Presidente do Parlamento Europeu morre aos 65 anos em hospital italiano
O presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, morreu esta terça-feira aos 65 anos, após mais de duas semanas num hospital em Itália, devido a uma disfunção do seu sistema imunitário, disse o seu porta-voz, Roberto Cuillo.
"O Presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, morreu à 1.15 da manhã [00:15 em Lisboa] do dia 11 de janeiro no hospital de Aviano, Itália, onde se encontrava hospitalizado. A data e o local do funeral serão comunicados nas próximas horas", escreveu Cuillo na sua conta na rede social Twitter.
David Sassoli estava hospitalizado com "complicações graves" devido a uma "disfunção do sistema imunitário".
Sassoli contraiu uma pneumonia em setembro de 2021, que o obrigou a receber tratamento hospitalar em Estrasburgo, França, e, embora tenha recebido alta hospitalar uma semana depois, prosseguiu a recuperação em Itália e esteve mais de dois meses ausente das sessões plenárias do Parlamento, regressando no final do ano.
A presidente da Comissão Europeia lamentou a morte de um querido amigo. "Entristece-me profundamente a morte de um grande europeu e italiano", escreveu Ursula von der Leyen na sua conta na rede social Twitter.
"David Sassoli era um jornalista apaixonado, um extraordinário presidente do Parlamento Europeu e, sobretudo, um querido amigo. Os meus pensamentos estão com a sua família. Descansa em paz, caro David", acrescentou.
O presidente do Conselho Europeu expressou também a sua tristeza e comoção após a morte do líder do Parlamento Europeu.
"Sinto-me triste e comovido após o anúncio da morte do presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli", escreveu Charles MIchel na sua conta na rede social Twitter.
"Já sentimos a falta do seu calor humano, da sua generosidade, da sua simpatia e do seu sorriso. Sinceras condolências à sua família e amigos", acrescentou.
As bandeiras da União Europeia (UE) na sede da Comissão Europeia, em Bruxelas, foram colocadas a meia-haste.
"As bandeiras da UE estão a meia-haste em memória de David Sassoli, notável presidente do Parlamento Europeu, um europeu apaixonado e um italiano orgulhoso", indicou o executivo comunitário numa nota divulgada na rede social Twitter, juntamente com uma fotografia da homenagem, realizada no edifício Berlaymont, sede da Comissão.
"Ao lamentarmos a sua morte, a UE está com a sua família e o povo italiano", adiantou a Comissão Europeia.
O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou a morte do presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, que descreveu como "um grande europeísta", de "caráter humanista".
Através de uma nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa "lamenta, com profundo pesar, o falecimento prematuro do presidente do Parlamento Europeu David Sassoli, endereçando à família e ao Parlamento Europeu as sentidas condolências".
"David Sassoli era um grande europeísta e deu um importante contributo como presidente do Parlamento Europeu para a defesa dos valores da União Europeia, nomeadamente da democracia e da solidariedade, revelando sempre o seu caráter humanista ao longo do mandato que exerceu com elevação. Foi um jornalista de grande prestígio em Itália, reconhecido pela sua competência e afabilidade", lê-se na mesma nota.
O Presidente da República Portuguesa "recorda já com saudade os diversos encontros que tiveram, ainda recentemente em dezembro passado em Estrasburgo, as excelentes relações institucionais e o trato sempre afável de David Sassoli".
O primeiro-ministro português, António Costa, recebeu hoje com "profunda tristeza" a notícia da morte do presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, "um amigo", com quem trabalhou de perto nos últimos dois anos.
"É com profunda tristeza que lamento a morte de David Sassoli. Um amigo com quem tive o privilégio de trabalhar muito proximamente nos últimos dois anos", escreveu António Costa na rede social Twitter.
O vice-presidente do Grupo do Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos), Paulo Rangel, afirmou que a Europa perdeu um europeísta com a morte de David Sassoli.
Numa mensagem na rede social Twitter, Paulo Rangel disse que David Maria Sassoli, "o presidente europeísta e humanista, era um colega atento, humano".
"O homem da comunicação e da cultura, sempre pronto a fazer pontes. A Europa perdeu um europeísta, nós perdemos um amigo", escreveu Paulo Rangel.
O líder da bancada socialista do Parlamento Europeu, Carlos Zorrinho, lamentou a "triste notícia" do falecimento do presidente da assembleia europeia, David Sassoli, lembrando-o como um "líder que deixa obra feita e saudades".
"Uma notícia triste que lamentamos, de um homem que liderou o Parlamento Europeu num momento difícil e em que foi capaz de mobilizar uma resposta solidária e comprometida à pandemia, no plano sanitário, económico e social", assinala Carlos Zorrinho, numa nota enviada à Lusa.
Para o líder da bancada do PS na assembleia europeia, David Sassoli "é um líder que deixa obra feita e saudades a todos os que com ele privaram".
