As cartas náuticas dos dois maiores portos cabo-verdianos são o primeiro resultado de dois anos de trabalhos no âmbito da cooperação hidrográfica entre os dois países, que quinta-feira será formalizada com a assinatura de um protocolo entre a Agência Marítima e Portuária de Cabo Verde e o Instituto Hidrográfico da Marinha Portuguesa.."O protocolo visa passar a escrito aquilo que Portugal e Cabo Verde vêm fazendo a nível da hidrografia, com especial relevo e intensidade nos últimos dois anos", explicou aos jornalistas o diretor do Instituto Hidrográfico de Portugal, almirante António Coelho Cândido. .António Coelho Cândido falava aos jornalistas no âmbito do seminário "O exercício da autoridade e das responsabilidades do Estado costeiro no mar", que decorre hoje e quinta-feira na cidade da Praia.. "Muitas das cartas do Estado de Cabo Verde tinham por base levantamentos hidrográficos dos anos 70 e existe uma enorme necessidade de atualizar toda esta cartografia. As questões relacionadas com a segurança da navegação são fundamentais e as suas implicações económicas são importantes para o Estado costeiro", adiantou..António Coelho Cândido explicou que, nos mares de Cabo Verde, há uma "área de muitas milhas que é preciso mapear" e que, inicialmente, os trabalhos se centraram no levantamento dos portos e zonas de aproximação aos portos..Baixios localizados a grandes distâncias em relação à sua identificação nas cartas náuticas atuais ou navios naufragados não registados pela cartografia foram alguns dos perigos revelados pelos novos levantamentos do fundo dos mares cabo-verdianos..Por isso, o diretor do Instituto Hidrográfico sublinhou a relevância de "todo este esforço de precisão em relação ao conhecimento do fundo do mar".."O mapeamento e o conhecimento dos fundos é fundamental para todas as atividades que se desenvolvem no mar. Só se pode proteger aquilo que se conhece e conhecemos muito pouco do mar em Portugal e também em Cabo Verde", disse. .António Coelho Cândido adiantou ainda que, além do apoio a Cabo Verde na atualização da cartografia, o Instituto Hidrográfico está a promover a capacitação de Cabo Verde nesta matéria para que o país possa começar a fazer levantamentos hidrográficos numa base mais frequente e que permitam atualizar a cartografia..Além dos portos, o protocolo prevê o mapeamento de todo o espaço marítimo de Cabo Verde, trabalho que implicará mais de 10 anos de levantamentos hidrográficos contínuos.."O objetivo último é [fazer o levantamento] de todos os portos e todo o espaço marítimo de Cabo Verde. Em Portugal temos os números identificados e estimamos um esforço de cerca de 10 anos de levantamentos hidrográficos contínuos para conseguirmos mapear todo o fundo do mar em Portugal", disse.."Os espaços marítimos em Cabo Verde também são imensos e pode imaginar-se o enorme esforço necessário. Vai levar, com toda a certeza, mais de 10 anos para se ter um mapeamento com alta resolução de todos os fundos marinhos", acrescentou..António Coelho Cândido considerou, contudo, que fundamental, que é o mapeamento e atualização das cartas dos portos e aproximação aos portos, "está praticamente concluído".. "Só se pode exercer soberania, limitar espaços e proteger aquilo que se conhece. Através desse conhecimento podemos centrar o esforço de proteção do mar, que é imenso, nas áreas mais relevantes", rematou..O seminário, promovido pela Marinha Portuguesa e pela Guarda Costeira de Cabo Verde, marca o fim da segunda fase da iniciativa "Mar Aberto" da Marinha Portuguesa, que decorre desde o início de novembro..Durante a manhã, os participantes do seminário abordaram os desafios de Cabo Verde no exercício da autoridade e das responsabilidades do mar, tendo sido apresentadas também comunicações sobre as atividades das agências marítimas dos dois países e do Instituto Hidrográfico..O seminário prossegue quinta-feira e tem na agenda temas como a fiscalização da pesca e o combate à criminalidade marítima, bem como abordagens à contribuição da Marinha Portuguesa e da Guarda Costeira de Cabo Verde nestas atividades..O evento será encerrado pelos ministros da Defesa de Portugal, Azeredo Lopes, e da Presidência do Conselho de Ministros de Cabo Verde, Fernando Elísio Freire, que farão uma visita ao Navio Hidrográfico "D. Carlos I", que está atracado até 01 de dezembro no porto da Praia..A primeira fase de 2017 da iniciativa "Mar Aberto" em Cabo Verde aconteceu em abril com a presença da Fragata Vasco da Gama nos portos da Praia e do Mindelo..A visita da Fragata Vasco da Gama coincidiu com a visita de Estado do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a Cabo Verde.