Puigdemont afasta novas eleições e insiste em investir Sànchez

Ex-presidente da Generalitat recebeu deputados do Junts per Catalunya em Bruxelas. No domingo, vai até Genebra para Festival de Cinema e Fórum de Direitos Humanos
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Depois de o Tribunal Constitucional ter travado a candidatura de Carles Puigdemont e de o Supremo Tribunal ter impedido a saída de Jordi Sànchez da prisão para poder ser investido presidente da Generalitat, o nome de Jordi Turull tem ganho força como eventual plano C do Junts per Catalunya (JxCAT). Mas numa reunião ontem em Bruxelas, os deputados nem terão falado no ex-conseller da presidência, que está em liberdade condicional. "Há tempo para investir Jordi Sànchez e o marco legal permite-nos", disse o porta-voz do grupo parlamentar do JxCAT, Eduard Pujol, afastando também a hipótese de novas eleições.

"Fechamos a porta a este cenário porque estamos convencidos que haverá governo e que este será capaz de garantir o dia a dia do país e o mandato dos eleitores expresso a 21 de dezembro", afirmou, quando a reunião já ia em mais de quatro horas no hotel Marivaux , em Bruxelas. Em relação à investidura de Jordi Sànchez, Pujol lembrou que o debate está suspenso, a aguardar o resultado do recurso pedido pela defesa do ex-líder da Assembleia Nacional Catalã, detido desde outubro por rebelião e sedição nos protestos prévios ao referendo de 1 de outubro.

Em relação aos eventuais atrasos que esperar por uma decisão judicial implique para a formação de governo, Pujol usou como exemplo o caso alemão e Angela Merkel para lembrar que "formar governo não é fácil". E reiterou que "haverá governo e haverá governo com a presença do JxCAT". Questionado sobre se a insistência em propor Sànchez como candidato não é dar prioridade ao conflito com o executivo espanhol, em vez de acabar com a aplicação do artigo 155.º da Constituição (que suspendeu a autonomia), o porta-voz parlamentar disse que ambas são compatíveis. "O problema do Estado espanhol é que continua a agir da mesma maneira, faça-se o que se fizer", indicou.

A lista de Puigdemont foi a mais votada entre os independentistas (34 deputados), tendo chegado a acordo de governo com a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC, 32 deputados). Juntos têm 66 deputados, mas os dois que estão em Bruxelas (Puigdemont e Toni Comín) não podem votar. Para a investidura precisam, por isso, dos quatro votos da Candidatura de Unidade Popular (CUP, radicais), que já anunciou a sua abstenção por considerar que este acordo não avança na "materialização da república catalã". A renúncia de Puigdemont e Comín ao cargo de deputado resolveria a situação, garantindo a maioria simples face aos 65 deputados das outras formações políticas. Pujol rejeitou contudo a hipótese de Puigdemont renunciar ao cargo: "Seria uma contradição alterar a vontade dos cidadãos porque sabem que temos dois deputados que não podem votar", indicou.

Esta foi a terceira reunião dos deputados do JxCAT com Puigdemont, que se autoexilou em Bruxelas após a declaração unilateral de independência para não responder diante da justiça espanhola. É acusado, junto com os ex-membros do governo (dois deles detidos), de rebelião, sedição e peculato na organização do referendo de 1 de outubro e consequente declaração unilateral de independência.

Em mais uma ação para internacionalizar o processo independentista catalão, o ex-presidente da Generalitat viaja este domingo para a Suíça, para participar no Festival de Cinema e Fórum Internacional sobre Direitos Humanos de Genebra. No encerramento do festival será projetado o documentário Catalunha: Espanha à beira de uma crise de nervos, da autoria de Sylvain Louvet, Gary Grabli e Julie Peyrard para o canal Arte. Depois do filme, haverá um debate que, segundo a organização, contará com a presença da ex-chefe da diplomacia suíça, Micheline Calmy Rey (que esteve na presidência rotativa do país em 2007 e 2011). Puigdemont dará uma conferência de imprensa na cidade, onde também está a ex-deputada da CUP, Anna Gabriel.

O governo suíço lembrou ontem em comunicado que a questão da Catalunha é um assunto da política interna de Espanha e que a "visita privada" do ex-presidente da Generalitat se dá ao abrigo da livre circulação de pessoas. "Como cidadão espanhol, Puigdemont pode circular livremente no espaço Schengen", diz o texto do Departamento Federal de Negócios Estrangeiros, explicando que o catalão está autorizado a pronunciar discursos políticos respeitando o ordenamento jurídico suíço.

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