"A delegação portuguesa envia as mais sentidas condolências à família, aos amigos e à delegação italiana do Partido Democrático, que integrava", adianta Carlos Zorrinho.
A delegação do Bloco de Esquerda ao Parlamento Europeu considerou David Sassoli "um defensor da democracia de toda a vida".
"Tenho o maior respeito e admiração por David Sassoli, um homem profundamente empenhado na defesa do Parlamento e um defensor da democracia de toda a vida. Um colega gentil, simpático e dialogante. Um presidente que trabalhou arduamente para que o Parlamento mantivesse o seu papel e para que o seu funcionamento fosse democrático em tempos de pandemia", declarou a eurodeputada Marisa Matias à Lusa.
"Sinto que lhe devemos um agradecimento sincero. Parte cedo de mais", concluiu a deputada do Bloco.
A delegação do PCP ao Parlamento Europeu (PE) destacou a "correção" da atuação de David Sassoli enquanto presidente da assembleia, apesar de "naturais divergências em momentos importantes".
"Enquanto presidente do PE, e pesem naturais divergências em momentos importantes, David Sassoli pautou-se pela correção na relação com os vários grupos políticos, nomeadamente com o Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica que os deputados do PCP no Parlamento Europeu integram", lê-se, numa declaração à Lusa.
Os deputados do PCP assinalam ainda que, "no exercício das suas funções como presidente do PE, importa mencionar a posição corajosa que teve, em nome do rigor histórico, quando a câmara a que presidia, aprovou uma ignominiosa resolução que, procedendo a uma falsificação da história, pretendia equiparar fascismo e comunismo".
"David Sassoli, nesse momento, recorrendo até à experiência histórica do seu próprio país, veio relembrar o óbvio: que não se pode equiparar a vítima ao carrasco, considerando incorreta aquela comparação e lembrando o papel dos comunistas e da URSS na libertação da Europa do nazi-fascismo", declaram.
David Sassoli foi um dos jornalistas mais reconhecidos em Itália, carreira que deixou para integrar o Partido Democrático, pelo qual foi eleito eurodeputado em 2009 e presidente do Parlamento Europeu em 2019.
David-Maria Sassoli nasceu em Itália, a 30 de maio de 1956, e durante a década de 1970 licenciou-se em Ciência Política pela Universidade de Florença, cidade de onde era natural.
Enveredou pelo jornalismo em 1986, quando começou a trabalhar em jornais e agências noticiosas locais até chegar ao jornal nacional Il Giorno, em Roma.
Em 1992, passou para a estação de televisão pública italiana, a Rai, onde se iniciou como repórter de notícias televisivas e correspondente do TG3 (um dos canais do grupo).
Posteriormente, trabalhou em programas noticiosos na Rai Uno e Rai Due, antes de se juntar à redação do TG1 em 1996 como correspondente especial.
Durante os 10 anos seguintes, foi responsável pela gestão das emissões noticiosas em horário nobre e pela cobertura dos principais eventos nacionais e internacionais.
Em 2007, tornou-se diretor-adjunto do TG1.
Pelo meio, integrou a associação italiana Articolo 21, liberi di... ("Artigo 21.°, livres de..."), fundada em 2001 e que reúne jornalistas, escritores e advogados para a defesa da liberdade de expressão.
Em 2009, David Sassoli deixou a carreira jornalística e filiou-se no Partido Democrático italiano, de centro-esquerda, fundado dois anos antes.
Concorreu nesse ano às eleições ao Parlamento Europeu pelo círculo da Itália Central e foi eleito eurodeputado, assumindo também funções de líder da bancada parlamentar do Partido Democrático italiano entre 2009 e 2014.
Em outubro de 2012, Sassoli concorreu às primárias do Partido Democrático italiano para ser o candidato do partido a presidente da câmara de Roma nas eleições municipais de 2013, mas não conseguiu ir além do segundo lugar.
Já nas eleições europeias de 2014, quando o Partido Democrático foi o mais votado em Itália, David Sassoli foi reeleito eurodeputado.
Ainda nesse ano, o responsável chegou a vice-presidente da assembleia europeia.
Mais recentemente, nas eleições europeias de 2019, foi reeleito eurodeputado em maio desse ano e acabou ainda por ser o candidato dos socialistas para presidente do Parlamento.
Conseguiu a liderança da instituição em 3 de julho de 2019, sucedendo no lugar ao também italiano Antonio Tajani.
Foi o sétimo italiano a presidir ao Parlamento Europeu, num mandato que deveria terminar em janeiro próximo.
Na vida privada, era casado e tinha dois filhos.
Na próxima semana, na primeira sessão plenária do ano, o Parlamento Europeu deverá eleger um presidente da assembleia, algo que já estava previsto a meio da atual legislatura, e não relacionado com o estado de saúde de Sassoli.
A maltesa Roberta Metsola, do Partido Popular Europeu (PEE), é a favorita para suceder ao dirigente socialista italiano, que assumiu o cargo no verão de 2019.