Portugal e o teste mais duro no caminho para a Rússia
Apesar de o balanço geral nos confrontos entre as duas seleções ser favorável à Suíça, há quase meio século que Portugal não perde um jogo importante com a equipa helvética - desde 16 de abril de 1969, 0--2, em Lisboa, na qualificação para o Mundial de 1970. A partir daí, há apenas a derrota no Euro 2008, por 2-0, mas num jogo em que a seleção de Scolari já estava apurada para os quartos-de-final e a Suíça já estava fora. Ou seja, não contava para grande coisa, mesmo sendo oficial - Bruno Alves, Pepe, Nani, Quaresma e Moutinho estiveram nessa partida. Essa foi a última vez que se encontraram. Entre os dois encontros, há sete jogos com quatro empates e três vitórias. Há também três amigáveis, aí sim, duas vitórias suíças e uma portuguesa.
Ou seja, o novo Portugal tem ganho com regularidade à Suíça - nunca por goleadas, mas com autoridade. E convém continuar nessa senda porque esta qualificação é diferente por várias razões: desde logo, Portugal é o campeão europeu e toda a gente quer bater o campeão, até porque a vox populi é que foi por sorte; depois porque só o primeiro classificado de cada grupo tem entrada assegurada no Mundial da Rússia - os oito melhores segundos dos nove grupos jogam um play-off; ainda porque Cristiano Ronaldo está indisponível, por causa da lesão que o obrigou a ser substituído aos 25" da final de Paris; finalmente porque o grupo é tal que quase tudo se ganha ou perde em quatro jogos - com a Suíça e a Hungria, já que Andorra, as Ilhas Féroe ou mesmo a Letónia podem não fazer ponto nenhum ao defrontar aquelas três seleções que estiveram todas no último Europeu. De resto, o segundo classificado de cada grupo é definido pelos jogos com o primeiro, o terceiro, o quarto e quinto de cada grupo (os jogos com a equipa que ficar em último não contam). É um grupo muito desequilibrado em que Portugal tem a obrigação de ser primeiro - se não o for, começa mal o seu reinado de quatro anos (pelo menos) no Velho Continente.
A Suíça vai apresentar uma equipa muito próxima daquela que caiu frente à Polónia, nos oitavos, num desempate por grandes penalidades (1-1 nos 120") em que falhou Granit Xhaka, cujo passe o Arsenal comprou com 40 milhões de euros porque tem boas qualidades de liderança (essa foi uma das razões para Arsène Wenger). Vladimir Petkovic desenhará a equipa em 4-2-3-1 mas não se sabe quem substituirá o lesionado Shaqiri - talvez o jovem Breel Embolo, agora do Schalke. Outro problema é que o capitão Lichtsteiner perdeu espaço na Juventus e nem foi inscrito na Champions. Mas nos últimos dias reacendeu-se a polémica dos chamados jogadores oriundos com um post de Granit Xhaka no Instagram, em albanês, a explicar porque tinha de jogar pela seleção da Suíça mas a dizer que gostava era de jogar pelo Kosovo, mas neste momento não o pode fazer (o irmão, Taulant, joga pela Albânia). De resto, há muitos jogadores na Suíça a viverem dramas parecidos. Petkovic não quis fazer qualquer jogo de preparação, dizendo que preferia aproveitar o tempo a treinar "até porque os jogos de preparação às vezes não nos saem muito bem". Mas os suíços acham que com um pouco de sorte podem ganhar qualquer coisa grande, porque têm uma boa equipa. "Jogamos para ser primeiros e assim sermos apurados diretamente", diz ainda o selecionador.
Já Fernando Santos diz que não faz sentido falar em 4-4-2 ou 4-3-3 como sistema tático (apesar de ele próprio o ter feito em diversas ocasiões). Sem Cristiano Ronaldo, o que se pode imaginar é que a equipa jogará como sempre - fechadinha, à espera do momento certo para marcar um golo, concedendo muito pouco ao adversário. Se for preciso mais do que um golo, logo se vê, mas geralmente Portugal não é muito prolífico, mesmo com Cristiano Ronaldo. E certo é que, além de defender o prestígio de campeão europeu, a equipa quer manter também a invencibilidade sob a condução do "engenheiro do penta" e que vai em 14 jogos oficiais. Não perder parece essencial para estar na Rússia em 2018, ganhar aquele que será o jogo mais difícil da qualificação, pelo menos em teoria, seria o ideal. O jogo com Gibraltar não trouxe grandes indicações, porque a oposição era nula, mas João Moutinho deverá ser titular.