Prevenir através da imunização: um investimento sustentável que gera poupanças aos sistemas de saúde
A ciência e a investigação proporcionaram à humanidade, através de um esforço coletivo, novas e melhores ferramentas contra doenças infeciosas e virais graves e evitáveis, por vezes mortais e contagiosas, para as quais não existem soluções terapêuticas alternativas. Um reflexo deste compromisso é a vacinação, que se traduz no principal meio para a prevenção primária de doenças e uma das medidas de saúde pública mais custo-efetivas. A sua relevância é facilmente justificada com o facto de aumentar a esperança média de vida[1], e de a cada minuto, cinco vidas serem poupadas graças à vacinação.[2] Estes números falam por si e são a prova viva do valor das vacinas para a nossa saúde e longevidade e para a economia dos países.
No entanto, nunca é demais reforçar e passar uma mensagem positiva sobre o impacto e a importância da vacinação. Não podemos esquecer que as doenças infeciosas acompanham as pessoas e sociedades desde sempre e que graças à vacinação generalizada, doenças como a varíola foram erradicadas, a poliomielite foi quase eliminada, e estes sucessos e bons resultados só foram possíveis graças a programas e planos de vacinação implementados a nível mundial e ao esforço de vacinação em massa da população. Mas também temos casos de alerta como por exemplo o crescente número de casos de sarampo que ocorreu há algum tempo, fruto da desvalorização do seu impacto e da importação dos mesmos devido ao fluxo normal da globalização.
Com a pandemia da Covid-19 conseguimos presenciar o papel e a importância da vacinação, com um forte compromisso do Serviço Nacional de Saúde (SNS). No entanto, este é um trabalho coletivo que requer a colaboração de todos, incluindo academia, governo, indústria e sociedade civil. Por exemplo, só através do esforço conjunto foi possível aliar as melhores tecnologias e desenvolver vacinas candidatas inovadoras para travar este vírus, assim como produzi-las e distribuí-las em larga escala e rapidamente, assegurando segurança e atingimento das metas desejadas.
Em termos de resultados, podemos referir que, no mais recente relatório de Monitorização das linhas vermelhas para a Covid-19, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), os dados apontam que o risco de morte, medido através da letalidade por estado vacinal, diminuiu três a sete vezes após vacinação completa quando comparado com pessoas não vacinadas, para o mês de julho de 2021.[3]
Ao refletirmos sobre os números apresentados, estamos conscientes de que a fórmula ideal é reafirmarmos que o valor e o benefício da imunização compensam o elevado risco de um país confinado, do congestionamento dos serviços de saúde e do valor incalculável de todas as vidas que se perderam.
Esta é uma reflexão que devemos trazer para a atual época da gripe. Apesar de o ano passado a incidência do vírus influenza ter sido bastante reduzida, provavelmente devido à adoção de medidas de intervenção não farmacológica (máscaras, etiqueta respiratória, distanciamento físico e higienização das mãos) e ao facto de estarmos mais resguardados em casa, nada nos garante que este ano a circulação do vírus não aumente exponencialmente.
Recordamos que, anualmente, devido ao vírus da gripe, 10 milhões de pessoas são hospitalizadas devido a complicações de saúde como pneumonia ou enfarte agudo do miocárdio[4]. E, segundo o estudo BARI - Burden of Acute Respiratory Infections -, realizado em Portugal e apresentado em fevereiro de 2021, que analisou o impacto no serviço público de saúde das hospitalizações atribuíveis à gripe ao longo de 10 épocas gripais (2008/09-2017/18), conclui-se que o custo médio anual por doente é de 3.302 euros, um valor que aumenta com a idade. Isto é, nas pessoas com mais de 65 anos com comorbilidades o custo médio anual chega aos 4.714 euros, enquanto na mesma idade, mas sem outras doenças, o valor se fica pelos 2.204 euros.[5]
Encararmos assim a prevenção da gripe como uma prioridade de saúde pública, no sentido em que a gripe e as suas complicações podem e devem ser evitadas para proteger a população e reduzir a carga sobre os sistemas de saúde. Esse é um passo fundamental num contexto de pandemia Covid-19, numa fase em que o país já se encontra quase totalmente operacional.
Este investimento sustentável é economicamente eficiente pois pessoas saudáveis são mais ativas e produtivas. As estratégias de prevenção (imunização, tratamento de doenças crónicas e autocuidado) podem evitar mortes, prevenir doenças e inclusive prevenir o agravamento de outras condições de saúde, ajudando a controlar os custos futuros com saúde.
Investir na prevenção pode gerar poupanças na economia aos sistemas de saúde, que podem ser usadas para alargar o acesso a novos medicamentos transformadores.
As autoridades de saúde devem priorizar a prevenção como uma estratégia holística nos planos nacionais de saúde e assegurar financiamento para os apoiar. Prevenir é e sempre será o melhor remédio em saúde.
[4] Warren-GashC, et al. EurRespirJ. 2018:51
[5] Estudo BARI - comunicado de imprensa 20
Diretora-Geral da Sanofi Pasteur Portugal