Menos de três anos depois de se tornar príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman (ou MBS, como é conhecido) continua a consolidar o seu poder no país, desta vez mandando prender o tio e o primo, o anterior herdeiro. Ambos estariam alegadamente a preparar um golpe palaciano para evitar que MBS, que aos 34 anos é o filho mais velho do terceiro casamento do rei Salman, subisse ao trono..MBS, ministro da Defesa desde 2015, tinha liderado uma purga logo após a sua nomeação em 2017, mandando deter no hotel Ritz-Carlton de Riade centenas de figuras proeminentes do reino, incluindo membros da família real e empresários, numa alegada operação anticorrupção. O hotel de cinco estrelas só reabriu no ano passado, depois de as autoridades chegarem a acordo com a maioria dos acusados (só 56 recusaram e foram transferidos para prisões) e terem recuperado 107 mil milhões de dólares em ativos..Desta vez, os alvos foram ainda mais próximos: o príncipe Ahmed bin Abdulaziz, irmão mais novo do rei Salman, de 77 anos, que durante mais de 30 anos foi vice-ministro do Interior; e o príncipe Mohammed bin Nayef (ou MBN), de 60 anos, o sobrinho do monarca que foi príncipe herdeiro até junho de 2017. Nessa altura, foi afastado de todos os cargos (era também ministro do Interior)..As novas detenções desencadearam rumores sobre uma eventual deterioração do estado de saúde do monarca de 84 anos, no trono desde janeiro de 2015, e a entronização de MBS. Para evitar a continuação de rumores, no domingo, os media estatais sauditas (que não noticiaram as detenções) divulgaram fotos do rei, aparentemente de boa saúde, a receber dois diplomatas sauditas que ascenderam ao cargo de embaixadores..Tentativa de golpe?.As detenções do príncipe Ahmed e de MBN foram reveladas na sexta-feira pelo The Wall Street Journal, citando fontes próximas. Falava-se já de uma "alegada tentativa de golpe" e de uma tentativa de "consolidação do poder" do príncipe herdeiro, "limpando outrora formidáveis rivais ao trono"..Depois das detenções iniciais, a limpeza terá continuado no sábado, com dezenas de oficiais do Ministério do Interior - o próprio ministro Abdulaziz bin Saud entre eles -, membros do Exército e pessoas suspeitas de apoiarem o golpe. No domingo, o ministro e o pai, o príncipe Saud bin Nayef, irmão de MBN, foram libertados depois de serem ouvidos em tribunal..Segundo o The Guardian , as detenções do príncipe Ahmed e de MBN surgiram depois de estes terem discutido a possibilidade de bloquear a ascensão ao trono de Mohammed bin Salman. Tal seria feito através do órgão criado em 2007 para garantir uma transição de poder sem problemas -- um deles, o príncipe Ahmed, terá sido um dos três votos contra a nomeação de MBS como príncipe herdeiro em 2017 (num total de 34 membros)..As conversas, segundo o mesmo jornal, tinham que ver com a hipótese de o príncipe Ahmed ocupar a liderança desse órgão, atualmente sem líder, a partir do qual poderia pressionar os seus membros. As fontes ouvidas pelo The Guardian indicam que os dois poderiam ser acusados de traição, mas que essas eventuais acusações poderiam ser diluídas..Nenhum deles possuía atualmente muito poder, MBN estaria em prisão domiciliária desde que tinha sido afastado da linha de sucessão em 2017 e o príncipe Ahmed terá vivido entretanto em Londres, regressando apenas no final do ano passado à Arábia Saudita. Alega-se contudo que estariam a procurar ganhar poder para que, após a morte do pai e sem contar com a sua proteção, MBS pudesse ser posto em causa..Ascensão meteórica de MBS.Descrito como o poder por detrás do trono do rei Salman, Mohammed bin Salman é o filho mais velho da terceira mulher do monarca, Fahda. Ao contrário de muitos membros da