Primeiros médicos formados otimistas quanto ao futuro
António Pêgas e Tânia Gago decidiram há quatro anos pôr um parêntesis nas carreiras de enfermagem para ingressar no recém-formado curso de medicina da Universidade do Algarve, criado com base num modelo que o seu primeiro coordenador, José da Ponte, definiu como "pioneiro em Portugal e na Europa" e direcionado para o "conhecimento prático".
No sábado, António Pêgas e Tânia Gago vão integrar o grupo de 29 estudantes que, às 17:00, no Campus de Gambelas, em Faro, estarão no centro da cerimónia de conclusão de curso do Mestrado Integrado em Medicina da Universidade do Algarve (UAlg).
António Pêgas disse à agência Lusa que este será o reconhecimento por quatro anos "bem investidos" e com um "balanço bastante positivo", depois do risco assumido ao abdicar, mesmo que temporariamente, da carreira de enfermeiro.
"De início houve alguma incerteza. Embora acreditássemos no projeto, sabíamos que era o primeiro, os partos são sempre difíceis e há sempre aquela insegurança de navegar em águas nunca experimentadas. Mas correu muito bem e, para ser sincero, superou as minhas expectativas", afirmou.
O novo médico considerou ser "mais fácil" aprender num curso como o da UAlg, em que toda a matéria de "anatomia e fisiologia do pulmão é dada à volta de um caso de um paciente com uma doença pulmonar e, ao tentar tratar um doente simulado, com um grupo de trabalho e um tutor, acaba-se por dissecar toda a matéria" à volta da temática.
"E é mais semelhante ao que nos vai acontecer na vida quotidiana como médicos. É esse o treino que levamos - com 33 casos por ano, 33 semanas, 33 casos diferentes em cada um dos anos - e dá-nos uma rodagem muito simpática para ir à procura do conhecimento", explicou.
Sobre o futuro e a situação do país, António disse que antes do curso tinha um emprego estável no quadro de um hospital e que houve "alguma perda de estabilidade", mas mostrou-se "sem arrependimentos".
Tânia Gago também é distinguida no sábado como uma das primeiras médicas formadas na UAlg e disse à Lusa que o curso, mais do que a deixar "sentada a ouvir o que a outra pessoa tem para ensinar", lhe permitiu "procurar os próprios objetivos e os melhores meios para atingi-los".
Por isso, este momento é encarado com "satisfação imensa" depois de "quatro anos em que também se abdicou de uma carreira profissional na área" da enfermagem.
O futuro não deixa Tânia Gago "totalmente descansada", porque a situação do país "mexeu com várias profissões", como a medicina, e há "especialidades em que cada vez a colocação é mais difícil".
"Isso leva-nos também a pensar não só na especialidade de que gostamos, como também naquelas que têm mais futuro, mas pelo menos estamos a fazer o que gostamos", afirmou.