Putin a caminho do 4.º mandato presidencial

Rússia vai às urnas, a 18 de março, devendo o atual presidente ser reeleito. Opositor Alexei Navalny, impedido de concorrer, critica homem-forte do Kremlin.
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Que Vladimir Putin vai ganhar as eleições presidenciais de 18 de março ninguém parece duvidar. A única questão em aberto

é saber por quanto.

"Ele está cansado, mas também existe a impressão de que só ele é capaz de liderar e de que os políticos da oposição sabem que não têm hipóteses e de qualquer forma Putin será reeleito. É evidente um falhanço da oposição, que não consegue oferecer uma alternativa e não tem contacto com partes da sociedade russa", afirmou ao DN Stefan Meister, diretor do Centro Robert Bosch para a Europa Central e de Leste, Rússia e Ásia Central do German Council on Foreign Relations.

Putin, de 65 anos, está no poder há 18. Foi presidente três vezes, intercalando com um mandato de primeiro-ministro pois, segundo a Constituição russa, não é possível exercer mais de dois mandatos consecutivos como chefe do Estado. Talvez por isso nestas presidenciais se discuta também já quem é que poderá ser o sucessor de Putin em 2024. Nessa altura ele não poderá, segundo as regras atuais, ser candidato ao Kremlin.

"É sempre fácil mudar a Constituição num país como a Rússia. Caso isso aconteça, haverá um sucessor, que ainda não está para já decidido. Ele pode sair ao fim de novo mandato de seis anos, também pode sair a meio do tempo. Mas tal como sucedeu com [Boris] Ieltsin, será possível construir uma nova personagem, ainda não se sabe muito bem", acrescentou o especialista desta organização alemã.

"Putin tem amplo apoio de vários grupos sociais e isso está relacionado com o apoio popular que conseguiu com os seus feitos em termos de política externa. A propaganda formatou a sua imagem como o líder nacional que restaurou o estatuto da Rússia como grande potência", disse à Associated Press Lev Gudkov, líder do centro de sondagens Levada. A Rússia anexou a Crimeia em 2014 (mais propriamente no dia 18 de março), sem que UE ou os EUA tenham revertido a situação, interveio na Síria contra o Estado Islâmico e segurou Bashar al-Assad no poder. Sem que, mais uma vez, UE e EUA tenham contrariado o regime de Putin.

"A força de Putin e da Rússia nas relações internacionais deve-se em primeiro lugar à fraqueza dos EUA. Putin usa as oportunidades que a liderança americana dá para ganhar prestígio internacional. Ao mesmo tempo a liderança russa conseguiu reformar o poder militar, em 2008, permitindo a intervenção na Síria. E disso ninguém parecia estar à espera", referiu ao DN o analista Stefan Meister.

Na última sondagem do centro Levada, que foi realizada neste mês, Putin surge com 75% das intenções de voto (em 2012 foi eleito com 63,6% dos votos). "O campo político está totalmente livre. Putin domina o espaço informativo por completo", constatou Lev Gudkov à AP, notando que o presidente tem mais apoio nas zonas rurais e nas cidades pequenas onde as pessoas dependem da televisão estatal para ter acesso a informação.

Os que têm acesso à internet e às redes sociais como o Facebook, o Twitter, o Instagram ou o YouTube já conseguem contactar com outras campanhas. Como a do opositor Alexei Navalny, que está impedido de concorrer a 18 de março por ter estado preso e por ter sido condenado a cinco anos de pena suspensa por fraude. Os seus apoiantes dizem que o impedimento tem motivações políticas e teimam em conseguir as 300 mil assinaturas que cada um dos 23 potenciais candidatos tem de apresentar até 1 de fevereiro. "Se eu pudesse concorrer e ter acesso aos media" venceria estas presidenciais, disse na semana passada à AP Navalny. "Putin não tem nada de novo para dizer. Tudo o que consegue prometer é o que prometeu antes e é possível constatar que nada foi realizado e nada vai ser realizado."

Entre os candidatos, estão os veteranos Gennady Zyuganov (comunista), Vladimir Jirinovski (ultranacionalista) e Grigory Yavlinsky (liberal). Mas também a jovem Ksenia Sobchak, de 36 anos, figura conhecida da televisão e filha do ex-presidente da câmara da cidade de São Petersburgo Anatoly Sobchak. O facto de ser ele também um dos mentores políticos de Putin lança dúvidas sobre se o objetivo da candidatura da filha não é o de mobilizar os votos que iriam para Alexei Navalny. "Ela é um produto do Kremlin para desviar atenções de Navalny", disse Stefan Meister, do German Council on Foreign Relations.

Mas questionado recentemente na sua conferência de imprensa anual sobre o facto de não haver um opositor forte na Rússia em todos estes anos de Putin, o atual presidente respondeu aos jornalistas presentes na sala: "Não é minha função criar os meus próprios rivais."

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