Professores importantes para jovens perceberem papeis
Maria do Mar Pereira defendeu que "há coisas que acontecem todos os dias, em que os professores, professoras, empregadas e pais não reparam, coisas que parecem mais banais e que têm os efeitos mais intensos".
São comportamentos relacionados com masculinidade e feminilidade, que "achamos serem normais, naturais e inevitáveis e, nessas [situações, os professores] interveem muito pouco", referiu à agência Lusa.
A professora na área de estudos de género, a lecionar na Universidade de Leeds, no Reino Unido, estudou 23 rapazes e raparigas, de 14 e 15 anos, numa escola de Lisboa, trabalho que resultou num livro a lançar no domingo, na capital portuguesa.
"Fazendo Género no Recreio: a Negociação do Género e Sexualidade entre Jovens na Escola" é o título do livro, publicado pelo Instituto de Ciências Sociais, com uma análise da exigência entre os jovens de comportamentos definidos como adequados aos rapazes e às raparigas, embora idividualmente reconheçam não concordar com essas regras.
Maria do Mar Pereira salientou ter encontrado grande diversidade de abordagens entre os professores que, "por vezes, interveem de uma forma que, sem que se apercebam disso, é nociva e é a esse nível que é importante trabalhar".
"Quando há situações claramente muito problemáticas, complicadas e violentas, os professores estão muito dispostos a intervir, empenhados em ajudar os alunos", explicou.
Entre o exemplos de ausência de intervenção que aponta, estão situações em que os rapazes comentam às raparigas que estão gordas ou deviam fazer dieta ou em que os rapazes dizem a outros rapazes que "se fazem isto ou aquilo são maricas ou homossexuais".
O estudo "demonstra que há coisas que se podem fazer - e há professores que o fazem, embora sejam uma minoria, mas crescente".
Estes docentes questionam os alunos acerca da razão das atitudes e das consequências, criam espaços, com ligação aos temas de cada disciplina, para olhar os casos, "não como coisas naturais e pouco importantes, mas sim como situações que têm um impacto na auto estima das pessoas e nas relações na escola".
Com estas iniciativas dos professores, "conseguem-se efeitos muito interessantes", salientou Maria do Mar, acrescentando que "as alunas e os alunos aderem muito bem, gostam muito de discutir estes temas".
Para Maria do Mar Pereira, "os professores podem deixar de fazer determinados comentários que, implicita ou explicitamente, fazem parecer que homens e mulheres têm de ter papeis diferentes, e que os rapazes e raparigas têm de encaixar naqueles papeis".
A investigadora defendeu ainda que os auxiliares de ação educativa e o restante pessoal da escola podem desempenhar um papel fundamental, porque "os professores não veem o que se passa nos intervalos".
Muitas vezes, são os auxiliares que assistem a estas interações e agem sobre elas, e "seria importante apoiar e estimular mais" estes profissionais.