40 mil dos 95 mil alunos do 2.º ciclo "não conseguiram localizar Portugal continental em relação ao continente europeu utilizando os pontos colaterais da rosa-dos-ventos. Ou seja: não conseguiram localizar o país no sudoeste da Europa", relata o DN a propósito das provas de aferição referentes ao ano letivo 16-17..Ora bem, quantos pais destas crianças sabem localizar Portugal no mapa utilizando os pontos colaterais da rosa-dos-ventos? Não estamos a falar em apontar Portugal no mapa com o dedo, estamos a falar de geografia. Duvido que muitos..Há miúdos universitários que não sabem que no século XX houve duas guerras mundiais, quem foi Gorbachev, em que ano foi o 25 de Abril ou quem é Marine Le Pen. Universitários e não miúdos do 2.º ou 3.º ciclo. Estes universitários, um dia, serão pais e, se os seus filhos nunca se cruzarem nos programas escolares com esta parte da história, nunca saberão das tragédias do mundo do século XX apenas porque ninguém lhes contou. Nem em casa nem na escola..É grave? É um facto que cada geração que passa tem mais escolaridade do que a anterior, por isso, se o nível cultural é baixo em termos médios é porque há um universo maior que se afere. E nesse universo não estão apenas alguns, estão todos. Há uns anos, 40% dos alunos não só não saberiam localizar Portugal no mapa utilizando os pontos colaterais da rosa-dos-ventos como também não saberiam o que é a rosa-dos-ventos..Por isso, não, não me parece grave. Grave são as cambalhotas que não sabem dar, não saberem saltar à corda ou andar para trás; sim, andar de costas, nunca o fizeram. E isto, sim, é grave por aquilo que quer dizer: que não brincam; e por aquilo que implica: problemas de saúde. Quer dizer que a maioria dos miúdos tem uma vida desinteressante, automatizada, compartimentada, dentro de espaços fechados e pouca convivência em grupo. E chegamos assim à origem do problema: entre os pais que não têm sequer tempo para ir às compras e a escola que nem consegue dar resposta aos alunos com maiores dificuldades, o que fazer?.Para já, assobiamos todos para o ar de prova de aferição em prova de aferição, mas mais tarde ou mais cedo vamos mesmo ter de dar uma volta de 180 graus à escola e perceber que os miúdos de hoje só aprendem o que é a rosa-dos-ventos a partir do GPS e que mais importante do que isso é aprenderem a subir ao raio de uma árvore ou a andarem de costas sem que para isso precisarem de ser atletas federados.