Presidente grega diz a Merkel que a Grécia muitas vezes se sentiu sozinha

A crise financeira de uma década da Grécia, que começou no final de 2009, viu um quarto da economia do país ser dizimada. Os gregos quase saíram da zona euro. "Justificadamente sentimo-nos sós", disse a chefe de Estado grega após se reunir com Merkel em Atenas.
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A Presidente grega, Katerina Sakellaropoulou, disse esta sexta-feira à chanceler alemã, Angela Merkel, que a Grécia muitas vezes se sentiu sozinha durante a crise financeira que abalou o país a partir de 2009.

"A crise financeira que muitos países europeus enfrentaram colocou sobretudo a Grécia, que foi chamada a pagar um preço alto, numa posição difícil... e a Grécia sentiu-se -- Justificadamente sentimo-nos sós", disse a chefe de Estado grega após se reunir com Merkel, em visita ao país.

Katerina Sakellaropoulou foi a primeira a receber a chanceler cessante em Atenas, e reconheceu que entre as duas nações "houve momentos de dificuldade e tensão.

A chanceler alemã, por seu lado, garantiu que "o diálogo foi sempre a chave" para resolver os pontos altos e baixos que sofreram as relações bilaterais com a Grécia.

Merkel sublinhou que no âmbito europeu, a união é a ferramenta que dá "força" para superar todos os desafios.

Em encontro com a Presidente da Grécia, a chanceler alemã, que faz sua quinta e última visita oficial à Grécia hoje, reconheceu que a crise do euro abalou "particularmente" os gregos, mas evitou fazer uma avaliação do destaque que a Alemanha teve nesse assunto.

A crise financeira de uma década da Grécia, que começou no final de 2009, viu um quarto da economia do país ser dizimada e a Grécia quase saiu da zona euro.

A Alemanha foi o maior contribuinte individual para três pacotes de resgate internacionais sucessivos que a Grécia recebeu de 2010 a 2018.

Mas os empréstimos de resgate vieram com restrições. A economia da Grécia foi colocada sob supervisão estrita e uma série de reformas profundamente ressentidas foram impostas, incluindo repetidos aumentos de impostos e cortes nas pensões, salários e gastos públicos para tudo, desde cuidados de saúde a infraestrutura.

A economia grega sofreu anos de má gestão e gastos excessivos de dinheiro público, o que contribuiu para sua terrível situação financeira e desencadeou a crise, levando às condições impostas em troca do resgate foram particularmente duras.

Muitos gregos culparam Merkel - e seu ministro das finanças, Wolfgang Schaeuble - pela austeridade imposta que levou à queda dos padrões de vida e à depressão económica. A certa altura, a taxa de desemprego atingiu 28%, com o desemprego dos jovens a ultrapassar os 60%.

À medida que a situação financeira do país melhorava gradualmente, o mesmo acontecia com as relações com a Alemanha e com o sentimento do público em geral em relação à própria Merkel.

"Acredito que o tempo que passou e as experiências vividas durante este período contribuíram para o entendimento mútuo e para a obtenção de conclusões úteis para o presente e o futuro", disse Sakellaropoulou.

"É importante que a Europa mantenha a sua coesão, e isso ficou demonstrado no tratamento da pandemia e no Fundo de Recuperação Económica".

A chanceler alemã sublinhou hoje boa cooperação que se formou entre os dois países durante a crise migratória, quando trabalharam "muito bem juntos e de forma construtiva".

Ambas as líderes concordaram que nas recentes crises que o mundo passou recentemente, como a pandemia do novo coronavírus, a Europa deu mostras de unidade, o que se refletiu na criação do fundo de recuperação económica.

No entanto, Katerina Sakellaropulu pediu à Alemanha e aos parceiros europeus um maior apoio nos problemas "nacionais" da Grécia, aludindo às suas difíceis relações com a Turquia, que não mencionou explicitamente.

A Grécia é um parceiro "fiel" e espera um apoio mútuo, sempre no respeito do direito internacional, sublinhou Sakellaropulu, referindo-se às contínuas provocações do país vizinho no Mediterrâneo oriental.

Como mensagem de despedida, a Presidente grega desejou à chanceler alemã tempo para sua família e amigos e para fazer coisas que a "façam desfrutar", embora esteja convencida de que continuará a ser "muito ativa" politicamente.

Merkel respondeu que continuará a ser uma pessoa politicamente conscienciosa, mas que agora abrirá mão das suas responsabilidades.

Após o seu encontro com Sakellaropoulou, Merkel encontrou-se com o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, em cuja residência particular já havia jantado na noite de quinta-feira, após chegar a Atenas.

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