através da imprensa ou gritando e vociferando no Congresso dos EUA.".A entrevista decorreu um dia depois de Putin ter revelado as novas capacidades militares da Rússia, tendo garantido que Moscovo possui uma arma que pode atingir quase qualquer ponto do globo e evitar os escudos antimísseis dos Estados Unidos..No dia seguinte, em Kaliningrado, o presidente e candidato à própria sucessão apontou o caminho para as novas tecnologias e armas militares: o uso para fins civis. Putin disse que todas as novas tecnologias e armas militares são o resultado de um "enorme trabalho" em favor das instituições científicas e educacionais russas, bem como das renovadas capacidades industriais.."Dá-nos esperança de que tudo possa ser aplicado e usado na esfera das indústrias civis", afirmou, tendo acrescentado que a exploração de certas tecnologias em uso civil pode exigir algum tempo..O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, negou a acusação da sua homóloga da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, de que a Rússia tenha violado tratados internacionais ao desenvolver durante uma década novas armas nucleares. Peskov recusou ainda que o discurso de Putin contribua para um maior isolacionismo do país ou que marque uma nova escalada armamentista: "A Rússia não planeia deixar-se arrastar para uma corrida às armas."