É uma espécie de consenso que vai marcar a audição de hoje do diretor de informação da TVI na comissão parlamentar de inquérito (CPI) à gestão e resolução do Banif: PSD, PS e BE querem que Sérgio Figueiredo revele a(s) fonte(s) da notícia de que o Banif estaria prestes a ser intervencionado e de que estava inclusivamente "tudo preparado" para que o banco fechasse..A 13 de dezembro do ano passado, a TVI 24 passava em rodapé, como notícia de última hora, essa informação e adiantava mesmo que poderia haver perdas significativas para os depositantes, o que provocou uma fuga maciça de depósitos e fez cair por terra uma já débil situação de liquidez do banco fundado por Horácio Roque..Tendo em conta o impacto dessa informação nos derradeiros dias (antes da resolução e da venda ao Santander Totta) do Banif, os deputados querem saber de onde surgiu a informação e que tratamento jornalístico lhe foi dado. O coordenador do PSD na CPI, Carlos Abreu Amorim, já tinha dado o tiro de partida. "Ainda tenho a esperança de que o Dr. Sérgio Figueiredo nos dê pistas sobre quem lhe deu a informação e por que motivo lha deu. Isso é muito importante para encontrar a verdade neste caso", afirmava na edição de 28 de abril da revista Sábado. Outro interlocutor social-democrata nota que esse é um ponto incontornável. "Há um interesse generalizado em perceber quem é a fonte", explica ao DN..À revista Sábado, Abreu Amorim subia o tom e avisava que o cenário em que Sérgio Figueiredo colabore com a investigação parlamentar será o "mais saudável". E sinalizava que o silêncio não deverá passar impune: "O regime jurídico aplicado é muito claro a respeito deste tipo de situações. Se um tribunal de segunda instância [Tribunal da Relação] considerar que a revelação da fonte de informação da notícia em causa é fundamental para esclarecer a verdade dos factos, a pessoa em causa terá de o fazer.".Por sua vez, uma fonte do PS adianta que o partido considera que essa é uma questão relevante, que não deverá ficar sem resposta. Mas há mais: os socialistas pretendem apurar se nesse domingo à noite houve alguma conversa entre alguém da TVI e o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa..A bancada rosa tenciona apurar ainda se as regras deontológicas do jornalismo foram cumpridas, em particular se aquela informação foi confirmada junto de várias fontes..E o BE alinha com sociais-democratas e socialistas. "Não quero perceber só quem foi a fonte da TVI; quero perceber também o processo de formação da notícia, ou seja, de onde veio, como foi confirmada e o porquê da escolha de a dar daquela forma e não de outra", sublinha a deputada Mariana Mortágua, ao DN..Já o CDS deverá ser mais cauteloso. O DN sabe que os centristas serão insistentes no apuramento dos contornos em que a informação veio a público, embora considerem a revelação da fonte um aspeto de menor importância. Até porque estão cientes de que os jornalistas estão obrigados a proteger as fontes confidenciais - a exceção prevista no código deontológico reside nas tentativas de utilização dos profissionais de comunicação social para veicular informações comprovadamente falsas..Da parte do PCP não foi possível apurar qual será o principal foco das perguntas que serão feitas nesta tarde ao diretor de informação da TVI e da TVI 24..Ora, a motivar a presença de Sérgio Figueiredo na Sala 1 da Assembleia da República (a partir das 17.30), onde têm decorrido os trabalhos da CPI, está a notícia de 13 de dezembro, por volta das 22.00, alterada momentos depois com mais pormenores - aí já não se referia o encerramento do Banif. A TVI pediu desculpa pelo episódio, mas o Banif anunciou que estava a preparar uma ação contra a estação de Queluz de Baixo..No entanto, foram precisos cinco meses para o processo avançar. O resto é história. Nos dias seguintes à informação, houve uma fuga de depósitos de quase 900 milhões de euros, o que terá contribuído para a resolução ao banco (e subsequente venda por 150 milhões de euros ao Santander) comunicada pelo Banco de Portugal a 20 de dezembro. "Uma doação", notaram na altura os mais críticos..A tese é, de resto, veiculada por vários protagonistas do colapso do Banif. Jorge Tomé, ex-presidente daquela instituição, por exemplo, não deixou margem para dúvidas quando passou pela comissão ao vincar que esse relato "deixou o banco numa posição muito delicada", obrigando-o "a recorrer à famosa ELA", a linha de liquidez de emergência disponibilizada pelo Banco de Portugal. E foram mais de mil milhões de euros de apoio..A resolução, essa, implicou uma injeção de 2255 milhões de euros de dinheiro público e a aprovação em tempo recorde do Orçamento Retificativo para 2015.