PSD recua e admite que "circunstâncias extraordinárias" podem justificar posição do Governo

Fernando Negrão abre jornadas parlamentares do PSD pedindo ao executivo que peça "desculpas" aos professores e recomece de "boa fé" negociação com os sindicatos
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O PSD, que tem estado ao lado dos sindicatos nas exigências de contagem total do tempo congelado nas progressões de carreira, já começa a admitir que podem haver razões para o Governo não alinhar nessa exigência.

Abrindo, na Guarda, as jornadas parlamentares do PSD, Fernando Negrão, líder da bancada 'laranja, começou por dizer que a prática do Governo nesta matéria é reveladora da sua "política de enganos" (porque admitiu que "não há dinheiro" para cumprir o que antes tinha prometido, ou seja, "prometeu e agora vem dizer que não pode cumprir").

A seguir acrescentou: "O prometido é devido ou, como diz o primeiro-ministro António Costa, palavra dada, palavra honrada". E depois a frase que denuncia um recuo, isto é, a possibilidade de o PSD aceitar que de facto não é possível ao Governo ter meios para acudir às exigências dos professores (700 milhões de euros/ano, segundo o PM): "Só circunstâncias extraordinárias podem justificar que assim não seja" [que a promessa não seja cumprida]. Como meio para salvar a face, Negrão fez duas exigências ao Governo: que peça "desculpas aos professores" e que "recomece de boa-fé as negociações com os sindicados.

Quanto às propostas do seu partido no capítulo da demografia, disse que serão discutidas dia 27 na AR, deixando também um desafio aos restantes partidos (mas "a começar pelo PS"): "Abertura de espírito para o diálogo."

Mais tarde, no final de uma visita aos bombeiros da Guarda, Negrão seria mais explicito a admitir que a posição do PSD pode ir ao encontro da posição do Governo. Fê-lo admitindo que o PSD pode votar em convergência com o Executivo na AR contra uma iniciativa legislativa popular que pede o pagamento integral aos professores do tempo de carreira congelado: "Se a explicação [do Governo] for convincente isso pode acontecer", disse.

Voltou, no entanto, a salientar as exigências do PSD: "Se o Governo mantiver a sua posição e explicar e for compreensível que esta é uma situação extraordinária porque não há dinheiro, então tem de pedir desculpa aos professores porque prometeu e não cumpriu." Ou, dito de uma forma, em relação à postura crítica que o PSD agora assume: "Se houver uma explicação do Governo de que de facto não há dinheiro e o Estado não pode suportar esta despesa, a situação aí muda."

Pedrógão Grande: "O Governo, hoje, continua a falhar"

Aproveitando o facto de estar hoje a passar um ano sobre os incêndios de Pedrógão, Negrão fez um diagnóstico muito sombrio da atuação governamental.

Como exemplo deu o da reconstrução das casas destruídas pelos fogos: "pouco mais de um décimo do total". E ainda o facto de, no capítulo do combate aos fogos, a força especial da GNR continuar, alegadamente, sem material de proteção individual e "sem uma única viatura média e pesada". Portanto: "O Governo, o ano passado, falhou aos portugueses! O Governo, hoje, continua a falhar!"

No capítulo do SNS, disse, citando números de investimento e sobre as dívidas, que o Governo também "falha". Referindo especificamente o caso da Guarda, citou casos de falta de médicos nas unidades no distrito - e para dizer que o Governo nada faz porque só atua em função do "peso eleitoral de cada grupo, de cada região e de cada região". "Infelizmente para o interior, como aqui há cada vez menos eleitores, o dr. António Costa não perde muito tempo a pensar neles."

No início das jornadas, antes de Negrão falaram Álvaro Amaro (presidente da câmara da Guarda e da organização nacional dos autarcas do PSD) e o deputado Carlos Peixoto, presidente da distrital do partido.

Embora reconhecendo que hoje a situação no interior "é melhor" do no passado, Amaro exigiu "coragem política" ao PSD para que tome "medidas" que providenciem "mais oportunidades a estes territórios". E fê-lo dizendo que pouco lhe importa que o PSD que o faça seja de "uma social-democracia mais reformista, mais conservadora ou mais liberal".

O autarca e dirigente 'laranja' insistiu também na ideia de que o Governo tem de ser responsabilizado pelos incêndios do verão passado e respetivas consequências. "Têm de carregar com isto, tem de lhes ser imputado isto."

Já Carlos Peixoto sugeriu que a orgânica do Governo deveria consagrar um ministério para o interior, queixando-se também de não haver no Parlamento nenhuma comissão especialmente dedicada ao assunto.

Peixoto falou também da "coragem" que é necessária ao PSD para lançar propostas no capítulo da desertificação do interior, dizendo que o partido "tem de impor uma agenda" e que há "imensas medidas legislativas" suscetíveis de serem apresentadas.

[Notícia atualizada às 17.55 com afirmações de Fernando Negrão no final de uma visita aos bombeiros da Guarda]

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