PSOE responde a Felipe González: "Pactuar com o PP é indultá-lo"

Ex-primeiro-ministro socialista disse que "nem PP nem PSOE deviam impedir que o outro governe", chamando "irresponsável" a Rajoy por recusar ir à investidura mas não se retirar
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Os socialistas espanhóis estão firmes na recusa de pactuar com Mariano Rajoy e permitir um governo liderado pelo Partido Popular (PP). E nem as palavras do ex-primeiro-ministro Felipe González (1982-1996) numa entrevista ao El País - "nem PSOE nem PP deveriam negar a possibilidade de um governo para Espanha se não estão em condições de o fazer com as suas propostas e programas" - parecem fazer o partido mudar de ideias. "Pactuar com o PP é indultá-lo", reagiu o número dois do PSOE, César Luena.

"Apoiar o PP, entendermo-nos com o PP em relação ao governo, é uma forma de o indultar e branquear em relação à corrupção", defendeu o secretário de Organização do partido. "O PP tem de pagar na oposição o que fez sistematicamente durante muitos anos para que se regenere e contribua para a regeneração da democracia", acrescentou Luena em declarações à Tele 5.

Foi esta a reação do PSOE à entrevista de González, na qual este defendeu um "governo progressista e reformista". E não excluía a ideia de um governo do PP com o Ciudadanos e a abstenção dos socialistas. "Se os partidos políticos estivessem a falar de programas de governo e não de aritméticas parlamentares incompatíveis num todo ou em parte com um governo estável, seria menos complicada a resposta", disse, questionado sobre qual seria a melhor solução de governo.

González diz que é "indiscutível" que PSOE devia dialogar com o PP, apesar de admitir que isso não significa que "haja margem para um acordo depois da experiência de governo de Mariano Rajoy". Em relação ao líder do PP, o ex-primeiro-ministro foi bastante crítico: "Essa jogada de recusar a investidura e ao mesmo tempo dizer que não se retira é de uma irresponsabilidade difícil de qualificar." Rajoy alegou que ainda não tinha maioria e criticou o secretário-geral socialista, Pedro Sánchez, por não aceitar negociar.

"Eu não sou um obstáculo, o obstáculo é Pedro Sánchez, que quer ser primeiro-ministro e exijo que aclare e decida já se quer governar com o Podemos ou permitir que governe o PP", disse ontem Rajoy numa conversa informal com jornalistas. "A chave está nas mãos de Sánchez e o que deve fazer é decidir com quem quer governar", acrescentou.

Arrogância do Podemos

Na entrevista ao El País, González defendeu que o "comportamento arrogante dos líderes do Podemos não dever ser aceite", acusando a formação emergente e "querer liquidar, não reformar, o marco democrático de convivência". Segundo o ex-chefe de governo, o Podemos é "puro leninismo 3.0".

Pablo Iglesias reagiu na Rádio Nacional de Espanha, lamentando que González esteja hoje "alinhado" com a "retórica" do PP. O líder do Podemos disse temer que as posições do ex-primeiro-ministro acabem por se impor" no PSOE - que deverá decidir amanhã, numa reunião do comité federal, uma possível aliança com o Podemos. Isso seria "muito dececionante" para os socialistas "que votaram na mudança".

Albert Rivera, do Ciudadanos, subscreve "a 100%" as críticas de González a Rajoy. E defendeu que os interesses nacionais devem ser superiores aos pessoais. "Espanha é muito mais do que Sánchez, Rajoy, Rivera ou Iglesias. Ninguém está à frente do seu país", referiu.

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