família saudita, o filho favorito do rei não estudou no estrangeiro e, depois de trabalhar no setor privado, tornou-se, aos 24 anos, conselheiro especial do pai, então governador da província de Riade..Em outubro de 2011, a morte do príncipe herdeiro Sultan bin Abdulaziz abriu a porta à ascensão de Salman, que se tornou príncipe herdeiro e vice-primeiro-ministro em 2012. Em 2015, com a morte do meio-irmão, o rei Abdullah, subiu ele próprio ao trono, levando consigo o filho, que se tornou ministro da Defesa. Aos 29 anos, era o mais jovem a ocupar este cargo em todo o mundo..Logo a partir de 2015, MBS liderou a campanha de bombardeamentos sauditas (à frente de uma coligação internacional) no Iémen, em apoio ao presidente Abdrabbuh Mansour Hadi, que tinha sido derrubado por rebeldes houthis (que defendem a minoria xiita e são apoiados pelo rival Irão). Apesar de os ataques terem permitido reconquistar parte do sul do país, o presidente continua exilado na Arábia Saudita. A campanha militar no Iémen, que ainda dura, tem sido criticada por causa da crise humanitária que desencadeou..Em 2017, o rei Salman forçou o então príncipe herdeiro Mohammed bin Nayef a afastar-se para dar o cargo ao filho preferido - desde a morte do rei Abdulaziz al-Saud, o primeiro rei saudita, que o trono não passava para um filho do monarca, mas para um irmão. Daí que a idade em que os monarcas chegam ao trono tivesse vindo a aumentar, com o número de anos dos reinados a diminuir. MBS, contudo, poderá ficar no trono durante várias décadas..Enquanto príncipe herdeiro e líder de facto do país, MBS tem apostado em políticas de abertura social e cultural, voltando a abrir os cinemas públicos, autorizando concertos de música ao vivo ou permitindo que as mulheres pudessem entrar nos estádios. Também deu autorização às mulheres para conduzir. Mas, várias semanas antes de entrar em vigor esta medida, várias mulheres ativistas que tinham precisamente protestado contra a proibição de conduzir foram detidas, com os media a apelidá-las de "traidoras"..O momento-chave para MBS foi contudo a morte do dissidente e crítico Jamal Khashoggi, a 2 de outubro de 2018, no consulado saudita em Istambul, onde tinha ido buscar uma autorização para poder casar. A investigação turca concluiu que foi morto e esquartejado por um grupo de 15 sauditas, mas os seus restos mortais nunca foram encontrados. A investigação apontou o dedo ao príncipe herdeiro, mas Riade insistiu que foi morto numa operação não autorizada..Apesar das críticas e da condenação internacional, Mohammed bin Salman conseguiu escapar ileso, continuando a ser recebido por líderes mundiais, entre os quais o presidente norte-americano, Donald Trump, que disse que ele estava a fazer um "trabalho espetacular" e o apelidou de "amigo". Neste ano, em novembro, o reino vai receber a cimeira do G20, sendo esta a oportunidade perfeita para MBS consolidar o seu poder e a sua influência a nível mundial..Primeiro tem de resolver a atual guerra do petróleo em que está envolvido: depois de os países produtores de petróleo, liderados pela Rússia, não terem chegado a acordo para diminuir a produção, em plena crise com o coronavírus, os sauditas aumentaram a produção e causaram uma queda dos preços que causou uma segunda-feira negra nas bolsas mundiais. .A nível económico, a aposta de MBS passa por diversificar e não ficar dependente do petróleo. Um dos planos de MBS passou pela venda pública de ações da petrolífera estatal Aramco, que se concretizou em dezembro e resultou numa avaliação da empresa em 1,7 biliões de dólares, tornando-a a empresa mais valiosa do mundo. A crise petrolífera levou, nesta semana, as ações a cair pela primeira vez abaixo da IPO (oferta pública inicial).
