Presa Danúbia Rangel, a primeira-dama da favela da Rocinha

Casada com o traficante Nem e viúva de dois outros, ostentava vida de luxo mesmo durante o ano e meio em que esteve foragida.
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"Quem nasceu para rainha nunca perde a majestade", escreveu nas redes sociais Danúbia Rangel, como legenda para uma foto em que surgia, como de costume, de biquíni curtíssimo, pele bronzeada e muitos ouros, uma semana antes de ser detida, esta terça-feira, no Rio de Janeiro. Mesmo foragida há ano e meio depois de condenada a 28 anos de prisão, a mulher do chefe do tráfico da Rocinha, considerada peça central da guerra na maior favela do Brasil, não hesitava em fazer publicações na internet a provocar a polícia e os inimigos.

A guerra na Rocinha, principal polo de tráfico de cocaína no Rio situada entre bairros turísticos junto à orla carioca, começou há cerca de um mês, por ordem do marido de Danúbia, o traficante Antônio Lopes, preso numa cadeia de segurança máxima em Porto Velho, na Rondônia, a mais de 3500 quilómetros da favela. Lopes, conhecido como Nem, mandou os seus aliados deterem o seu ex--guarda-costas Rogério Silva, conhecido como Rogério 157. Este chegou ao poder na Rocinha após executar o braço-direito do ex--chefe Ítalo Campos, que tinha o nome de guerra Perninha. Além disso, Rogério 157, para fúria de Nem, ainda expulsou Danúbia, que os locais conhecem por "primeira-dama da Rocinha" ou "xerifa da favela".

Desde então, os tiroteios entre as fações de Nem e Rogério 157 causaram um balanço parcial de seis mortos e quatro feridos, sete mil crianças sem aulas, postos de saúde e transportes a meio gás, parte dos 70 mil habitantes da região sem energia, toque de recolher obrigatório imposto pelos traficantes e tiroteios diários enquanto 950 soldados do exército e as polícias federal e estadual cercam o local e vão apreendendo metralhadoras e outras armas.

No meio do caos, Danúbia, que é viúva de dois líderes do tráfico de outra favela, a Maré, continuava a publicar na internet. "Olha eu e minhas coleguinhas bombando por aí", escreveu ao lado de um panfleto com as fotos das mulheres mais procuradas pela polícia. Para completar, emojis com caras a chorar a rir.

Conta o inglês Misha Glenny no seu livro O Dono do Morro, sobre a vida de Nem, que Danúbia, sua quinta mulher, é "o amor da sua vida": Nem, escreve Glenny, poderia ser descrito como "um déspota esclarecido" e "um criminoso pacato". Mas ao lado de Danúbia, parte da pacatez desapareceu por conta do estilo de vida de ostentação dela - chegaram a contratar DJ norte-americanos para animar a favela, circulavam em carros desportivos, organizavam festas de luxo.

Uma vez preso, Nem terá dado instruções para Danúbia, lado a lado com Perninha, assumir o controlo da Rocinha, plano derrubado por Rogério 157 e pelo machismo do mundo do tráfico que não vê com bons olhos lideranças femininas, ainda para mais sendo a "xerifa da favela" de outra comunidade, a Maré.

Expulsa da Rocinha, Danúbia ficou mais exposta à perseguição policial. Mas ainda assim continuou a publicar nas redes fotos dela em festas e selfies sob o título "foragida mas de boa". Num dos posts, publicou um perfil seu do jornal O Globo, onde era comparada à vilã Bibi Perigosa, personagem da atriz Juliana Paes na telenovela A Força do Querer. "Viu só como eu estou poderzão ainda?", acrescentou.

Terça-feira, a "primeira-dama da Rocinha" saía de casa de uma amiga no morro do Dendê, onde se refugiara, quando foi detida pela polícia. "Ela é só uma vítima, não tem culpa de nada", escreveu num dos perfis de Danúbia um dos seus muitos fãs, após a notícia da prisão. "Foi importante a detenção porque interrompemos a fonte de distribuição de informação do Nem", festejaram os polícias. Agora, os esforços das autoridades concentram-se na prisão de Rogério 157, inimigo de Nem e de Danúbia, escondido algures na mata carioca.

Em São Paulo

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