O comboio anda degradado, chega atrasado, quando não é suprimido, e em dias de muito calor o ar condicionado estoura e foi por isto que o CDS o apanhou, já em andamento, para melhor chegar à estação das críticas ao governo socialista. Os centristas apontam uma alternativa ao estado das coisas: concessionar a privados determinados serviços..Dirigentes e deputados do partido embarcaram nesta semana em vários itinerários pelo país para demonstrar sobre carris o "colapso" a que chegou a CP. À esquerda, PCP, BE e PEV acusam os centristas de oportunismo da parte de quem esteve antes no governo e contribuiu para a atual situação de rutura..Não é de agora a preocupação do CDS pelo estado da ferrovia. Em janeiro de 2017, um primeiro projeto de resolução da bancada centrista acabou aprovado por quase todas as bancadas (só destoou a abstenção socialista) a recomendar ao governo a requalificação e a modernização da Linha do Vouga. Foram 13 perguntas dirigidas ao executivo socialista na 3.ª sessão legislativa e três projetos de resolução em 2017..O PCP critica o "cinismo político" dos centristas, eles que também já tinham apanhado o Vouguinha em 2015, com o governo de direita no poder, denunciando muito do que o CDS diz agora. O eurodeputado centrista, Nuno Melo, recorda que o país estava sob resgate. "Não é a mesma coisa falar da ferrovia com o país intervencionado e agora", defende..Melo recusa que se olhe para a gestão da CP sob a ótica de uma empresa que foi dirigida de 2013 a 2017 por um antigo deputado e dirigente centrista, Manuel Queiró. "É um gestor público, não é um dirigente partidário. A menos que se queira agora catalogar todas as pessoas que sejam filiadas." Mas justifica que "qualquer administrador" - e "Manuel Queiró não é exceção" - "não fará grande coisa perante um governo que faz reversões, cativações, cortes de investimento e desvio de fundos comunitários"..Para o CDS, um dos caminhos alternativos ao atual estado das coisas é a concessão. Nuno Melo exemplifica com a Fertagus ou os Estaleiros de Viana e recorda que a entrega da Linha de Cascais foi travada. "Não é que se privatize", defende, mas "há espaços para entregar a privados para melhorar" o serviço..Há um antes e um depois do governo socialista, acusa Melo. O eurodeputado estabelece claramente o momento em que tudo piorou: "Desde 2015", apontou ao DN, "temos o maior desinvestimento público na ferrovia de décadas". "Nunca se investiu tão pouco na ferrovia" como desde a entrada do atual executivo socialista, com o apoio parlamentar da esquerda.."Está estabelecido em plano, o Ferrovia 2020, precisamente pelo reconhecimento das carências na ferrovia, aquilo que o governo faria com uma execução que está programada para através de investimentos corrigir algumas deficiências, que muitas já tinham sido inventariadas", aponta. "O que é um facto", atira o eurodeputado, é que o "Ferrovia 2020 tem neste momento uma taxa de execução que rondará, a correr bem, os 15%. A maior parte das iniciativas que estavam calendarizadas para serem concluídas no primeiro trimestre de 2018 nunca saíram do papel"..O gabinete do ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, viaja a outra velocidade. Segundo informações deste gabinete, "o lançamento do plano Ferrovia 2020 - em fevereiro de 2016, poucos meses após a tomada de posse - representa bem a prioridade da ferrovia para este governo", no que é "o maior investimento das últimas décadas nesta área: mais de dois mil milhões de euros, com apoio dos fundos europeus, para modernizar cerca de mil quilómetros de linha (quase metade de rede ferroviária nacional)"..O gabinete de Pedro Marques admite ao DN que "o programa tem sofrido alguns atrasos face ao calendário avançado pelo próprio governo" mas afirma que quem começou por perder o comboio foi "o governo anterior": "Além de nada ter investido na ferrovia, nem sequer avançou com os projetos do programa que tinha para os transportes (PETI 3+), pelo que foi necessário realizar os projetos a partir do zero", acusa o executivo..Do lado do CDS, Nuno Melo devolve com "as reversões, as cativações, a falta de investimento público, o desperdício de fundos comunitários e uma certa visão dogmática estatizante do setor, que é transportada para a solução de governo pelo PCP e pelo Bloco" leva à atual situação de "supressões a toda hora", "incapacidade de reparação e manutenção" ou comboios que não partem "porque não há gasóleo"..BE, PCP e PEV insistem que há muito mais a investir na ferrovia. "Para o BE aquilo que é relevante é a falta de investimento prometido em material circulante e contratação de pessoal, que também falta, e que não foi cumprido", disse Catarina Martins. Mas lembram o papel do CDS. Manuela Cunha, do PEV, acusa os centristas de "não terem autoridade moral ou política para se queixarem". "O presidente da administração era do CDS e não fez as revisões aos alfas." O comboio da política mal saiu ainda da estação..Parlamento de urgência.A conferência de líderes parlamentares decide nesta segunda-feira se o Parlamento vai reunir a sua Comissão Permanente, antes da reunião prevista para 6 de setembro, para debater com urgência o estado da ferrovia, como pretende o CDS, que quer ainda ouvir o ministro da tutela..O governo insiste que tem "obras em curso ou concluídas nas linhas no Norte, Minho, Douro, Beira Alta, Beira Baixa e Leste. Estamos prestes a lançar concursos para o Oeste e Algarve" e que, "para Cascais, haverá 50 milhões de euros da reprogramação do Portugal 2020". "O governo anterior tinha previsto a sua concessão a privados, mas com o apoio dos fundos europeus, só que não reservou esses fundos em lado algum", acusa o atual executivo.