PS, PSD e CDS a correr contra a abstenção. O resto a correr contra o PS

A campanha para as legislativas de 6 de outubro arranca este domingo. PS à procura da maioria absoluta. PSD e CDS a tentar contrariar a "crise da direita". BE a querer reforçar o peso político e o PCP a tudo fazer para não o perder, aliados num ataque ao PAN, que conquista o eleitorado focado no ambiente.
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Desta vez Marcelo Rebelo de Sousa nem teve de fazer aquele tradicional apelo dos Presidentes da República à civilidade entre partidos na corrida às legislativas. Os líderes partidários perceberam que a "agressividade" política, que marcou outras campanhas já não colhe votos. E, por isso, entram hoje na reta final, e oficial, da campanha eleitoral até 6 de outubro a marcar o terreno mais com propostas do que com picardias aos adversários e com estratégias bem afinadas. E três forças, PS, PSD e CDS lutam mais contra a abstenção do que todos os outros.

A coincidência do arranque oficial da campanha eleitoral para a Assembleia da República com o dia das eleições regionais na Madeira vai ditar muito que acontecerá neste primeiro dia em que os líderes vão andar em força no terreno. Em Lisboa, os partidos vão explorar os resultados consoante as conveniências, numa disputa mais renhida entre os sociais-democratas e os socialistas.

As sondagens, que todos desvalorizam, também têm dado os indicadores para afinar as estratégias com os partidos se dirigem aos portugueses. Por exemplo, as forças mais à direita, já perceberam que havia uma desmobilização dos respetivos eleitorados, que se mostravam desencantados tanto com Rui Rio como com Assunção Cristas. O sucesso de ambos nos debates televisivos pode ter sido um ponto de viragem e um incentivo para que haja maior combatividade a tentar contrariar os abstencionistas de centro-direita.

Mas também António Costa, que estará nesta campanha na dupla condição de primeiro-ministro e líder do PS, tem tudo a ganhar no combate à abstenção, sobretudo do eleitorado do centro. Só assim pode aspirar a uma maioria absoluta que nunca irá pedir. "Dar força ao PS" quer dizer o mesmo, sem os apelos demasiado dramáticos e mais condizentes com o tom soft desta campanha. Ainda que BE e PCP precisem de travar a ascensão dos socialistas, se quiserem manter-se na ribalta do poder e influenciar as decisões governativas nos próximos quatro anos.

Que tem como novidades pequenos partidos que nasceram à direita, e que sem grande expressão nas eleições europeias, tentam agora um salto maior rumo a São Bento. C omo é o caso da Aliança de Santana Lopes, da Iniciativa Liberal, do Chega de André Ventura, ou até o PDR de Marinho e Pinto, que tem como cabeça de lista em Lisboa Pardal Henriques, que se celebrizou durante a greve dos motoristas das matérias perigosas como porta-voz do sindicato que os representa.

O BE é a "obsessão" de Costa

António Costa andará este domingo em Espinho, num passeio descontraído em contacto de rua. O líder do PS, que não é dos melhores políticos em campanha eleitoral, procurará nestas duas semanas o contacto direto com a população, mais do que em almoços com militantes, num roteiro que é mais centrado no litoral do que no interior. Não só porque Costa já andou nesses distritos na fase de pré-campanha como é na faixa litoral que se concentra a maior população e aquela que lhe pode ajudar a dar a tal "força", leia-se maioria absoluta, a 6 de outubro. A campanha socialista encerra no Porto.

E é precisamente porque tem esse objetivo de ter mais de metade dos deputados no Parlamento, que o líder do PS tem elegido - e deverá continuar a eleger - um alvo improvável durante a campanha, no caso o Bloco de Esquerda. Mais do que o PSD, adversário direto, são os bloquistas que têm crescido nas tendências de voto expressos nas sondagens e são eles que poderão roubar a possibilidade de Costa conseguir gerir um governo sem uma geringonça.

A mensagem da campanha é que o PS para aprofundar o que conseguiu fazer nestes quatro anos precisa de o fazer sem a amarra dos partidos mais à esquerda, sobretudo do BE, que criou mais engulhos à governação de António Costa e até já tem um novo caderno de encargos para a próxima legislatura.

A campanha alternativa de Rio

O líder do PSD arranca verdadeiramente para o período de campanha oficial dia 24, segunda-feira, após ter fechado todos os debates, e nos distritos de Setúbal e Faro. Este domingo ficará pelo Porto, cidade natal, onde irá comentar o resultado do PSD na Madeira, que pode ser um primeiro empurrão para a dinâmica do partido a nível nacional.

Rui Rio avisou que a sua campanha eleitoral não iria seguir os moldes tradicionais, que considerava obsoletos e pouco eficazes, logo na noite em que assumiu um mau resultado nas europeias. É por isso, que aposta num modelo que entende capaz de combater os indecisos e os que estão reticentes em ir às urnas. O número de jantares-comício foi reduzido ao mínimo e aposta em talks (sessões de perguntas) em vários distritos, abertas a militantes e simpatizantes, mas com perguntas selecionadas e capazes de não lhe estragarem a mensagem.

A rota da campanha é muito ziguezagueante e bate quase todos os distritos. Neste sobe, desce e cruza o país, sendo o encerramento em Lisboa, Rio terá que convencer o eleitorado de centro que consegue fazer melhor do que António Costa no crescimento da economia e nas condições de vida dos portugueses. É por isso que a aposta na descida dos impostos é a mais importante de todas, numa eleição em que Rio joga o seu futuro político.

