Prisão preventiva para médium das estrelas acusado de abuso sexual
A justiça de Goiás decretou prisão preventiva para João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus. O médium é acusado de abuso sexual por mulheres que foram atendidas na sua casa. De acordo com os relatos reunidos até agora, depois da sessão, o médium ofereceria atendimento particular às alegadas vítimas.
Para o Ministério Público, a semelhança entre os depoimentos reforçam as suspeitas - entre segunda e quinta-feira, o Ministério Público de Goiás recolheu 330 denúncias.
A decisão de avançar com a prisão preventiva baseia-se em dois argumentos: em liberdade, João de Deus poderia coagir as testemunhas e, se mantivesse os atendimentos, poderia haver novas vítimas.
Oprah, Naomi Campbell, Paul Simon, ou Lula e Dilma Rousseff são algumas das celebridades e figuras da política que já se encontraram ou foram atendidos por João Teixeira de Faria, um dos médiuns mais famosos do Brasil. Fama que lhe chegou através das 'curas espirituais' que realiza há mais de 40 anos na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, a cerca de 100 quilómetros de Brasília. Mas João de Deus, como é conhecido, caiu em desgraça, depois da emissão de um programa na TV Globo este fim de semana onde dez mulheres o acusam de abusos sexuais.
O programa 'Conversa com Bial' emitiu no sábado pasado depoimentos de quatro dessas mulheres, que dizem ter sido vítimas do curandeiro desde 2010. A coreógrafa holandesa Zahira Lieneke Mous foi a única que aceitou mostrar a cara e relatou como, depois de ter procurado João de Deus para curar feridas psicológicas causadas por abusos sexuais sofridos no passado, acabou por sofrer novos traumas no gabinete do médium.
Zahira, que tem um tio a viver em Minas Gerais e ouviu falar de João de Deus pela primeira vez em 2014, afirmou ter presenciado milagres e curas no local, tendo mesmo sido assistente do curandeiro. Depois de uma primeira visita em que se sentiu "segura em ir sozinha", voltou para uma consulta particular com João de Deus no seu gabinete - "um cenário bem bizarro" -, sendo depois encaminhada para uma casa de banho "enorme", onde cabia um sofá. "Ele abriu a calça, colocou a minha mão no pénis dele e começou a movimentar a minha mão. Estava em choque. Enquanto isso, ele continuava falando da minha família e disse que eu deveria sorrir. Depois, ele se limpou, me levou ao escritório, abriu um armário de pedras preciosas e mandou escolher a que eu mais gostasse", contou Zahira Lieneke Mous.
Dias depois dos primeiros abusos, continuou a coreógrafa holandesa, João de Deus terá repetido o mesmo padrão. Mas dessa vez "ele deu um passo adiante: me penetrou por trás". Os relatos chocantes dados ao jornalista Pedro Bial sucederam-se, todos a denunciar métodos e pormenores gráficos semelhantes. "Ele pegava minha mão, para eu pegar no pénis dele. E eu tirava a mão. E ele falava: 'você é forte, você é corajosa! O que você está fazendo tem um valor enorme'. Eu não estava fazendo nada, estava sendo abusada", denunciou uma das mulheres, que ficou no anonimato. "Ele ficou muito próximo e mandou eu colocar a mão para trás. Já estava com o pénis dele para fora. Ele falou: 'põe a mão. Isso é limpeza. Você precisa da minha energia, que só vem dessa maneira, pra eu poder fazer a limpeza em você'", continuou a mesma mulher.
Zahira Leeneke Maus admitiu que fazia o que o curandeiro pedia porque "tinha medo de eles me mandarem espíritos ruins, estava com muito medo". O mesmo receio de retaliação espiritual que levou as restantes mulheres a esconderem a cara. A holandesa acrescentou que agora se sente "protegida" e que quer que "a verdade venha à tona", razões que a levaram já antes a denunciar o caso nas redes sociais, onde tem sido criticada por ter demorado quatro anos a falar sobre os abusos de que diz ter sido vítima.
Abusos que João de Deus negou liminarmente.