Para o diretor deste jornal da Andaluzia, comunidade que faz fronteira com Portugal, chegam tempos difíceis e incertos. Mas estes, sublinha José Antonio Carrizosa, devem ser bem aproveitados pelo novo presidente da Junta..Juanma Moreno, líder do Partido Popular andaluz, será eleito nesta quarta-feira líder do governo andaluz, com o apoio do Ciudadanos e do controverso partido de extrema-direita Vox..O diretor do Diario de Sevilla considera, apesar de tudo, que esta é uma mudança própria das democracias, que vai ter como protagonistas partidos que não ganharam as eleições autonómicas andaluzas de 2 de dezembro..Quem ganhou, embora com o pior resultado de sempre, foi o PSOE de Susana Díaz, até agora presidente da Junta. A chegada ao poder de um presidente do PP põe fim a 37 anos de domínio socialista na Andaluzia..Depois de 37 anos de governo socialista na Andaluzia, esta mudança política é positiva para os andaluzes? Sem dúvida nenhuma, a alternância é a base da democracia. Desta vez deu-se uma circunstância particular, uma coligação de perdedores. Não é a primeira vez que acontece na política espanhola. Os perdedores conseguirem afastar o vencedor do governo. É assim que funciona a maioria parlamentar. E, objetivamente, para a Andaluzia vai ser bom esta mudança..Uma coligação de perdedores pode ser boa para a Andaluzia? É uma solução peculiar. A direita decidiu fazer uma experiência na Andaluzia depois dos resultados eleitorais de 2 de dezembro. Mas é um pouco forçada. Um dos aliados do governo, o Ciudadanos, não fala com um aliado parlamentar, o Vox, que vai permitir a formação desse mesmo governo. O Partido Popular vai ter de ser um mediador constante entre Ciudadanos e Vox e isto faz imaginar uma legislatura complicada..Quais são os medos deste frágil governo? Há um programa de governo com 90 medidas que tem uma boa parte do pacto de tomada de posse que tiveram PSOE e Ciudadanos. Há muitas medidas comuns que já estavam previstas e não se puseram a funcionar. Mas agora a saúde da legislatura andaluza vai depender de como o Vox quer marcar a sua presença no Parlamento. Os seus votos são necessários para tudo, seja algo grande, médio ou pequeno. Segundo me transmitiu um responsável do Vox andaluz, eles não descartam a hipótese de chumbar medidas do governo, mesmo se para isso ficarem ao lado do PSOE ou do Podemos numa votação..Ficou surpreendido com os resultados do Vox nas eleições da Andaluzia? Muito. E sobretudo eles próprios. Esperavam um ou dois deputados mas nunca os 12 que obtiveram. Na minha opinião, poucos votos foram ideológicos e muitos de revolta, um voto contra o sistema. Um fenómeno semelhante, embora oposto, ao que aconteceu em 2015 com o Podemos. A crise não passou para muitos, continuamos a ser uma sociedade com índices de desemprego alto. Mais do que de extrema-direita, são de extrema necessidade, como eles dizem e, em parte, têm razão....A presença do Vox pode crescer no território espanhol? Em 2015 saíram eleitores para o Podemos de todo lado e agora encontras pessoas que admitem votar no Vox. Vamos ver em que fica isto. O Podemos acabou por fazer todos os erros dos partidos do sistema. Com o Vox pode acontecer o mesmo, mas agora as perspetivas são boas..Considera preocupante uma possível ligação do Vox aos iranianos? É um tema que não tem tido quase repercussão, por agora, a nível da Andaluzia. Pode levantar algum problema à direção nacional mas não por cá..Quais são os pontos fortes de Juanma Moreno, o próximo presidente andaluz, do PP? Chega à presidência da Junta de Andaluzia por sorte, depois de obter os piores resultados da história do PP na Andaluzia. Mas ele representa a mudança por que tantas pessoas anseiam, tanto as que votaram no PP como as que votaram no Ciudadanos, no Vox e outras que não foram sequer votar. E Juanma Moreno deve aproveitar o desejo de mudança que existe na sociedade, com as margens estreitas de manobra que vai ter. A curto prazo vai ser difícil que a educação, a saúde, o desemprego... melhorem os seus índices. Deve fazer coisas para chamar a atenção das pessoas. Uma das primeiras será acabar com o imposto de sucessão e doação. É uma pessoa comedida e prudente que não vai fazer asneiras..O Ciudadanos joga a sua credibilidade neste governo? O Ciudadanos deu um triplo salto mortal ao passar de apoiante de Susana Díaz [até agora presidente da Junta e líder do PSOE na Andaluzia] a apoiante do PP. Vamos ver as consequências. Estão a ver como correm as coisas..E Susana Díaz como fica? Fica como líder da oposição, um papel que não imaginava há dois meses. Ela não tem boa sintonia com a direção central do partido [primeiro-ministro Pedro Sánchez] e isso vai ter consequências. É uma personagem política de grande dimensão e vai tentar resistir o mais possível. O seu futuro vai depender muito dos resultados de eleições como as autárquicas ou as legislativas. A curto prazo, vai continuar na primeira linha, mas tem um desafio importante..Eram necessárias as barricadas? Não se percebe esta atitude. A mudança de governo é resultado da vontade dos andaluzes. Que um partido como o PSOE fomente protestos em frente ao Parlamento por grupos de feministas não se justifica. Parece que os socialistas não assimilaram ainda a derrota.