Eça. Trasladação permitida por decisão judicial provisória

Os juízes do Supremo Tribunal Administrativo consideram, numa decisão provisória, que a trasladação é legítima. Ainda assim, será marcada nova data para o ato, que estava previsto para esta quarta-feira. Parlamento aguarda decisão final.
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O Supremo Tribunal Administrativo (STA) não aceitou os argumentos da providência cautelar que visava impedir a trasladação dos restos mortais de Eça de Queiroz para o Panteão Nacional, em Lisboa, confirmou o DN.

A decisão - que é provisória - foi tomada durante a tarde desta segunda-feira.

O juiz conselheiro Adriano Cunha considerou que a decisão da Assembleia da República de determinar honras de Panteão para Eça, bem como a legitimidade da trasladação dos seus restos mortais para Lisboa (está sepultado em Santa Cruz do Douro, concelho de Baião, distrito do Porto).

Na decisão, reconheceu que há uma maioria de bisnetos a favor da trasladação dos restos mortais de Baião para o Panteão: "Neste momento, após o devido contraditório, apresenta-se [...] como não comprovada a alegação dos Requerentes [da providência cautelar] quanto à sua suposta representação da maioria dos descendentes vivos (bisnetos) do escritor em oposição à trasladação dos seus restos mortais."

Afirma-se também que Eça não deixou nenhuma determinação escrita sobre onde gostaria (ou não) de ficar sepultado - e mesmo que o tivesse feito isso seria "irrelevante". "Tem-se por irrelevante, para a presente decisão, a suposta vontade do escritor (que, aliás, não se vê claramente manifestada) ou do público em geral, pois que essa ponderação é da competência exclusiva do Parlamento na sua deliberação sobre a concessão de honras de Panteão. Aqui, sim, estamos no domínio da opção política, e não do jurídico (único campo em que este tribunal se pode, competentemente, intrometer)", lê-se na decisão.

Ainda assim, dado que o STA ainda não tomou uma decisão final, deverá ser marcada nova data para a trasladação, que estava prevista para esta quarta-feira. O deputado socialista coordenador do grupo de trabalho parlamentar que trata da "Concessão de Honras do Panteão Nacional a José Maria Eça de Queiroz", Pedro Delgado Alves, confirmou à RTP o adiamento da trasladação mas acrescentou que será remarcada "em breve", depois de ser conhecida a decisão final do STA.

Delgado Alves sublinhou ainda que a decisão de hoje do STA apesar de não ser definitiva "é clara", nomeadamente ao reconhecer que há uma maioria de bisnetos a favor da trasladação dos restos mortais do escritor de Santa Cruz do Douro para o Panteão.

A trasladação foi aprovada, por unanimidade, na Assembleia da República no dia 15 de janeiro de 2021, "em reconhecimento e homenagem pela obra literária ímpar e determinante na história da literatura portuguesa", como se pode ler no documento publicado em Diário da República semanas depois.

A iniciativa partiu de um repto lançado pela Fundação Eça de Queiroz e insere-se no espírito da lei que define e regula as honras de Panteão Nacional, destinadas a "homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao país, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade".

Dos 22 bisnetos do escritor, 13 concordaram com a trasladação para o Panteão Nacional, havendo ainda três abstenções. Seis opuseram-se e avançaram com um pedido de providência cautelar no Supremo Tribunal Administrativo para impedir a trasladação.

José Maria Eça de Queiroz nasceu na Póvoa de Varzim, em 25 de novembro de 1845 e formou-se em Direito, na Universidade de Coimbra. Morreu em Paris em 16 de agosto de 1900.

Diplomata, passou largas temporadas longe do país, lançando na sua obra um olhar crítico sobre a vida em Portugal e assinando textos que, mais de 100 anos depois da sua publicação continuam a ser de leitura obrigatória e a serem adaptados quer ao teatro quer ao cinema e à televisão.

Entre outros títulos, Eça de Queiroz escreveu "As Farpas", com Ramalho Ortigão, "O Primo Basílio", "O Crime do Padre Amaro", "A Relíquia" e "Os Maias".

No Panteão Nacional, em Lisboa, inaugurado em 1966, encontram-se sepultadas várias figuras da história política portuguesa, como Teófilo Braga, Sidónio Pais, Óscar Carmona e Humberto Delgado, assim como, das letras nacionais, nomes que vão de Almeida Garrett a Sophia de Mello Breyner e Aquilino Ribeiro, passando pela fadista Amália Rodrigues e pelo futebolista Eusébio da Silva Ferreira.

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