Um duelo ibérico estratégico com sabor a ferro
Este duelo ibérico (pandémico e estratégico) merecia golos. Espanha foi mais empolgante, teve mais bola e obrigou Rui Patrício a brilhar para impedir Dani Olmo e Gerard Moreno de fazer estragos. O guarda-redes português é o grande responsável pelo primeiro jogo em branco de nuestros hermanos desde o Euro2016. Portugal passou por dificuldades no início do jogo, mas recuperou o equilíbrio com a entrada de William e teve as melhores oportunidades de golo da partida. Duas bolas na barra (uma de Ronaldo e outra de Renato Sanches) e um falhanço de baliza aberta de João Félix aos 90'+2'. Resumindo: Foi um bom espetáculo para promover a candidatura ibérica à organização do Mundial 2030, anunciada a meio do jogo.
Um Portugal-Espanha jamais será apenas um jogo particular. Há demasiada história entre as duas nações futebolísticas para ser apenas um jogo a feijões. A rivalidade vem do berço. Foi frente a Espanha que Portugal se estreou enquanto seleção a 18 de dezembro de 1921, num jogo que acabou 3-1 a favor dos espanhóis. De lá para cá muita coisa mudou. O valor futebolístico de Portugal é hoje em dia igual ou superior - Bernardo Silva no banco é sinal disso mesmo - à congénere espanhola, que vive tempos de renovação após uma década dourada, com dois títulos europeus (2008 e 2012) e um mundial (2010). Nos 12 últimos jogos entre Portugal e Espanha, este foi o 8.º que terminou empatado.
Sem José Fonte (dispensado da seleção depois de acusar positivo no teste à covid-19), Fernando Santos tinha de encontrar um parceiro para Pepe (ultrapassou as 110 internacionalizações de Fernando Couto e é agora o defesa mais internacional de sempre) no centro da defesa. A escolha recaiu em Rúben Semedo. O central do Olympiacos ganhou a corrida a Rúben Dias e Domingos Duarte para se estrear na seleção nacional. Foi o 43.º jogador a estrear-se pela mão do engenheiro campeão europeu.
A Espanha de Luis Enrique entrou renovada no Estádio José Alvalade. Com um onze sem um único jogador do Real Madrid - coisa muito rara - e apenas dois jogadores da velha guarda, a equipa do país vizinho entrou forte e determinada a chegar cedo ao golo. Movida pela irreverência/atrevimento made in balcãs de Dani Olmo, a Espanha ameaçou Rui Patrício ao segundo minuto de jogo, por Gerard Moreno. A pressão alta dos espanhóis não deixavam a seleção sair a jogar. Muito diferente da atitude mostrada nos jogos anteriores, com a Croácia e a Ucrânia.
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Depois de "25 minutos sofríveis", Fernando Santos mudou a forma de defender. Apresentado para jogar em 4x3x3, Portugal começou a defender em 4x4x2 e foi assim que consegui equilibrar o jogo e ganhar algum fulgor ofensivo. A primeira vez que a equipa de Fernando Santos chegou à baliza espanhola foi aos 29 minutos. O estreante Rúben Semedo foi lá cima cabecear e ganhar um canto... antes de Ronaldo fechar a primeira parte com a oportunidade da praxe. Falhou por pouco.
Depois do intervalo, o selecionador começou a pensar nos jogos com a França (dia 11) e a Suécia (dia 14) e deu descanso a Pepe, fazendo alinhar uma jovem e inédita dupla de centrais: Rúben Semedo e Rúben Dias. João Moutinho deu lugar a William e Bernardo Silva entrou para o lugar de André Silva. Contam-se pelos dedos das mãos as vezes que o avançado tocou na bola nos primeiros 45 minutos.
Com CR7 no meio e sem avançado fixo, Portugal cresceu no jogo. Servido por William, o jogador da Juventus esteve perto de inaugurar o marcador, mas acertou com estrondo na barra da baliza espanhola. Ronaldo arrancou aplausos aos 2500 adeptos presentes nas bancadas do Estádio José Alvalade. Um som que a pandemia abafou e que hoje se voltou a ouvir num jogo de futebol.
O "falso lento", como lhe chama Fernando Santos em jeito de defesa da honra do equilíbrio da equipa, mudou a forma de jogar da seleção... para melhor. William serviu Trincão, que soube encontrar CR7, que de trivela serviu Renato Sanches para mais uma grande oportunidade esbarrar na trave. O ferro teimava em contribuir para o espetáculo... O 0-0 teimava em persistir no marcador Se o ferro da baliza espanhola insistia em fazer parte do jogo. Na outra baliza brilhava Patrício, que voltou à equipa, depois de ter ficado no banco nos últimos dois jogos, para impedir o golo a Dani Olmo mais uma vez. Depois ainda houve tempo para Sérgio Ramos entrar no jogo. Foi a 173.ª internacionalização do central merengue, que está agora a três do recorde europeu de jogos pela seleção que é de Buffon (176).
