Portugueses condenam medida anti-imigração muçulmana dos EUA
Portugal juntou-se ontem ao coro de críticas contra a decisão do presidente Donald Trump em impôr restrições ou proibição indefinida de entrada nos EUA a naturais de sete países muçulmanos, incluindo refugiados.
O Chefe do Estado lembrou que os portugueses privilegiam a "abertura, tolerância e ecumenismo" face aos estrangeiros. "Gostamos de nos dar com os outros, esperando sempre que os outros se deem connosco da mesma maneira", sublinhou Marcelo Rebelo de Sousa, no final de um encontro com o homólogo grego em Coimbra.
O chefe da diplomacia portuguesa manifestou "muita preocupação" com a medida de Trump, lembrando que ela é ilegal à luz do direito português e europeu. "Quando cometemos o erro de não distinguir com clareza o que são religiões do que é inspiração supostamente religiosa de filiações terroristas, podemos estar a contribuir para radicalizar ainda mais", frisou Augusto Santos Silva, também em Coimbra.
É necessário "ter sempre o cuidado de distinguir o que é uma religião", argumentou Santos Silva, salientando que "todas as grandes religiões são a favor da dignidade humana, são a favor da paz" e que é preciso distingui-las de "leituras erradas, inaceitáveis, de preceitos religiosos, sejam eles quais forem".
"Há um ponto que me parece muito importante", prosseguiu o governante, "segundo a qual temos de lutar contra o terrorismo e para lutar eficazmente contra o terrorismo, temos de lutar contra as causas do terrorismo". Por isso não devem ser adotadas "medidas que possam levar à radicalização de pessoas, em particular dos jovens", alertou Augusto Santos Silva.
"Profundamente perturbada" foi como ficou a Fundação Champalimaud, disponibilizando-se a apoiar - num texto publicado em inglês no seu site na Net - académicos afetados pela decisão dos EUA. "Encorajamos os cientistas afetados por esta ordem que possam estar retidos na Europa a contactar-nos. Faremos todos os esforços para dar resposta às vossas necessidades aqui, no Centro Champalimaud, em Lisboa, Portugal", escreveu a instituição presidida pela ex-ministra da Saúde Leonor Beleza.
Ainda no plano político, o Livre apelou à ação do Governo e de Bruxelas contra a política anti-imigração de Trump. O partido quer "que o governo português dê garantias de que todos os cidadãos que tentarem embarcar a partir de aeroportos portugueses para os EUA e cuja entrada naquele país for recusada, devido à sua origem nacional e religiosa, terão a possibilidade de permanecer em Portugal até verem a sua situação resolvida". "Recusamos ficar de braços cruzados assistindo ao desmoronar do estado de direito" e que evoca "alguns dos períodos mais negros da história da humanidade", declarou o Livre, numa petição online. Com Lusa