"A posse de armas pela Renamo [Resistência Nacional Moçambicana] para chantagear o Estado e a população e forçar a ascensão ao poder por via da força é contrária à convivência democrática num Estado como o nosso", afirmou hoje Carlos Agostinho do Rosário no parlamento, respondendo a perguntas das bancadas da Assembleia da República de Moçambique, sobre a atual crise político-militar..O primeiro-ministro moçambicano considerou uma manipulação da opinião pública a justificação da Renamo de que mantém um contingente armado ao abrigo do Acordo Geral de Paz que assinou em 1992 com o Governo para encerrar 16 anos de guerra civil.."Não faz sentido que a Renamo, volvidos mais de 20 anos, período durante o qual o país já realizou cinco eleições gerais, venha hoje sustentar a legalidade e legitimidade da posse de armas de fogo, com base no Acordo Geral de Paz", frisou Agostinho do Rosário..Insistindo na ilegalidade do braço armado que o principal partido de oposição ainda detém, o primeiro-ministro moçambicano enfatizou que as forças de defesa e segurança vão continuar a proteger a população de ações militares do movimento.."O nosso Governo tudo fará para continuar a proteger o povo moçambicano de modo a que este continue a dedicar as suas energias ao desenvolvimento do seu país e construção do bem-estar e o futuro dos seus filhos", declarou Agostinho do Rosário..Numa sessão pontuada pela troca de acusações sobre as responsabilidades da atual crise-político militar em Moçambique, a Renamo, através do deputado André Majibire, imputou à alegada arrogância e prepotência do Governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) as causas da atual situação no país.."Com a sua arrogância e prepotência, a Frelimo destruiu as bases com que o país vinha construindo a sua democracia até à atual situação de crise, com consequências nefastas para a economia do país", disse Majibire..O deputado acusou as forças de defesa e segurança de perseguição e assassínio de membros e quadros da Renamo no centro do país, apontando a fuga de milhares de pessoas da província de Tete para o Malaui como consequência da suposta brutalidade das forças governamentais..Por seu turno, Sérgio Pantié, que falou em nome da maioria da Frelimo, exigiu uma "ação dura" da Procuradoria-Geral da República contra membros e dirigentes da Renamo que supostamente instigam e promovem ações de violência no país.."A Procuradoria-Geral da República deve empreender uma ação dura e enérgica contra membros e dirigentes da Renamo, incluindo alguns que estão aqui [na Assembleia da República], pela violência que estão a perpetrar contra a população moçambicana", afirmou Pantié..O Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido, preferiu concentrar a sua intervenção na questão da seca e cheias que assolam o país e, através de Armando Artur, acusou o executivo da Frelimo de falhanço na preparação do país para os efeitos das calamidades naturais.."A situação calamitosa em que se encontra parte das populações das três regiões do país, devido à seca e às cheias, é causada pelo falhanço de 40 anos de ingovernabilidade do país", disse Artur, aludindo às quatro décadas de independência que o país comemorou no ano passado.