Cristas à procura do resultado de Lisboa

Tal como Rio, Assunção Cristas joga tudo na tentativa de contrariar os abstencionistas de centro-direita, os que não se têm revisto nos dois partidos e perante uma expectável vitória do PS decidem não ir votar. A presidente centrista, que estará este domingo em Santarém, acena com o papão do perigo de um Parlamento dois terços à esquerda, que "empobrecerá o país".

Após o mau resultado das europeias, Assunção corre agora à procura de um resultado como o que obteve nas autárquicas em que foi cabeça de lista em Lisboa, mas a tarefa não parece fácil se as sondagens estiverem próximas da realidade. Motivo pelo qual a líder do CDS, que tem andado sempre na estrada, volta a bater os principais distritos, e alguns no mesmo dia, como é o caso do último dia de campanha em que estará no Porto, Leiria, Setúbal e Lisboa.

Assunção Cristas tem a desvantagem de não ter uma máquina muito forte do CDS implantada no país, o que dificulta a mobilização do eleitorado, e a obriga a um esforço superior nesta tentativa de convencer o eleitorado que tem propostas alternativas ao governo socialista. Contará com o apoio de alguns pesos-pesados do partido, provavelmente com o de Paulo Portas, na última semana de campanha, A descida de impostos também será uma das suas bandeiras fortes. A líder do CDS também tem a sua liderança em causa se os resultados eleitorais forem maus para o partido.

Catarina "faz acontecer"

O Bloco de Esquerda foi dos parceiros do governo o que mais capitalizou ganhos da geringonça. "Faz acontecer", o lema com que Catarina Martins parte para a campanha, que arranca em Lisboa, mais precisamente em Queluz, remete precisamente para essa ideia de que foi ao BE que se deveram as grandes medidas dos últimos quatro anos. Com isso, a líder do BE nem precisa propriamente de atacar nenhuma força, embora as críticas à tibieza do PS estarão presentes para dar maior legitimidade no voto útil no partido.

Catarina Martins concentrará as ações de campanha, como é óbvio, nos distritos onde o BE recolhe mais votos e consegue mais deputados, precisamente os do litoral e em particular Lisboa, Porto e Setúbal. No Porto, por exemplo, onde a líder do BE é cabeça de lista, o jantar na Alfândega, marcado para dia 3 de outubro, vai contar com a presença do fundador e ex-líder do partido Francisco Louçã.

A competição com o PCP também se intensificará em Setúbal, onde o BE encerrará a campanha e onde Catarina Martins tem uma arruada e um jantar-comício neste distrito onde subiu o número de eleitores em relação às últimas legislativas de 2015. As bandeiras de BE passam muito pela melhoria das condições sociais dos portugueses, conjugadas com a defesa dos direitos das minorias. E mais do que o PS, é no PAN que o BE coloca a mira, porque também é uma força que tem potencial de crescimento nestas eleições de 6 de outubro.

Jerónimo a tentar libertar-se do abraço de urso do PS

Ao invés do BE, o PCP aparece nas sondagens em queda e aparentemente penalizado por ter integrado a geringonça, apesar de Jerónimo de Sousa contrariar essa ideia. O secretário-geral do PCP, que estará em Lisboa neste primeiro dia oficial de campanha eleitoral, aposta nos distritos que mais votos têm dados aos comunistas, muitos no litoral e no sul do país, e com uma intensidade maior que os outros partidos.

Jerónimo Sousa tem a complexa tarefa de tentar convencer o eleitorado de esquerda que foi benéfico para os portugueses o facto do PCP, pela primeira vez na história democrática, se ter disponibilizado para dar o apoio a um governo socialista e que, com isso, merece o voto a 6 de outubro. A tarefa é tanto mais complicada depois de António Costa ter andado a elogiar a disponibilidade e seriedade do PCP, ao invés do BE, o que até pode ser contraproducente junto do eleitorado que costuma confiar num partido que ao longo de muitos anos combateu as opções socialistas, sobretudo ao comando dos sindicatos. O aumento do salário mínimo nacional é uma das grandes apostas de Jerónimo.

É por isso que Jerónimo de Sousa já torce o nariz a uma nova geringonça e fará passar a mensagem nesta campanha que "o PS não deixou de ser o PS", que se tiver maioria absoluta será a política de direita que irá praticar. E porque vai de braço dado com os Verdes na CDU, o secretário-geral comunista também não se vai esquecer de atacar o "radicalismo" do PAN de André Silva, um dos está a angariar votos entre o eleitorado que gosta das questões ambientalistas.

André Silva a falar para os jovens

Se o PS, PS e CDS andam atrás da abstenção, o líder do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) também anda, mas de uma forma diferente. André Silva, muito focado na questão dos animais e da natureza, mais do que nas pessoas, tentará chegar ao eleitorado mais jovem que se identifica cada vez mais com estas questões e rejeita os partidos tradicionais.

As eleições europeias, onde o partido cresceu, foram um bom barómetro para o que pode acontecer a 6 de outubro num partido que nas últimas legislativas de 2015 apenas tinha conseguido eleger um deputado, o próprio André Silva.

O líder do PAN parte para a campanha numa posição de tal maneira confortável que até segunda-feira não tem agenda pública. Este domingo grava o programa com Ricardo Araújo Pereira, que lhe dará ainda mais visibilidade e terá várias ações de rua, sobretudo nos distritos do litoral durante os próximos 12 dias. A "volta a Portugal" terminará em Lisboa.

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