PS insiste: PSD apoiou mesmo em Bruxelas política do BCE sobre juros
Apesar dos desmentidos de Paulo Rangel (eurodeputado e vice-presidente do PSD), o PS voltou esta sexta-feira à carga: o social-democrata apoiou mesmo ativamente o seu partido europeu, PPE (Partido Popular Europeu), quando este incentivou o BCE (Banco Central Europeu) a aumentar as taxas de juro. A insistência foi esta sexta-feira protagonizada pelo líder parlamentar dos socialistas, Eurico Brilhante Dias, numa conferência de imprensa no Parlamento.
O parlamentar socialista afirmou que as condições que tinham sido invocadas por Paulo Rangel para atenuar o seu apoio à posição tomada pelo PPE no final de setembro acabaram por cair pouco depois - e que o próprio vice-presidente do PSD fez uma declaração de voto que coincide exatamente com a linha dominante no BCE em matéria de aumento das taxas de juro e controlo da inflação.
Citaçãocitacao"A política precisa de seriedade na relação com os portugueses, o PSD não pode ter duas caras, não se pode manifestar preocupado em Lisboa com o aumento das taxas de juro e ser a favor desse aumento em Bruxelas."
Na cópia da declaração de voto de Rangel, que foi distribuída pelo PS aos jornalistas, lê-se, a propósito das medidas de apoio às famílias e empresas face ao aumento de custos: "Estas medidas extraordinárias devem ser circunscritas, excecionais e limitadas no tempo." Ora, "a política precisa de seriedade na relação com os portugueses, o PSD não pode ter duas caras, não se pode manifestar preocupado em Lisboa com o aumento das taxas de juro e ser a favor desse aumento em Bruxelas".
Perante os jornalistas, o líder da bancada socialista recordou que na quarta-feira mostrou em plenário, na Assembleia da República, um documento político do PPE, de 29 de setembro, em que se defendia a importância de um aumento das taxas de juro pelo BCE. Lembrou ainda que nessa altura o PSD "retorquiu que não estava de acordo e que colocava um conjunto de condições para a concretização desse aumento das taxas de juro".
Citaçãocitacao"O PPE está a fazer campanha pelo aumento das taxas de juro. Tem procurado sempre que o BCE seja mais rápido e que aumente as taxas."
"Hoje, apresento aqui uma emenda proposta pelo PPE, em 4 de outubro passado, a qual dá substância ao que consta no documento de 29 de setembro, e não só reforça a determinação que o BCE deve ter para aumentar as taxas de juro como pede também que esse aumento das taxas de juro seja feito com velocidade. E mais: todas as condições mencionadas por Paulo Rangel no documento de 29 de setembro caíram, não existem." Ainda segundo o líder parlamentar do PS, a proposta de emenda foi apresentada por dois eurodeputados do PPE, teve votos favoráveis do PPE, mas foi chumbada por outros grupos parlamentares. "Qual não é o nosso espanto quando se sabe que Paulo Rangel votou globalmente a favor do projeto e fez uma declaração de voto na qual não faz uma única vez menção ao aumento das taxas de juro, à posição do BCE, nem como isso é muito importante para salvaguardar o rendimento das famílias."
No mesmo sentido, completou, também a eurodeputada Cláudia Aguiar não faz qualquer menção à forma como votaram a emenda. "Nem diz que discorda do seu grupo parlamentar no que diz respeito à vontade do PPE em matéria de taxas de juro - um partido que é conservador, que foi pelas sanções contra Portugal e que esteve ao lado da austeridade contra os portugueses. O PPE está a fazer campanha pelo aumento das taxas de juro. Tem procurado sempre que o BCE seja mais rápido e que aumente as taxas."
Na quinta-feira, o BCE anunciou uma nova subida de 75 pontos-base nas suas taxas de juro. Com esta subida, a terceira consecutiva e a segunda desta dimensão, a principal taxa de refinanciamento do BCE fica em 2%, a taxa de juro aplicada aos depósitos fica em 1,5% e a taxa de juro de facilidade permanente de cedência de liquidez passa para 2,25 por cento. (Com Lusa)