Dois incidentes entre embarcações dos Guardas da Revolução iranianos e navios da Marinha e da Guarda Costeira dos Estados Unidos em menos de um mês voltam a subir o tom entre os dois países num momento em que as negociações entre os signatários do acordo nuclear foram retomadas em Viena e que uma gravação do ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano incide luz sobre o verdadeiro poder naquele país..Na segunda-feira à noite o navio de patrulha USS Firebolt disparou tiros de aviso dada a aproximação de três lanchas rápidas de ataque dos Guardas da Revolução, as quais distaram apenas 62 metros daquele navio da Marinha bem como do USCGC Baranoff, da Guarda Costeira, quando estes navegavam no Golfo Pérsico. Os EUA têm uma base da Guarda Costeira em Manama, no Bahrein..Na terça-feira, o chefe do Comando Central dos EUA Kenneth McKenzie pôs água na fervura e disse que os militares norte-americanos tinham o cuidado de não deixar que os incidentes com os Guardas da Revolução se tornassem em algo mais grave, responsabilizando as chefias no terreno. "As atividades que normalmente vemos da Marinha dos Guardas da Revolução não são necessariamente atividades dirigidas pelo guia supremo ou pelo Estado iraniano, mas sim ações irresponsáveis dos comandantes locais em campo", comentou o general dos fuzileiros. Este foi o segundo incidente em menos de um mês..A Marinha revelou imagens de outro incidente, ocorrido no dia 2, e que envolveu os navios da Guarda Costeira Monomoy e Wrangell. Nesse incidente participaram três lanchas rápidas de ataque e o catamarã Shahid Nazeri, que os norte-americanos batizaram de Harth 55..Segundo a porta-voz da Quinta Esquadra da Marinha, Rebecca Rebarich, os navios norte-americanos suportaram três horas de hostilização, tendo o catamarã chegado a menos de 65 metros de distância de ambos os navios e inclusive cruzado as proas de ambos, e obrigado a manobras defensivas para evitar abalroamentos. Teerão não se pronunciou sobre estes casos..DestaquedestaqueUm ataque à embaixada saudita e o apresamento de navios dos EUA foram ações para que "o acordo nuclear falhasse", disse o MNE iraniano, Javad Zarif..Norte-americanos e iranianos têm uma longa história com dezenas de registos de incidentes ("interações" segundo o termo usado pelos EUA) marítimos, embora o último tenha acontecido há um ano, depois de um período de grande intensidade, entre 2015 e 2017 e que teve como momento mais tenso a detenção de dez guardas costeiros, que se encontravam em águas territoriais iranianas..A divulgação pública, no domingo, da gravação de uma entrevista de sete horas ao ministro dos Negócios Estrangeiros Javad Zarif ajuda a ligar os pontos. Depois de o acordo assinado por Zarif com os EUA, Rússia, China, Alemanha, Reino Unido, França e União Europeia em outubro de 2015, dá-se um ataque à embaixada da Arábia Saudita em Teerão e o apresamento das embarcações norte-americanas e respetiva detenção dos guardas.."Foi tudo para que o acordo nuclear falhasse", disse Zarif na entrevista gravada pela presidência iraniana e que teria como objetivo guardar um documento de "história oral". Não é segredo que a linha dura do regime teocrático, Guardas da Revolução incluídos, não aceitou de bom grado as limitações impostas ao programa nuclear. E sobre o poder dos Guardas da Revolução, repetiu que é o "campo militar que decide" e que o presidente Rouhani por vezes desconhecia as decisões..Noutro momento da entrevista, Zarif revela que o homólogo russo Sergei Lavrov o instou a não assinar o acordo, porque a Rússia desejava manter o Irão sob a sua esfera de influência, alega. Também defendeu que o convite de Vladimir Putin para o general Qassem Soleimani (mais tarde assassinado pelos EUA) intervir com forças terrestres na guerra na Síria foi formulado para que o Irão ganhasse preponderância no conflito e que o acordo nuclear ficasse em perigo..Foi com este dado novo na mesa que na terça-feira iniciou mais uma ronda de negociações em Viena com diplomatas e peritos de todos os países do acordo, exceto os EUA, que saíram em 2018 e impuseram sanções ao Irão - o que teve como resposta de Teerão o enriquecimento de urânio para níveis proibidos no acordo, como forma de pressionar os restantes signatários..Apesar de não se sentar à mesma mesa, a delegação norte-americana também se encontra na capital austríaca, cabendo aos europeus o papel de mediadores. Apesar de os participantes mostrarem algum otimismo, a primeira ronda de negociações foi criticada pelo guia supremo do Irão. "As propostas que apresentam são por norma arrogantes e humilhantes e não merecem ser analisadas", disse Ali Khamenei, o homem que tem a última palavra sobre a política nuclear (e que dá ordens diretas aos Guardas da Revolução)..cesar.avo@dn.pt
