2003, 2005, 2007 ou 2013 foram anos nos quais Portugal sofreu ondas de calor muito mais intensas e prolongadas. Aliás, a grande maioria dos recordes de temperaturas na Europa têm já décadas e a até sacrossanta Amareleja já tinha batido nos 50 ºC em 2010. Há 12 anos, portanto. O que se passa, então, para haver agora esta histeria colectiva e mais medidas inconstitucionais? Porque é que, em 2022, fecham-se parques, matas ou jardins onde há sombra e refrescamento e mesmo que muitas casas não sejam climatizadas, condenando crianças e velhotes a braseiros? Porque é que se anulam provas e eventos em zonas que nem sequer passaram os 25 graus?.É evidente que neste tipo de decisões não há ponta de ciência nem de protecção da Saúde Pública. Uma boa campanha para baixar a temperatura nas habitações, para hidratar convenientemente ou combater os danos da exposição ao calor teria bem mais resultados do que estas tralhas néscias. Há indolência governamental. Sobretudo, medra o autoritarismo. Treinado desde novo e cinzelado na covid, para António Costa é muito mais fácil proibir do que investir, muito mais natural e económico atacar os direitos dos cidadãos do que prevenir, vigiar, consciencializar, trabalhar e mudar. Este Primeiro-Ministro só sabe governar com os portugueses em prisão domiciliária. Há Coronavírus? Tudo para dentro. Há risco de incêndio? Vai tudo para casa. Rápido, fácil e barato. Mas também extremamente perigoso..A liberdade é uma regra e a sua restrição só pode ser excepção. Assim reza a Constituição da República Portuguesa, assim se funda a civilização e a democracia, assim se vive na Polis. Decretar Estado de Contingência e recomeçar os abusos que andam em esteróides desde Março de 2020 é normalizar e banalizar o que só pode ser extraordinário, raro e parcimonioso..CitaçãocitacaoEste Primeiro Ministro só sabe governar com os portugueses em prisão domiciliária. Há Coronavírus? Tudo para dentro. Há risco de incêndio? Vai tudo para casa. Rápido, fácil e barato. Mas também extremamente perigoso.esquerda.Note-se que todas as medidas que restrinjam os Direitos Fundamentais dos cidadãos têm de possuir base jurídica sólida e que ainda esta semana o Tribunal Constitucional decretou as quarentenas inconstitucionais. Foram prisões ilegais. Está escrito. Durante a gestão da covid, como aliás, bastas vezes repeti nesta mesma coluna, verificou-se uma violação grosseira do Estado de Direito, promovida pelo Executivo com o respaldo e o beneplácito do Presidente da República, deputados, forças de segurança e até autoridades judiciais. Pois foi. O autoritarismo voltou, simples, como faca afiada em manteiga no Verão, e o medo foi o cimento para uma sociedade deslaçada e anómica..Contudo, ainda vai essa procissão no adro, e já o PM pisa no pescoço dos portugueses de novo. A Lei de Bases da Proteção Civil é clara: as Situações de Alerta, Contingência e Calamidade só podem ser decretadas quando há "ocorrência de fenómenos", não previsões. Tão pouco efabulações. E, nos seus termos, "todos os cidadãos e entidades privadas estão obrigados, no território continental, a prestar às autoridades de Proteção Civil a colaboração pessoal que lhes for requerida, respeitando as ordens, orientações e solicitações que lhes sejam dirigidas, correspondendo a recusa do seu cumprimento ao crime de desobediência." Ou seja, há mesmo músculo. Pesado..Em breve quando houver fome (e oh, se vai haver), será decretada "Situação de Calamidade" e o que sucederá a quem tentar protestar, procurar comida ou fugir? Hum?.Psicóloga clínica. Escreve de acordo com a antiga ortografia