Portugal e Chile, dois séculos de amizade

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No dia 11 de agosto de 2021 cumprem-se, exatamente, 200 anos desde que Portugal reconheceu a independência do Chile e que, consequentemente, se estabeleceram relações diplomáticas entre os dois países.

Trata-se de uma história de amizade e de comunhão, apesar da distância física e das diferentes circunstâncias e desafios. É, igualmente, uma história com um quadro cultural e linguístico vasto: a identidade ibero-americana!

Portugueses e chilenos veem-se como povos com um mesmo perfil idiossincrático, com uma mesma configuração geográfica, noutra latitude, com uma mesma cultura gastronómica e, sobretudo, com um semelhante caminho democrático, modernizador e de desenvolvimento.

Em 2021, os desafios mais prementes são comuns: vencer a pandemia através da vacinação e da prevenção de contágios e, ao mesmo tempo, recuperar os nossos países dos seus efeitos mais perversos a nível social, económico, cultural e psicológico.

Queremos que esse caminho se faça no plano internacional, pela rota do multilateralismo, num quadro partilhado de objetivos e interesses diplomáticos que refletem a transição climática, a transição digital, a economia circular, a ciência e a cibersegurança.

Apostamos claramente nas energias verdes e em atingir a neutralidade carbónica e, por isso, tendo em atenção as nossas condições naturais, incentivamos os investimentos em energias renováveis, desde logo a solar e a eólica, assim como o hidrogénio verde, que terá um papel muito importante neste processo de transformação nos setores em que a mudança será mais difícil.

Ambos olhamos para os oceanos - o Atlântico, o Pacífico, todos eles - de uma certa forma e pretendemos liderar, pelo exemplo, uma mudança na gestão dos seus ecossistemas marítimos, consubstanciando uma gestão sustentável.

Portugal, que deteve no primeiro semestre de 2021 a presidência do Conselho da União Europeia (PPUE21), mantendo entre as suas prioridades a conclusão das negociações para a modernização do Acordo de Associação entre a União Europeia e o Chile, continuará a fazer todos os esforços para que essas negociações possam concluir-se rapidamente. A modernização do acordo terá um impacto positivo, não só no Chile e na UE, mas também em toda a região latino-americana.

Outra ponte entre as duas regiões é a Aliança do Pacífico, na qual o Chile é um membro ativo de grande relevância.

Para os nossos países a colaboração em matéria de cooperação triangular tem sido um objetivo e uma prioridade internacional, a qual certamente iremos intensificar num futuro próximo.

Comprometemo-nos, e continuaremos a fazê-lo, com uma agenda bilateral ambiciosa e de resultados. Sem demasiada ambição, para sermos realistas e com um dinamismo tranquilo, que a alimente.

Portugal e o Chile têm, em 2021, calendários eleitorais próprios.

Para o Chile, começou em maio com a eleição de representantes constituintes, governadores regionais e alcaides e vereadores municipais. Depois, em julho, tiveram lugar as primárias, terminando em novembro (e talvez em dezembro) com as presidenciais e as legislativas.

A Convenção Constituinte chilena, a primeira a assegurar a paridade de género, constitui um desafio de renovação política que trará uma legitimidade reforçada e robusta na senda da cidadania participante, que faz do Chile um exemplo de democracia ativa, de respeito pelo Estado de direito, de defesa dos direitos humanos, incluindo a igualdade de género, que se pretendem aprofundar.

No dia 24 de janeiro último realizaram-se eleições presidenciais em Portugal, de que resultou a recondução e o reforço do mandato do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Em setembro, terão lugar as eleições autárquicas.

A pandemia é, por tudo o que fica dito, um grande desafio para todo o mundo e sê-lo-á, em maior medida, para os nossos países, os quais, pelas suas características, sofreram um forte impacto económico e social.

Não obstante, acreditamos que estamos no caminho certo, no plano interno como internacional, e na forma como temos gerido a crise em termos de opões de políticas públicas e diplomáticas. Acreditamos que vamos superar os desafios presentes.

Por tudo isto, 2021 apresenta-se como um ano propício ao aprofundamento do nosso relacionamento bilateral.

Desde logo, porque continuamos a comemorar os 500 anos da viagem de Magalhães/Elcano; continuaremos a progredir nas negociações para a modernização do acordo de associação UE-Chile; e, ainda porque festejamos os 200 anos de relações diplomáticas entre os nossos países.

2021 será, portanto, o ano de Portugal e do Chile. Estamos plenamente convictos.

Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal e ministro dos Negócios Estrangeiros do Chile

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