PSP de Lisboa tem novo comandante. É perito em informações policiais e mestre em estratégia

Cumprindo, pelo menos, dois dos desígnios anunciados para a PSP do novo diretor nacional Barros Correia - a do rejuvenescimento e o de uma nova era de cooperação com outras forças e serviços de segurança - Luís Fiães Fernandes foi nomeado comandante do COMETLIS. Luís Carrilho, o atual chefe de Segurança da Presidência da República, vai comandar a Unidade Especial de Polícia.
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Luís Fiães Fernandes, 56 anos, superintendente do 3º curso de oficiais de polícia, será o novo comandante do Comando Metropolitano de Lisboa (COMETLIS), o maior do país que gere cerca de 7000 polícias.

A sua nomeação foi confirmada em comunicado oficial do ministério da Administração Interna (MAI), que informa ainda sobre a escolha do superintendente Luís Carrilho para comandar a Unidade Especial de Polícia (UEP), o grupo de elite desta força de segurança.

O novo diretor nacional da PSP, José Barros Correia, continua a movimentar as peças no seu "tabuleiro" de comandos por todo o país, em articulação com o ministro José Luís Carneiro, tentando preencher as expectativas de "rejuvenescimento" e também de encontrar oficiais que promovam a colaboração e sinergias com as outras polícias.

Tanto Fernandes como Carrilho são do 3º curso e vão ocupar funções antes preenchidas por superintendentes chefe e, pelo menos, Fiães Fernandes tem provas dadas na sua carreira de que defende a cooperação policial.

"A prevenção e o combate ao terrorismo não é atribuição de uma única polícia. Só se consegue prevenir o terrorismo apostando na cooperação entre todos os parceiros que compõem os vários sistemas, quer seja o de Segurança Interna, quer o de Informações da República, quer a Investigação Criminal. Só com a participação de todos, com uma visão sistémica na prevenção e combate é que conseguimos atingir os resultados pretendidos. Nenhuma polícia sozinha, seja a PJ, a PSP ou a GNR, consegue potenciar ao máximo a sua capacidade preventiva", sublinhou o novo comandante da PSP de Lisboa numa entrevista ao DN, quando era o Diretor do Departamento de Informações Policiais (DIP).

Foi nas informações policiais, que esteve boa parte do seu percurso profissional, primeiro como responsável pela Divisão de Análise de Informações do Departamento de Informações da Direção Nacional da PSP; depois na Divisão de Gestão de Matérias Classificadas nesse mesmo departamento; seguido do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), onde assessorou o secretário-geral e, por fim, como diretor do DIP.

Foi pioneiro na PSP nos primeiros "mapeamentos" da criminalidade, definindo "hot spots" e antecipando tendências para a gestão dos patrulhamentos.

Uma competência que não terá passado desapercebida a José Luís Carneiro porque um dos maiores desafios que Fiães Fernandes terá é reorganizar o dispositivo de Lisboa, incluindo encerrar algumas esquadras, cumprindo finalmente um plano que está anunciado desde 2012, com a garantia de que haverá mais polícias nas ruas.

O recurso às novas tecnologias e à analise de informações, que certamente o novo comandante potenciará, serão essenciais para este novo paradigma.

É um oficial superior bem conhecido do poder político, pois também assessorou ministros da Administração Interna, tanto do PS (a começar por António Costa, Nuno Severiano Teixeira e Rui Pereira) como do PSD (Daniel Sanchez).

É atualmente Diretor do Departamento de Sistemas de Informação e Comunicações, depois de ter estado três anos nas funções de oficial de ligação na Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia (REPER), em Bruxelas.

Natural de Caneças, filho único, é casado e tem um filho. É visto pelos seus pares como um "estudioso" da Segurança Interna.

É doutorando na Universidade Nova de Lisboa, mestre em Estratégia pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e pós-graduado em Ciências Políticas e Internacionais, pela Faculdade de Direito de Lisboa, além da licenciatura em Ciências Policiais pelo Instituto da PSP.

Têm vastos conhecimentos na área da informática e do terrorismo e vários livros e artigos publicados, sendo recomendado e citado na esfera académica e por especialistas.

Outro desafio que terá de enfrentar nesta nova missão é mais pessoal. É tido como uma pessoa "fechada, muito focada nas bases de dados e sistemas de informações". Com uma força de sete milhares de polícias, o superintendente Fiães Fernandes terá de se habituar a tirar os olhos dos computadores e sair à rua também.

No caso de Luís Carrilho, criar empatia com o seu efetivo não será certamente um problema. Apesar de ter estado fora do país durante cerca de 15 anos, em várias missões das Nações Unidas, a sua popularidade entre outros oficiais da PSP nunca diminuiu e o seu nome era até um dos favoritos para diretor nacional.

"É um profissional de créditos firmados e reconhecidíssimo quer em Portugal quer no Estrangeiro. Pelas funções desempenhadas tem excelentes relações na área da Segurança Interna e na política. Inteligente, prático, empático, cordial e bem-humorado a sua ação de comando tem sido até hoje bem aceite e com muito bons resultados. Na licenciatura foi o primeiro classificado e é por todos considerado como o seu líder natural.", sintetiza um superintendente do seu curso.

Carrilho foi Conselheiro de Polícia das Nações Unidas (UNPOL) e Diretor da Divisão de Polícia no Departamento de Operações de Paz da ONU em 2017, tendo coordenado em 2018 e 2022 as reuniões do "UNCOPS - United Nations Chiefs of Police Summit".

Foi comandante da Polícia das Nações Unidas em três operações de manutenção da paz: na Missão Multidimensional de Estabilização Integrada na República Centro-Africana (MINUSCA) de 2014 a 2016; na Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH) de 2013 a 2014; e na Missão Integrada das Nações Unidas em Timor-Leste (UNMIT) de 2009 a 2012.

Entre 1996 e 1998 serviu na Missão das Nações Unidas na Bósnia e Herzegovina (UNMIBH) e entre 2000 e 2001 na Administração Transitória das Nações Unidas em Timor-Leste (UNTAET), onde foi o primeiro Diretor da Academia da Polícia Nacional de Timor-Leste.

Em Portugal, resume o seu curriculum oficial, é atualmente Chefe do Serviço de Segurança e Oficial da Segurança do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, funções que também já tinha desempenhado com Cavaco Silva em Belém.

Foi também o comandante do Corpo de Segurança Pessoal da PSP, comandante da Esquadra de Santa Apolónia, e comandante da "super-esquadra" dos Olivais - onde esteve também o diretor nacional, nas "brigadas de Justiça".

Luís Carrilho, 57 anos, é casado e tem 2 filhas (uma delas jornalista na CMTV). O pai era chefe da PSP.
Natural da ilha de Santa Maria, nos Açores, mas viveu toda a juventude em Campo de Ourique.

Tem uma pós-graduação em Ciência Política e Relações Internacionais pela FCSH. É membro do "UNITAR Advisory Board of the Peacekeeping Training Programme".

Tem diversas condecorações nacionais e estrangeiras (Brasil, Espanha, França, Timor-Leste, Perú, Polónia, Áustria, etc.), incluindo Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, atribuída por Cavaco Silva e o "Outstanding Role Model Award" atribuído pelo Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-Moon, em 2015.

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