Praguejar é um alívio

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"Puta que pariu..." De todas as asneiras do vernáculo português, esta é a minha preferida. Não é a que gritamos quando nos salta a tampa, não é para este sítio que mandamos alguém que se atravesse à má fila num cruzamento quando o sinal está verde para nós. Esta é a que deixamos escapar de mansinho, entre dentes, acompanhada de um abanar de cabeça quando estamos desapontados com o mundo, quando olhamos para a cagada que acabámos de fazer por entornar a água toda do esparguete em cima da bancada, quando reparamos que há 35 pessoas à nossa frente na fila das Finanças ou quando percebemos que, apesar de serem oito e meia da manhã, já não há mais senhas para renovar o Cartão de Cidadão.

Há quem substitua o "puta que pariu" pelo "c'um caralho". Deve ler-se baixinho, um alívio sussurrado, mas não tão apagado a ponto de não se ouvir. Porque as asneiras, para fazer efeito, têm de ser proferidas. Não podem apenas ser pensadas. Assim não resultam. Por vezes podem vir com reticências, como estas duas, outras com pontos de exclamação. Com um valente "foda-se!", por exemplo. Quando nos queimamos, quando batemos com o carro, quando damos uma cabeçada num armário, quando pisamos uma peça de lego com o pé descalço a meio da noite.

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