Presidente das Misericórdias pede testes à imunidade dos idosos vacinados há mais tempo
O país acordou ontem com mais uma notícia sobre um surto de covid-19 em lares. Um surto que parece já estar controlado, mas que envolveu 127 infetados - 22 profissionais e 105 utentes - e a morte de um utente. Um surto que surgiu numa instituição da Misericórdia de Proença-a-Nova, onde "todas as pessoas, quer profissionais quer utentes, estavam vacinadas com as duas doses", assegura ao DN Manuel Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP).
E se nos casos anteriores, conhecidos em junho, que reportaram a lares de Mafra e de Faro, onde houve três mortes, duas no primeiro concelho e uma no segundo, os utentes tinham sido vacinados, mas os profissionais não, porque alguns rejeitaram a vacinação, acabando por ficarem infetados, aqui não foi o caso.
O que faz alguns questionarem-se sobre como é que é possível. Ou melhor, como é que o vírus pode atingir uma população completamente vacinada? Quanto tempo dura a imunidade num vacinado ou numa pessoa infetada é uma questão para a qual a própria ciência ainda não tem certezas, mas já pode explicar que, em primeiro lugar, e como tem sido explicado por cientistas, nenhum medicamento nem nenhuma vacina é 100% eficaz - portanto, há sempre uma percentagem reduzida de pessoas que podem não desenvolver a quantidade necessária de anticorpos para ficarem protegidos. Em segundo lugar, porque se há algo que se sabe é que a imunidade vai reduzindo ao longo tempo. E é esta situação que faz Manuel Lemos defender, que, se calhar, "está na hora de se começar a pensar a sério na realização de testes à imunidade dos idosos, sobretudo aos que já foram vacinados há mais de seis meses".
No caso de Proença-a-Nova, Manuel Lemos diz que a indicação que tem é que a unidade terá sido das primeiras do país a ser vacinada. "Segundo sei foi ainda em dezembro e estavam todos vacinados. Como é que se explica a situação? Só se formos avaliar a imunidade das pessoas."
A origem do surto, segundo explicou ao DN, pode estar num utente que teve necessidade de receber cuidados numa unidade hospitalar. "Pensa-se que tenha vindo de lá infetado e que infetou os outros, mas se foi infetado e estendeu a doença é porque a imunidade nestas pessoas já é baixa e não dá proteção", sublinha, embora admita: "Não sou cientista, estes é que podem explicar a situação, mas julgo que se deve pensar seriamente na solução dos testes à imunidade e na discussão sobre se há ou não necessidade de uma terceira dose."
DestaquedestaqueA região de Lisboa e Vale do Tejo é a que conta maior número de surtos ativos, 25, com 270 pessoas infetadas. Depois, é a do norte, dez surtos e 247 pessoas infetadas.
Manuel Lemos diz saber que algumas misericórdias optaram por fazer testes de imunidade aos utentes e "recolheram dados muito díspares, uns tinham cerca de 80% de anticorpos, outros menos e outros apenas 10%. Se é assim numa população vacinada há mais tempo, estamos a correr riscos", acrescentando, "se calhar, vale a pena os cientistas avaliarem a necessidade de uma terceira dose. Se uma pessoa tiver ainda cerca de 80% de imunidade, não precisa de ser vacinada, mas se tiver 10%, já pode justificar, mas deixo esta discussão para quem sabe".
A Direção-Geral da Saúde (DGS) confirmou ontem que, até segunda-feira, dia 2 de agosto, havia 53 surtos ativos em lares de idosos em todo o país, envolvendo 829 infetados. A região de Lisboa e Vale do Tejo era a que contava maior número de surtos, 25, com 270 pessoas infetadas. Depois, era a do norte com dez surtos e 247 pessoas infetadas, a do Alentejo tinha oito surtos e 68 infetados, a do centro seis surtos e 138 infetados e a do Algarve quatro surtos e 106 pessoas infetadas. A 22 de junho, quando a DGS também disponibilizou estes dados, havia apenas "seis surtos em lares", que envolviam "54 casos de covid-19, e muitos deles já recuperados".
Mas foi neste período que se registaram três mortes em idosos. Na altura, o próprio presidente da UMP veio pedir ao Estado que fizesse algo a nível da legislação para impor a vacinação aos profissionais que trabalham com grupos de risco. Ao que se sabe, nada foi feito ainda. Na altura, e segundo afirmou ao DN Manuel Lemos, havia ainda lares com profissionais e utentes por vacinar. "Há cerca de 8 mil pessoas que ainda não estão vacinadas", disse, explicando que tal acontecia por alguns terem sido infetados e ainda não poderem receber a vacina e por haver profissionais que a rejeitaram.
Passado mais de um ano do início da pandemia, Manuel Lemos diz acreditar no que muitos cientistas dizem, que "este vírus se vai tornar num vírus da gripe, portanto agora podemos discutir a terceira dose, mas daqui a uns meses, se calhar, estamos a discutir uma dose todos os anos".