Publicitário inventa "Bora Temer" para combater onda "Fora Temer"
O Palácio do Planalto prepara um contra-ataque em forma de recado publicitário à onda de manifestações contra o recém-empossado Michel Temer, do Partido do Movimento da Democracia Brasileira (PMDB), que nos últimos dias foi vaiado num protesto no domingo com mais de cem mil pessoas em São Paulo, nas celebrações do 7 de Setembro, dia da independência do Brasil, e na cerimónia de abertura dos Jogos Paralímpicos, no Maracanã, no mesmo dia. Aos atos conhecidos como "Fora Temer", que vão prosseguir nos próximos dias e podem acabar numa greve geral, o marqueteiro do PMDB e do governo vai contrapor a expressão de incentivo "Bora Temer".
"Não há vacina melhor contra os desaforos da oposição, é importante o "bora" crescer", disse Elsinho Mouco, ao Folha de S. Paulo. Além do "Bora Temer", Mouco criou também um slogan mais agressivo para uso nas redes sociais, nas quais o debate político no Brasil tem sido mais intenso, que é o "Fora Ladrão" para responder aos simpatizantes do Partido dos Trabalhadores (PT) que mencionem a expressão "Fora Temer". "Campanha negativa não leva a nada, por isso a nossa prioridade é o "bora", mas não podíamos deixar de ter um slogan pela negativa também", afirmou o publicitário, para quem "a campanha não é direcionada a Dilma". "Quem grita "Fora Temer" não são os dilmistas, são os que estão perdendo o tacho e os convertidos do PT", acusou.
O marketing é apenas um dos lados da estratégia de Temer para estancar a imagem negativa que vem carregando, fruto de não ter a legitimidade do voto e de prometer medidas impopulares. Membros do núcleo político do presidente querem tornar pública o quanto antes "a caixa preta" da situação económica deixada pelo governo Dilma para gerar uma situação de rutura entre um e outro governos e evitar que a crise contagie também o PMDB, que afinal foi parceiro do PT nos últimos 13 anos. "Como ele não teve direito a lua-de-mel com o povo, ou abre a caixa-preta agora e distancia-se ou será tarde demais", disse um dos conselheiros de Temer à Globo.
Outro ponto da estratégia é nunca mais menosprezar a dimensão das manifestações porque essa tática pode ter efeito contrário ao desejado - ainda na reunião do G20 na China, o presidente disse que os protestos levariam apenas "40 pessoas às ruas" e se traduziriam "num carro ou outro vandalizado", enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros, José Serra, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), acrescentou à imprensa que seria "uma mini, mini, mini, mini, minimanifestação". Avaliam agora os governistas que essas provocações estimularam a oposição a levar cem mil à Avenida Paulista, sob os olhos do Brasil e do mundo.
Como disse Dilma Rousseff, no primeiro discurso após a sua destituição, "não queria estar na pele dos que se julgam vencedores deste processo". "Sofrerão uma oposição como nunca antes nenhum outro governo golpista sofreu", disse a petista. E, em declarações ao DN, Douglas Izzo, presidente em São Paulo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), braço sindical do PT que reúne mais de 22 milhões de trabalhadores, e coordenador da Frente Brasil Popular, que promove os protestos "Fora Temer", confirma que "o presidente golpista não vai ter sossego".
"Estão previstos uma caminhada do Largo da Batata até casa dele, uma manifestação na Avenida Paulista e acampamentos nos dias 12, 13 e 14 em Brasília para lutar contra a retirada de direitos dos trabalhadores, e no dia 22 estamos a preparar uma paralisação que servirá de "esquenta" da greve geral que temos planeada para depois das eleições municipais de outubro", disse Izzo.
A discussão e a votação da reforma da Previdência (Segurança Social), prevista também pela base aliada de Temer no Congresso Nacional para depois das municipais para não prejudicar os candidatos próximos do governo, deve ser a data escolhida pela CUT, pelo Movimento dos Sem Terra e pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto para os protestos mais radicais. "O "Fora Temer" não vai parar", concluiu o sindicalista.
Em São Paulo
[artigo:5170575]