Portugal no Mundial sub-20 sem dinheiro mas com amigos
Por força da conquista em Bucareste, no passado mês de abril, do título europeu de sub-20, Portugal carimbou o passaporte como representante do continente no Junior World Trophy (Mundial B do escalão) que arranca esta terça-feira, no Uruguai. Os Lobitos estão integrados no grupo B que inclui ainda a seleção anfitriã, Hong Kong e as poderosas ilhas Fiji, iniciando a prova frente ao quinze da casa, no estádio Charrúa, em Montevideu, pelas 16.00 horas portuguesas.
O selecionador nacional Luís Pissarra acredita muito nos seus jovens e determinados jogadores - para aqui chegarem bateram sucessivamente Holanda, e as fortes Roménia e Espanha, esta na final - mas sabe que tudo depende da partida inaugural: "Será a mais difícil, pois os uruguaios são bastante duros, muito físicos e aceleram bastante o jogo, ainda por cima atuando perante os seus adeptos", salienta, "mas se conseguirmos vencer, então poderemos mesmo surpreender e ficar entre os quatro primeiros, o que seria um grande feito".
Contudo, o desempenho nacional irá ser muito condicionado pela pobre preparação realizada. "Já sabíamos que, tendo em conta as dificuldades financeiras da federação, as coisas iam ser complicadas. E foram. Apesar dos esforços, não conseguimos fazer qualquer jogo de preparação, cá ou no estrangeiro, pois não houve verba para tal. O que nos foi posto à disposição foi... zero." Isto ao contrário dos nossos adversários - só a título de exemplo refira-se que as Fiji realizaram um torneio com Nova Zelândia, Austrália e Samoa, e o Uruguai enfrentou Argentina, Chile, Brasil e uma série de províncias argentinas. "Espero que tenham ficado cansados" ironiza o treinador nacional...
Mesmo com a Assembleia da República a ter aprovado na altura, e por unanimidade, um voto de saudação pelo triunfo no Europeu e o presidente da federação a prometer no aeroporto, aquando da receção à seleção campeã europeia, que desta vez e para o Mundial é "que iam ser dadas condições para uma presença condigna", tal não aconteceu.
"Foi a preparação possível mas muito aquém do pretendido", revela o selecionador. "Em julho cumprimos três semanas de estágio no CAR do Jamor com boas condições. Ainda tentámos agendar um jogo com os ingleses do Gloucester que estavam a estagiar em Vilamoura, mas foi impossível dado o seu novo treinador, o sul-africano Johan Ackerman, ter chegado atrasado pela presença na final do Super Rugby e sem ele, nada seria decidido".
Os membros da Confraria do Râguebi, antigos internacionais preocupados com a situação, conseguiram juntar uma verba para ajudar (1.400 euros!) e "graças a alguns conhecimentos familiares, arranjámos um inesperado apoio da Câmara Municipal de Silves (sem quaisquer clubes a praticarem râguebi ou a mínima ligação à bola oval!) para fazermos um estágio de três dias no Silves futebol clube, com vista a tirar os atletas da sua zona de conforto". E conclui um dos Lobos presentes na gloriosa e singular aventura do Mundial 2007 em França: "Dez anos depois a preparação para um Mundial, mesmo sendo agora de sub-20, não teve mesmo nada a ver!"
Dos 26 convocados só seis não estiveram no triunfo em Bucareste (Gonçalo Prazeres, Duarte Torgal, Gonçalo Domingues, Francisco Vassalo, Francisco Filipe e Tomás Sousa Pereira) e apesar de todas estas contrariedades, a equipa vai apresentar-se muito motivada. A comitiva nacional, que desde quarta-feira se encontra em Montevideu, é chefiada pelo manager Carlos Polainas, já que e infelizmente mais uma vez, nenhum dirigente federativo, para já, se deslocou ao Uruguai...
Para o veterinário Luís Pissarra, as três semanas que irá passar no Uruguai também não foram fáceis de gerir: "Tratei de resolver com tranquilidade a minha situação familiar, o que consegui. Quanto à situação profissional acabei por chegar a um acordo com a federação..." revela sem se alongar.