Dono de terreno arrisca acusação por homicídio negligente de Julen

Autoridades consideram que David, que namorava uma prima do pai de Julen, foi no mínimo negligente ao organizar um almoço familiar com crianças pequenas num terreno com obras clandestinas e sem tomar precauções
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A Guardia Civil espanhola está a investigar, a pedido de um tribunal de Instrução de Málaga, a possível existência de crimes nas circunstâncias que levaram à queda mortal de Julen, de dois anos, num poço ilegal em Totalán. E de acordo com uma notícia avançada pelo diário El Mundo, baseada em declarações de um dos agentes envolvidos nestas diligências, existem indícios suficientes para que o proprietário do terreno, identificado apenas pelo primeiro nome: Davis, possa ser pronunciado por homicídio negligente.

Além do poço onde Julen caiu no dia 18 de dezembro, para o qual não existia qualquer licença - proprietário e autor do furo disseram às autoridades que a outra parte tinha assegurado ter todas as autorizações -, os investigadores confirmaram também que foram realizadas outras obras ilegais, de iniciativa do proprietário, que teriam como objetivo preparar o terreno para a construção de uma moradia. E terá sido nessa intervenção que ficou descoberta a lage de pedra que tinha sido colocada sobre o furo.

Por isso, ainda que sem ter a certeza de que o dono do terreno tinha consciência desse facto, a Guardia Civil considera que este pelo menos foi manifestamente negligente ao organizar uma tertúlia familiar (era namorado de uma prima do pai de Julen), a escassos metros de distância do poço e sem tomar quaisquer precauções.

"Decidiu organizar ali uma paella [prato típico espanhol] com crianças pequenas sem tomar medidas de segurança que evitassem que alguém pudesse cair. Não havia sinalizações nem nada. Convocou a sua família para uma zona de obras ilegais e a poucos metros do local onde estava o poço", disse ao El Mundo um dos investigadores.

Além da possível acusação por homicídio negligente, o proprietário arrisca ainda ser condenado a indemnizar os pais da vítima, podendo também ser processado pelo estado espanhol no sentido de ser obrigado a suportar os custos da operação de resgate, avaliados em cerca de dois milhões de euros.

Já em relação ao autor do furo, é considerada circunstância atenuante ter ficado comprovado que cobriu o poço com uma lage. Ainda assim poderá ser alvo de uma multa exemplar. As sanções para quem realiza poços ilegais chegam aos seis mil euros mas neste caso a negligência resultou na morte do rapaz de dois anos.

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