Portugal bebé arrasa na Lituânia e conquista terceiro Trophy consecutivo
A primeira deslocação dos Lobos ao Báltico, naquela que foi a estreia nos confrontos entre as duas seleções na sua história, foi bem ao estilo de uma operação militar: profissional, pragmática, eficaz, convincente e letal, demonstrando de forma inequívoca a diferença existente entre Portugal, 23.ª nação do ranking mundial e a Lituânia, apenas 33.ª.
Martim Aguiar fez alinhar, por força da prioridade dada à presença dos "sevens" nacionais no famoso Torneio de Hong Kong neste fim-de-semana, uma equipa muito bebé, jovem e inexperiente, com quatro estreantes (Duarte Costa Campos, Duarte Gil, Duarte Azevedo e Francisco Vassalo) e que, em relação à época anterior, apenas apresentava de início três habituais titulares (Nuno Mascarenhas, Francisco Sousa e António Cortes). E em jeito de "check list", pode-se afirmar que a viagem teve completo sucesso.
Não se pedia brilhantismo (mas houve-o nalguns lances). Não se pretendiam grandes exibições (mas também as houve... não foi João Belo? não foi João Freudenthal?). Não se exigia mais um resultado para cima dos 70 pontos (e que até poderia ter acontecido...).
Era, sim, preciso vencer para garantir terceiro "grand slam" seguido no Trophy? Feito.
Era preciso dar tempo de jogo e confiança a um lote de atletas, cada vez mais alargado mas muito verdinhos a este nível? Feito.
Era preciso garantir chegar com a moral em alta ao decisivo encontro com a Alemanha, em princípio a 1 de junho, para o "play off" de acesso ao Championship? Feito. Um triplo "feito" que merece daqui uma vénia à equipa liderada por Martim Aguiar, nas vésperas de ter finalmente uma direção - Carlos Amado da Silva toma posse já no dia 11 - que o possa respaldar em condições e com futuro.
Perante lituanos que subiram esta época da Europe Conference 1 e com boa estampa física, os Lobos entraram na expetativa, a ver como paravam as modas por estas bandas, mas a partir dos 10" ganharam confiança, iniciaram bons encadeamentos e ao esticar o seu jogo, começaram por fim a cavar a distância que separa os dois quinzes.
O em boa hora regressado defesa João Freudentahl (um ensaio, cinco conversões e uma penalidade, num total de 18 pontos conseguidos numa exibição que atingiu picos de excelência) começou por falhar uma penalidade, para logo a seguir na sequência de uma falta, de fácil conversão, ser jogada com ambição para o alinhamento, o formação Martim Cardoso ser penalizado por não libertar a oval já por baixo dos postes e a centímetros do toque de meta.
Mas a seleção nacional, muito senhora de si, acreditava que iria mesmo marcar. E aos 20" o elétrico n.º 9 Martim Cardoso jogou rapidamente uma falta à mão e serpenteou 25 metros por entre a surpreendida equipa adversária e abria o marcador (7-0).
Ao ver-se a perder, a Lituânia lá conseguiu por fim entrar nos 22 metros portugueses e aos 25" faria mesmo o seu único ensaio do jogo através do poderoso 2.ª linha Vaitkevicius (ele há cada nome...) a furar em força para o empate a 7-7.
Mas este foi apenas um curto raio de sol na cinzenta exibição dos esforçados lituanos, pois a reação portuguesa foi rápida, concludente e categórica, com dois ensaios quase a papel químico até ao intervalo, ambos em jogadas a solo. A equipa tardava a funcionar no coletivo, mas as individualidades resolveram brilhar. E como luziram...
Primeiro foi João Belo, esta tarde a 1.º centro (entre os 23 estavam convocados 4 médios de formação!), com um fantástico "slalom" a deixar para trás meia-Lituânia. E depois, à beira do descanso, seria João Freudenthal a imitá-lo numa notável ziguezagueante corrida de uns bons 30 metros, para 21-7 no final da 1.ª parte.
O 2.º tempo seria anda mais penoso para os homens do Báltico, sem argumentos para travar um conjunto português que foi somando substituições sem perder autoridade e mando no jogo, vontade de arriscar e boa capacidade defensiva, com placagens duras que varriam lituanos nada habituados a este nível de râguebi (então
o bravo António Cortes somou duas ou três arrepiantes de destemor...).
E assim com o avolumar do tempo de jogo e perante as cada vez mais evidentes dificuldades adversárias, estes Lobos em versão bebé desataram a quebrar a linha de vantagem, esburacando a defesa contrária que agora mais parecia um "passe-vite".
O recém-entrado José Lupi fez o quarto, à hora de jogo, logo na primeira vez que tocou na oval e viu larga autoestrada pela frente, e nos derradeiros 20 minutos Gonçalo Prazeres (grande lance com passe delicioso de Cortes), de novo João Belo e no último minuto de jogo Duarte Azevedo, correspondendo a uma soberba arrancada de João Freudenthal, fariam mais três ensaios para um total e sete, num robusto triunfo por 48-7.
É a 15.ª vitória noutros tantos jogos desde que em 2016 descemos a esta 3.ª divisão europeia. E da qual esperamos (e precisamos) escapar já, vencendo o próximo duelo com a Alemanha num duro "play-off" para o qual teremos que poder apresentar todos os nossos melhores argumentos. Todos... que esta seleção de este sábado chegou e sobrou para a Lituânia, mas é obviamente curta para os germânicos.
Portugal alinhou e marcou: João Freudenthal (5,3,2,2,2,2,2); Caetano Castelo Branco, Pero Cordeiro, João Belo (5,5), António Cortes; João Lima, Martim Cardoso (5); Francisco Sousa, João Granate, Salvador Cunha, José Maria Rebelo de Andrade, Duarte Torgal, Francisco Bruno, Nuno Mascarenhas e João Vasco Corte Real (cap.).
Do banco saíram José Lupi (5), João Moreira, Duarte Costa Campos, Duarte Gil, Duarte Azevedo (5), Gonçalo Prazeres (5), Francisco Vassalo e Filipe Granja.
Classificação do Trophy: Portugal, 25 pontos; Holanda, 13; Polónia,10; Suíça, 8; Lituânia, 5: República Checa, 1. Faltam disputar o Suíça-Lituânia e o Lituânia-Holanda.