Presidente da Somália suspende primeiro-ministro no meio de luta pelo poder
O presidente da Somália, Mohamed Abdullahi Mohamed, anunciou ontem a suspensão do primeiro-ministro, no dia seguinte a uma divergência pública sobre eleições, há muito adiadas no país. O governo de Mohamed Hussein Roble considera o gesto inconstitucional, falando mesmo de um "golpe indireto" por parte do chefe de Estado, no meio de uma luta por poder no país.
"O presidente decidiu suspender o primeiro-ministro Mohamed Hussein Roble e pôr fim aos seus poderes desde que foi ligado à corrupção", indicou o gabinete de Mohamed Abdullahi Mohamed. Em causa está a acusação de que o chefe de governo roubou terras que pertenciam ao exército e depois interferiu com a investigação do Ministério da Defesa. Os restantes membros do Conselho de Ministros continuam nos seus cargos.
Em resposta, o gabinete do primeiro-ministro emitiu um comunicado em que expressa que este está "empenhado em não ser travado por ninguém no cumprimento dos seus deveres nacionais de forma a liderar o país às eleições que abram o caminho para a transferência pacífica do poder". O vice-ministro da Informação, Abdirahman Yusuf Omar Adala, acusou o presidente de empreender um "golpe indireto". Já um porta-voz do executivo, Mohamed Ibrahim Moalimuu, defendeu que a ação presidencial é inconstitucional e que Roble irá continuar com os seus deveres.
As tensões entre o presidente, conhecido como Farmajo, e o seu primeiro-ministro têm sido recorrentes. No domingo, este último acusou o chefe de Estado de sabotar o processo eleitoral, depois de Farmajo ter decidido retirar a Roble a responsabilidade pela organização das eleições, há muito aguardadas e na origem de uma grave crise institucional.
Presidente desde 2017, Farmajo viu o mandato terminar em 8 de fevereiro sem um acordo com os líderes regionais sobre a organização do escrutínio para eleger o novo presidente, regido na Somália por um sistema eleitoral complexo e indireto. Em abril, anunciou unilateralmente que o seu mandato presidencial seria prolongado por dois anos, o que provocou confrontos armados em Mogadíscio, levando entre 60 mil e 100 mil pessoas a sair de sua casa. A situação foi resolvida depois de o presidente pôr o primeiro-ministro à frente da organização do escrutínio, assim como da segurança e de reverter a decisão de prolongar o mandato, ficando como interino desde fevereiro.
As eleições, que começaram a 1 de novembro, deviam ter terminado a 24 de dezembro. Contudo, só 24 dos 275 deputados terão sido eleitos até sábado, segundo a Reuters. No domingo, o gabinete do presidente disse que Roble representava uma "séria ameaça ao processo eleitoral" e estava a "ir para lá do seu mandato". O gabinete do primeiro-ministro respondeu, alegando que Farmajo estava a gastar "tanto tempo, energia e dinheiro a frustrar as eleições" que estava a "inviabilizar todo o processo".
A embaixada norte-americana na Somália apelou à calma no Twitter. "Instamos veementemente os líderes da Somália a darem passos imediatos para desescalar a tensão em Mogadíscio, evitando ações provocativas e evitando a violência."
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