"Alimentação é a melhor vacina contra o caos". Programa Alimentar Mundial vence Nobel da Paz
O Programa Alimentar Mundial é o vencedor do prémio Nobel da Paz de 2020, anunciou o Comité Norueguês em Oslo.
"A necessidade de solidariedade internacional e cooperação multilateral é mais notória que nunca. O Comité Norueguês decidiu entregar o Nobel da Paz de 2020 ao Programa Alimentar Mundial pelos seus esforços no combate à fome, pela sua contribuição para melhorar as condições para a paz em áreas afetadas pelos conflitos e por atuar como uma força motora nos esforços para prevenir o uso da fome como arma de guerra e conflito", anunciou a presidente do comité, Berit Reiss-Andersen.
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O Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, sedeado em Roma e dirigido pelo norte-americano David Beasley, é a maior organização humanitária no combate à fome e na promoção da segurança alimentar. Fundada em 1961, a partir de uma proposta do presidente norte-americano Dwight Eisenhower feita na Assembleia Geral da ONU em setembro de 1960, providenciou no ano passado assistência a quase 100 milhões de pessoas em 88 países.
O Comité Nobel lembra que a pandemia de coronavírus contribuiu para um aumento no número de vítimas de fome no mundo. Apesar disso, "demonstrou uma impressionante capacidade de intensificar os seus esforços", referiu Reiss-Andersen, citando depois a própria organização: "Até ao dia em que tivermos uma vacina médica, a alimentação é a melhor vacina contra o caos".
"O mundo está em perigo de viver uma crise alimentar de proporções inconcebíveis se o Programa Alimentar Mundial e outras organizações de assistência alimentar não receberem o apoio financeiro que pediram", reforça o Comité Nobel, indicando que essa ajuda não só previne a fome como ajuda a melhorar as perspetivas de estabilidade e paz. "Nunca alcançaremos o objetivo de fome zero se não pusermos um fim à guerra e aos conflitos armados".
O Comité lembra que com o prémio deste ano quer focar a atenção do mundo dos milhões de pessoas que sofrem ou enfrentam a ameaça da fome, indicando que o Programa Alimentar Mundial "contribui diariamente para avançar a fraternidade de nações referida no testamento de Alfred Nobel". E considera a organização das Nações Unidas "a versão moderna dos congressos da paz que o Prémio Nobel da Paz deve promover".
O Programa Alimentar Mundial já reagiu ao galardão no Twitter: "Agradecimento profundo ao Comité Nobel por honrar o Programa Alimentar Mundial com o Nobel da Paz de 2020. É uma lembrança poderosa para o mundo de que a paz e a fome zero andam de mãos dadas", indicaram.
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Noutra mensagem dizem-se "profundamente honrados" por receber o galardão, que consideram um reconhecimento do trabalho dos seus funcionários que põem todos os dias as suas vidas em risco para providenciar comida e assistência a mais de 100 milhões de crianças, mulheres e homens esfomeados pelo mundo.
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O porta-voz da organização, Tomson Phiri, reagiu em Genebra poucos minutos após ser anunciado o prémio. "Uma das belezas das atividades do Programa Alimentar Mundial é que não fornecemos alimentos apenas para hoje e amanhã, mas também damos às pessoas os conhecimentos necessários para se sustentarem nos dias que se seguem", afirmou.
O Programa Alimentar Mundial é a última de uma série de organizações das Nações Unidas a ganhar o Nobel, tendo a própria ONU ganho em 2001, junto com o então secretário-geral, Kofi Annan. A última organização das Nações Unidas a ganhar o prémio tinha sido o painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas, que ganhou junto com o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore em 2007.
Dois anos antes, tinha sido a Agência Internacional de Energia Atómica e o seu diretor-geral, o egípcio Mohamed ElBaradei a vencer. Em 1988, foram as forças de manutenção de paz da ONU as galardoadas e em 1981 o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (que também ganhara em 1954).
Nos anos 1960, as Nações Unidas foram distinguidas em três ocasiões: em 1961 ganhou o então secretário-geral, o sueco Dag Hammarskjoeld, em 1965 a UNICEF (o Fundo das Nações Unidas para a Infância) e em 1969 a Organização Internacional do Trabalho. Em 1950, o mediador das Nações Unidas para o conflito entre árabes e israelitas, o norte-americano Ralph Bunche, foi o galardoado, um ano depois de o prémio ter sido entregue ao diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o barão britânico John Boyd Orr de Brechin.
Este ano, o Comité Nobel tinha anunciado que havia 318 candidatos, sendo que 211 eram indivíduos e 107 organizações. Já por 19 vezes não houve galardoado -- nomeadamente durante as duas guerras mundiais --, tendo em 1972 sido o último ano em que o prémio não foi entregue.
Além da medalha com o rosto de Alfred Nobel, o vencedor do galardão ganha dez milhões de coroas suecas (cerca de 950 mil euros).
No ano passado, o vencedor do Nobel da Paz foi o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, pelos seus esforços em prol da paz e da cooperação internacional, em particular pela sua iniciativa decisiva de resolver o conflito fronteiriço com a vizinha Eritreia.
Nesta semana, foram já conhecidos os vencedores do Nobel da Medicina (Harvey J. Alter, Michael Houghton e Charles M. Rice), da Física (Roger Penrose, Reinhard Genzel e Andrea Ghez), da Química (Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna) e da Literatura (Louise Glück).
O último prémio a ser conhecido é o da Economia, na próxima segunda-feira, dia 12, às 10.45.
Os prémios serão entregues a 10 de dezembro numa cerimónia quase inteiramente online, por causa do novo coronavírus, à exceção de uma reduzida plateia que estará no edifício da Câmara de Estocolmo, na Suécia.
"A ideia é que as medalhas e os diplomas sejam entregues aos laureados em segurança nos respetivos países de residência, muito provavelmente com a ajuda das embaixadas e das universidades dos laureados", explicou a Fundação Nobel.