Dois incidentes entre embarcações dos Guardas da Revolução iranianos e navios da Marinha e da Guarda Costeira dos Estados Unidos em menos de um mês voltam a subir o tom entre os dois países num momento em que as negociações entre os signatários do acordo nuclear foram retomadas em Viena e que uma gravação do ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano incide luz sobre o verdadeiro poder naquele país..Na segunda-feira à noite o navio de patrulha USS Firebolt disparou tiros de aviso dada a aproximação de três lanchas rápidas de ataque dos Guardas da Revolução, as quais distaram apenas 62 metros daquele navio da Marinha bem como do USCGC Baranoff, da Guarda Costeira, quando estes navegavam no Golfo Pérsico. Os EUA têm uma base da Guarda Costeira em Manama, no Bahrein..Na terça-feira, o chefe do Comando Central dos EUA Kenneth McKenzie pôs água na fervura e disse que os militares norte-americanos tinham o cuidado de não deixar que os incidentes com os Guardas da Revolução se tornassem em algo mais grave, responsabilizando as chefias no terreno. "As atividades que normalmente vemos da Marinha dos Guardas da Revolução não são necessariamente atividades dirigidas pelo guia supremo ou pelo Estado iraniano, mas sim ações irresponsáveis dos comandantes locais em campo", comentou o general dos fuzileiros. Este foi o segundo incidente em menos de um mês..A Marinha revelou imagens de outro incidente, ocorrido no dia 2, e que envolveu os navios da Guarda Costeira Monomoy e Wrangell. Nesse incidente participaram três lanchas rápidas de ataque e o catamarã Shahid Nazeri, que os norte-americanos batizaram de Harth 55..Segundo a porta-voz da Quinta Esquadra da Marinha, Rebecca Rebarich, os navios norte-americanos suportaram três horas de hostilização, tendo o catamarã chegado a menos de 65 metros de distância de ambos os navios e inclusive cruzado as proas de ambos, e obrigado a manobras defensivas para evitar abalroamentos. Teerão não se pronunciou sobre estes casos..DestaquedestaqueUm ataque à embaixada saudita e o apresamento de navios dos EUA foram ações para que "o acordo nuclear falhasse", disse o MNE iraniano, Javad Zarif..Norte-americanos e iranianos têm uma longa história com dezenas de registos de incidentes ("interações" segundo o termo usado pelos EUA) marítimos, embora o último tenha acontecido há um ano, depois de um período de grande intensidade, entre 2015 e 2017 e que teve como momento mais tenso a detenção de dez guardas costeiros, que se encontravam em águas territoriais iranianas..A divulgação pública, no domingo, da gravação de uma entrevista de sete horas ao ministro dos Negócios Estrangeiros Javad Zarif ajuda a ligar os pontos. Depois de o acordo assinado por Zarif com os EUA, Rússia, China, Alemanha, Reino Unido, França e União Europeia em outubro de 2015, dá-se um ataque à embaixada da Arábia Saudita em Teerão e o apresamento das embarcações norte-americanas e respetiva detenção dos guardas.."Foi tudo para que o acordo nuclear falhasse", disse Zarif na entrevista gravada pela presidência iraniana e que teria como objetivo guardar um documento de "história oral". Não é segredo que a linha dura do regime teocrático, Guardas da Revolução incluídos, não aceitou de bom grado as limitações impostas ao programa nuclear. E sobre o poder dos Guardas da Revolução, repetiu que é o "campo militar que decide" e que o presidente Rouhani por vezes desconhecia as decisões..Noutro momento da entrevista, Zarif revela que o homólogo russo Sergei Lavrov o instou a não assinar o acordo, porque a Rússia desejava manter o Irão sob a sua esfera de influência, alega. Também defendeu que o convite de Vladimir Putin para o general Qassem Soleimani (mais tarde assassinado pelos EUA) intervir com forças terrestres na guerra na Síria foi formulado para que o Irão ganhasse preponderância no conflito e que o acordo nuclear ficasse em perigo..Foi com este dado novo na mesa que na terça-feira iniciou mais uma ronda de negociações em Viena com diplomatas e peritos de todos os países do acordo, exceto os EUA, que saíram em 2018 e impuseram sanções ao Irão - o que teve como resposta de Teerão o enriquecimento de urânio para níveis proibidos no acordo, como forma de pressionar os restantes signatários..Apesar de não se sentar à mesma mesa, a delegação norte-americana também se encontra na capital austríaca, cabendo aos europeus o papel de mediadores. Apesar de os participantes mostrarem algum otimismo, a primeira ronda de negociações foi criticada pelo guia supremo do Irão. "As propostas que apresentam são por norma arrogantes e humilhantes e não merecem ser analisadas", disse Ali Khamenei, o homem que tem a última palavra sobre a política nuclear (e que dá ordens diretas aos Guardas da Revolução)..cesar.avo@dn.pt