Prioridades e ideologias

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A Venezuela faz parte do léxico habitual de todas as famílias madeirenses. Os emigrantes que vinham à Madeira de férias diziam-nos muitas vezes "en Venezuela hay de todo". E assim cresceu no nosso imaginário coletivo a imagem da Venezuela como o país das oportunidades, da abundância e dos novos começos. Era o sonho venezuelano de tantos madeirenses que deixaram a ilha e as dificuldades económicas, para subir a pulso próprio num dos países com mais recursos naturais do mundo. "Hay de todo", diziam. E era verdade.

Hoje em dia, já não se ouve essa frase. Ouvimos frases que nos partem o coração, vindo daqueles que regressaram à Madeira da sua nascença, e aqueles que já nasceram na Venezuela mas se decidiram pela segurança da terra dos seus pais e avós. Associações cívicas como a Venecom e a Venexos são um importante elo que mobiliza apoios e consciencialização entre as autoridades regionais, aqueles que regressam à Madeira, e a comunidade que ainda está na Venezuela. O governo regional e nacional trabalham em conjunto para a melhor resposta possível para quem regressa, pois a enormidade do desafio exige solidariedade nacional.

Portugal tem de ser firme na defesa dos seus. A comunidade portuguesa não pode servir de anestesiante diplomático para a posição nacional face ao regime de Caracas, mas a responsabilidade acrescida dos nossos governantes face à comunidade também não pode ser menorizada. Realmente é um equilíbrio muito difícil de alcançar, e no passado já existiram várias circunstâncias políticas que implicaram essa complicada espargata diplomática.

Mas hoje a realidade é outra e Portugal não pode branquear os acontecimentos recentes, que simplesmente atentam às liberdades e garantias de um Estado de direito.

À nossa comunidade de quase meio milhão de portugueses e lusodescendentes, que diz um dos partidos políticos que sustentam a maioria parlamentar em favor do governo socialista? Em comunicado oficial, o PCP subalterniza as comunidades portuguesas à defesa cega do presidente Maduro, admitindo que a segurança das comunidades está dependente do reconhecimento da Assembleia Constituinte por parte do Estado português. Ou será que - o choque! - o rótulo "aproveitamento político" afinal de contas não é monopólio da oposição parlamentar em Portugal?

Temos assim quinhentos mil portugueses e lusodescendentes decretados "reféns" na Venezuela pelo PCP. Curioso é que aqueles que tanto encheram o peito criticando a presença da troika em Portugal acabam por aceitar que o movimento comunista internacional tente colonizar a política externa portuguesa. A lealdade do PCP é clara: a ideologia da revolução, sempre. Se houvesse comunidade portuguesa na Coreia do Norte, esta narrativa já teria sido ensaiada nesse contexto.

E a propósito de ideologias na sua conta de Twitter @NeinQuaterly, Eric Jarosinki diz o seguinte: "Ideologia: aquela convicção errada de que as suas ideias nem são erradas nem convicções". Temos que ir além da ideologia, para não falhar a nossa gente, nem as nossas comunidades.

Deputada do PSD/Madeira

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