Menos de três anos depois de se tornar príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman (ou MBS, como é conhecido) continua a consolidar o seu poder no país, desta vez mandando prender o tio e o primo, o anterior herdeiro. Ambos estariam alegadamente a preparar um golpe palaciano para evitar que MBS, que aos 34 anos é o filho mais velho do terceiro casamento do rei Salman, subisse ao trono..MBS, ministro da Defesa desde 2015, tinha liderado uma purga logo após a sua nomeação em 2017, mandando deter no hotel Ritz-Carlton de Riade centenas de figuras proeminentes do reino, incluindo membros da família real e empresários, numa alegada operação anticorrupção. O hotel de cinco estrelas só reabriu no ano passado, depois de as autoridades chegarem a acordo com a maioria dos acusados (só 56 recusaram e foram transferidos para prisões) e terem recuperado 107 mil milhões de dólares em ativos..Desta vez, os alvos foram ainda mais próximos: o príncipe Ahmed bin Abdulaziz, irmão mais novo do rei Salman, de 77 anos, que durante mais de 30 anos foi vice-ministro do Interior; e o príncipe Mohammed bin Nayef (ou MBN), de 60 anos, o sobrinho do monarca que foi príncipe herdeiro até junho de 2017. Nessa altura, foi afastado de todos os cargos (era também ministro do Interior)..As novas detenções desencadearam rumores sobre uma eventual deterioração do estado de saúde do monarca de 84 anos, no trono desde janeiro de 2015, e a entronização de MBS. Para evitar a continuação de rumores, no domingo, os media estatais sauditas (que não noticiaram as detenções) divulgaram fotos do rei, aparentemente de boa saúde, a receber dois diplomatas sauditas que ascenderam ao cargo de embaixadores..Tentativa de golpe?.As detenções do príncipe Ahmed e de MBN foram reveladas na sexta-feira pelo The Wall Street Journal, citando fontes próximas. Falava-se já de uma "alegada tentativa de golpe" e de uma tentativa de "consolidação do poder" do príncipe herdeiro, "limpando outrora formidáveis rivais ao trono"..Depois das detenções iniciais, a limpeza terá continuado no sábado, com dezenas de oficiais do Ministério do Interior - o próprio ministro Abdulaziz bin Saud entre eles -, membros do Exército e pessoas suspeitas de apoiarem o golpe. No domingo, o ministro e o pai, o príncipe Saud bin Nayef, irmão de MBN, foram libertados depois de serem ouvidos em tribunal..Segundo o The Guardian , as detenções do príncipe Ahmed e de MBN surgiram depois de estes terem discutido a possibilidade de bloquear a ascensão ao trono de Mohammed bin Salman. Tal seria feito através do órgão criado em 2007 para garantir uma transição de poder sem problemas -- um deles, o príncipe Ahmed, terá sido um dos três votos contra a nomeação de MBS como príncipe herdeiro em 2017 (num total de 34 membros)..As conversas, segundo o mesmo jornal, tinham que ver com a hipótese de o príncipe Ahmed ocupar a liderança desse órgão, atualmente sem líder, a partir do qual poderia pressionar os seus membros. As fontes ouvidas pelo The Guardian indicam que os dois poderiam ser acusados de traição, mas que essas eventuais acusações poderiam ser diluídas..Nenhum deles possuía atualmente muito poder, MBN estaria em prisão domiciliária desde que tinha sido afastado da linha de sucessão em 2017 e o príncipe Ahmed terá vivido entretanto em Londres, regressando apenas no final do ano passado à Arábia Saudita. Alega-se contudo que estariam a procurar ganhar poder para que, após a morte do pai e sem contar com a sua proteção, MBS pudesse ser posto em causa..Ascensão meteórica de MBS.Descrito como o poder por detrás do trono do rei Salman, Mohammed bin Salman é o filho mais velho da terceira mulher do monarca, Fahda. Ao contrário de muitos membros da