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A partida terminou com mais uma oportunidade de golo para Portugal. João Félix estava junto ao segundo poste, mas falhou o remate que daria o golo e a vitória aos portugueses sobre os espanhóis. Um falhanço que promete correr mundo e dar que falar no país vizinho.
Agora vem aí a França, que esta quarta-feira, venceu a Ucrânia por 7-1. Portugal volta no domingo ao palco onde se sagrou campeão europeu em 2016, para jogar com a equipa que derrotou na final, num jogo em que Cristiano Ronaldo procura a centésima vitória com a camisola verde rubro...
O jogo serviu de teste para o jogo com a França da Liga das Nações e para ajudar a Direção Geral da Saúde a decidir sobre o regresso dos adeptos às bancadas. Depois do primeiro ensaio no jogo entre Santa Clara e Gil Vicente, da terceira jornada da I Liga, no sábado, nos Açores, que contou com a presença de 873 pessoas, o Estádio José Alvalade voltou a receber público, mas apenas 5% da lotação.
Apesar de não ter existido um apoio constante do princípio ao fim no encontro por parte dos 2500 adeptos, a presença do público fez-se notar em alguns momentos. Para começar na hora de cantar o hino. Fernando Santos confessou no final da partida que é muito bom não se ouvir a ele própio a cantar A Portuguesa. "É um cheirinho agradável: ouvir as palmas, sentir o público, ouvir o hino vindo da bancada. Correu tudo muito bem e isto prova que o futebol pode ter público. Vamos agora ter oportunidade de duplicar no próximo jogo em casa, se ter 2500 já foi bom, imaginem 5000 pessoas. Obviamente não vamos poder voltar a ter para já o estádio cheio, mas é muito bom voltar a ter público", confessou o selecionador nacional, que reafirmou o desejo de ser campeão do mundo no dia em que igualou os 74 jogos de Scolari.
Já Luis Enrique gostou de ver pessoas nas bancadas. "Foi muito bonito voltar a ver adeptos nas bancadas, embora fossem poucos, e não creio que tenham ido tristes para casa. Acho que foi um jogo divertido. Não teve golos, é verdade, mas teve ocasiões, remates aos ferros, boas jogadas, acho que eles devem ter gostado. Um estádio de 50000 espetadores que só tem 2500 é sempre pouco, mas fiquei muito contente por voltar a ter público nas bancadas. São passinhos pequenos que temos de dar e que vamos dando pouco a pouco. Espero que em breve voltemos a ter a alegria nas bancadas", disse o selecionador espanhol.
A entrada dos adeptos no recinto teve início pelas 18.00 e apenas a bancada inferior foi aberta, sendo que todos já estavam devidamente identificados e sido ainda sujeitos ao controlo da temperatura à chegada. Os espetadores, que adquiriram os ingressos via online, sentaram-se nos respetivos lugares respeitando o distanciamento físico e o uso obrigatório e permanente de máscara durante a partida.
No dia 14 de outubro, um novo teste irá decorrer também no recinto leonino, desta vez com 10% da capacidade, equivalente a quase 5000 pessoas, frente à Suécia, para a Liga das Nações.
FICHA DE JOGO
Jogo no Estádio José Alvalade, em Lisboa
Portugal - Espanha, 0-0
Equipas:
Portugal: Rui Patrício, João Cancelo, Pepe (Rúben Dias, 46'), Rúben Semedo, Raphaël Guerreiro (Nélson Semedo, 68'), Rúben Neves, João Moutinho (William Carvalho, 46'), Renato Sanches, Trincão (Diogo Jota, 79'), Cristiano Ronaldo (João Félix, 73') e André Silva (Bernardo Silva, 46')
Selecionador: Fernando Santos
Espanha: Kepa, Sergi Roberto, Diego Llorente, Eric Garcia (Sergio Ramos, 82'), Reguilón (José Gayà, 46'), Busquets (Rodri, 62'), Dani Ceballos (Mikel Merino, 46), Canales (Adama Traoré, 62'), Dani Olmo, Rodrigo (José Campaña, 46') e Gerard Moreno
Selecionador: Luis Enrique
Árbitro: Paolo Valeri (Itália)
Ação disciplinar: Cartão amarelo para Reguilón (44) e Rúben Semedo (56)
Assistência: 2500 espetadores