Puigdemont envia recado a Rajoy. PP admite suspender a autonomia
O novo presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, lembrou ontem a Mariano Rajoy que este é apenas o primeiro-ministro espanhol "em funções" e representa "um projeto que está a acabar". O recado ao chefe de governo, no adeus à Câmara de Girona, surge depois de assegurar ser "leal ao presidente Artur Mas" e ao programa que prevê a independência da Catalunha dentro de 18 meses. O Partido Popular não afasta a hipótese de aplicar o artigo 155.º da Constituição, que prevê a suspensão da autonomia.
"Interessa-me o que vai dizer o projeto que terá de vir, se é que vem algum", ironizou Puigdemont, referindo-se às dificuldades para a formação de governo em Espanha (ver texto abaixo). O novo líder da Generalitat falava após a cerimónia de despedida do cargo de presidente da Câmara de Girona, que ocupava desde 2011. A tomada de posse é hoje, após ter sido comunicada por escrito a investidura ao rei Felipe VI.
O recado era uma resposta a Rajoy, que na véspera o acusou de fazer um discurso de investidura baseado na "ilegalidade" e lembrou que não permitirá que "ninguém se aproprie de poderes ilimitados (...) fora da lei e da democracia". Segundo o primeiro-ministro, "o governo não deixará passar uma só ação que suponha a violação da unidade e da soberania" de Espanha. O vice-secretário de Comunicação do PP, Pablo Casado, indicou ontem que o partido não descarta pedir a aplicação do artigo 155.º da Constituição, que prevê a suspensão da autonomia da Catalunha, ou atuar diretamente contra o novo presidente da Generalitat, caso este insista em querer declarar a independência.
Ontem, Rajoy falou ao telefone com o líder do Podemos, com quem não conseguira falar no domingo. Num comunicado, Pablo Iglesias contou que lhe sugeriu que telefonasse também a Puigdemont: "Disse-lhe que nem o unilateralismo nem o imobilismo trazem soluções e que o diálogo é a atitude mais eficaz para solucionar os problemas." O Podemos defende o direito dos catalães a decidirem num referendo a questão da independência.
A investidura de Puigdemont surge no último dia previsto na lei, depois de o Junts pel Sí ter ficado a dois deputados da maioria no Parlamento catalão. A coligação que apoiava a reeleição de Artur Mas estava dependente dos dez deputados eleitos pela Candidatura de Unidade Popular (CUP, independentista e anticapitalista), que recusaram esse apoio. Mas acabou por ceder e permitir a eleição de Puigdemont. As negociações foram, contudo, conturbadas. Ontem, a número dois da CUP, Anna Gabriel, disse que o Junts pel Sí quase deitou tudo a perder quando alegou que "a cabeça de um israelita [referência a Mas] valia pelas de dez de palestinianos".
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CALENDÁRIO
Hoje: Carles Puigdemont toma posse como presidente da Generalitat.
Amanhã: Tomada de posse dos conselheiros (ministros) do novo governo, saídos da coligação Junts pel Sí.