família saudita, o filho favorito do rei não estudou no estrangeiro e, depois de trabalhar no setor privado, tornou-se, aos 24 anos, conselheiro especial do pai, então governador da província de Riade..Em outubro de 2011, a morte do príncipe herdeiro Sultan bin Abdulaziz abriu a porta à ascensão de Salman, que se tornou príncipe herdeiro e vice-primeiro-ministro em 2012. Em 2015, com a morte do meio-irmão, o rei Abdullah, subiu ele próprio ao trono, levando consigo o filho, que se tornou ministro da Defesa. Aos 29 anos, era o mais jovem a ocupar este cargo em todo o mundo..Logo a partir de 2015, MBS liderou a campanha de bombardeamentos sauditas (à frente de uma coligação internacional) no Iémen, em apoio ao presidente Abdrabbuh Mansour Hadi, que tinha sido derrubado por rebeldes houthis (que defendem a minoria xiita e são apoiados pelo rival Irão). Apesar de os ataques terem permitido reconquistar parte do sul do país, o presidente continua exilado na Arábia Saudita. A campanha militar no Iémen, que ainda dura, tem sido criticada por causa da crise humanitária que desencadeou..Em 2017, o rei Salman forçou o então príncipe herdeiro Mohammed bin Nayef a afastar-se para dar o cargo ao filho preferido - desde a morte do rei Abdulaziz al-Saud, o primeiro rei saudita, que o trono não passava para um filho do monarca, mas para um irmão. Daí que a idade em que os monarcas chegam ao trono tivesse vindo a aumentar, com o número de anos dos reinados a diminuir. MBS, contudo, poderá ficar no trono durante várias décadas..Enquanto príncipe herdeiro e líder de facto do país, MBS tem apostado em políticas de abertura social e cultural, voltando a abrir os cinemas públicos, autorizando concertos de música ao vivo ou permitindo que as mulheres pudessem entrar nos estádios. Também deu autorização às mulheres para conduzir. Mas, várias semanas antes de entrar em vigor esta medida, várias mulheres ativistas que tinham precisamente protestado contra a proibição de conduzir foram detidas, com os media a apelidá-las de "traidoras"..O momento-chave para MBS foi contudo a morte do dissidente e crítico Jamal Khashoggi, a 2 de outubro de 2018, no consulado saudita em Istambul, onde tinha ido buscar uma autorização para poder casar. A investigação turca concluiu que foi morto e esquartejado por um grupo de 15 sauditas, mas os seus restos mortais nunca foram encontrados. A investigação apontou o dedo ao príncipe herdeiro, mas Riade insistiu que foi morto numa operação não autorizada..Apesar das críticas e da condenação internacional, Mohammed bin Salman conseguiu escapar ileso, continuando a ser recebido por líderes mundiais, entre os quais o presidente norte-americano, Donald Trump, que disse que ele estava a fazer um "trabalho espetacular" e o apelidou de "amigo". Neste ano, em novembro, o reino vai receber a cimeira do G20, sendo esta a oportunidade perfeita para MBS consolidar o seu poder e a sua influência a nível mundial..Primeiro tem de resolver a atual guerra do petróleo em que está envolvido: depois de os países produtores de petróleo, liderados pela Rússia, não terem chegado a acordo para diminuir a produção, em plena crise com o coronavírus, os sauditas aumentaram a produção e causaram uma queda dos preços que causou uma segunda-feira negra nas bolsas mundiais. .A nível económico, a aposta de MBS passa por diversificar e não ficar dependente do petróleo. Um dos planos de MBS passou pela venda pública de ações da petrolífera estatal Aramco, que se concretizou em dezembro e resultou numa avaliação da empresa em 1,7 biliões de dólares, tornando-a a empresa mais valiosa do mundo. A crise petrolífera levou, nesta semana, as ações a cair pela primeira vez abaixo da IPO (oferta pública inicial).