Puidgemont toma posse sem jurar fidelidade ao rei ou à Constituição

Novo presidente da Generalitat responde assim à decisão de Felipe VI de não receber a líder do Parlamento catalão nem agradecer a Artur Mas pelos "serviços prestados"
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"Promete cumprir lealmente as obrigações do cargo de presidente da Generalitat com fidelidade à vontade do povo da Catalunha representado pelo Parlamento?" Carle Puigdemont respondeu "sim, prometo" à pergunta inédita - que pela primeira vez não incluía qualquer referência ao rei Felipe VI, à Constituição espanhola ou ao estatuto de autonomia - e tornou-se assim no 130.º líder do governo catalão. Aquele que espera, dentro de 18 meses, declarar a independência.

A ausência da referência ao rei é uma resposta de Puigdemont e da presidente do Parlamento, Carme Forcadell (a responsável por ler a pergunta na cerimónia de tomada de posse), à recusa de Felipe VI em a receber oficialmente para comunicar a investidura do sucessor de Artur Mas. O monarca pediu para ser informado apenas por escrito - o seu pai, o rei Juan Carlos, também tinha feito o mesmo em 2012, após a eleição de Mas, mas numa altura em que recuperava de uma operação e era preciso limitar a agenda.

Para agravar o mal estar, Felipe VI e o governo de Mariano Rajoy não cumpriram a tradição de agradecer os serviços prestados ao presidente cessante no decreto de nomeação do novo líder catalão, publicado ontem no Boletim Oficial do Estado. Segundo a Casa Real, a decisão de o fazer partiu do governo e não do monarca.

[citacao:Deixo a presidência da Catalunha com uma enorme tranquilidade]

O próprio Artur Mas, que discursou no início da cerimónia, fez referência ao caso quando agradeceu aos colaboradores e conselheiros (ministros): "Eu sim agradeço a todos pelos serviços prestados", disse, desencadeando uma ovação no salão Sant Jordi no palácio da Generalitat. "Deixo a presidência da Catalunha com uma enorme tranquilidade", reconheceu Artur Mas, que só no último momento do prazo abdicou de ser reeleito para evitar novas eleições que podiam pôr em causa o processo independentista.

Retórica náutica

"Ao novo governo, em especial ao presidente, agradeço ter aceitado o desafio de ser o 130.º presidente da Catalunha nestes momentos transcendentes", indicou, desejando-lhe "muito boa singradura" (bom caminho) esperando que leve os catalães "a bom porto". "Não seria eu se não acabasse o meu discurso com alguma referência de marinheiro", lembrou.

As metáforas náuticas continuaram mais tarde no discurso do sucessor. "Vimos de uma viagem muito longa, na qual nos aconteceram muitas coisas, mas não estamos cansados", disse Puigdemont, referindo-se não só ao longo processo de negociações para a formação de governo após as eleições de 27 de setembro, mas também ao processo independentista que começou há vários anos. Depois citou o poeta turco Nazim Hikmet para explicar a esperança que tem no futuro: "O mais belo dos mares é aquele que ainda não vimos."

Alegando que a Catalunha está "afogada financeiramente", Puigdemont alegou ser necessário "mudar as ferramentas de que dispomos" e dar à Catalunha ferramentas próprias. "Temos que envolver mais pessoas. E garantir a viabilidade jurídica de todas as decisões que vamos tomar", indicou o líder da Generalitat. E acabou o discurso, que foi aplaudido de pé, com um "visca Catalunya" (viva a Catalunha, em catalão). Na praça de Sant Jaume ouviram-se gritos de independência.

Novo governo

Hoje, será a vez dos 13 conselheiros (ministros) do novo governo catalão tomarem posse. A maioria são estreantes, sendo que apenas dois tinham entrado com Artur Mas após as eleições de 2012 e outros dois estavam na Generalitat apenas desde julho, quando a União Democrática da Catalunha abandonou o governo. Cinco são mulheres.

O novo executivo está dividido em três grandes áreas. Oriol Junqueras, presidente da Esquerda Republicana da Catalunha, será o único vice-presidente e assumirá a titularidade da pasta da Economia e Finanças. Neus Munté volta a ser porta-voz e estará à frente da Presidência. O triunvirato fica completo com Raül Romeva, ex-eurodeputado da Iniciativa para Catalunha Verdes, nas Relações Externas.

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