Porque estamos tão infelizes?

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O que mais ouvimos no dia-a-dia são expressões de descontentamento com a vida que temos. Com o dinheiro que não chega para tudo aquilo que consideramos essencial, com a rotina de todos os dias que não nos deixa mudar a nossa vida, ou ainda porque os políticos e o Estado tudo fazem para nos tirar aquilo que ganhámos com esforço, sem se preocuparem em administrar bem os recursos que somos obrigados a ceder-lhes.

Nem sequer pensamos, por um momento, em todos aqueles que não têm trabalho e que por isso passam fome; dos que não têm a capacidade de poder mudar de vida porque a única alternativa seria atravessarem o Mediterrâneo com uma enorme probabilidade de não chegarem ao seu destino, ou chegando que não encontrassem aí a mudança esperada; e nem sequer pensamos que há muitos lugares da terra em que os políticos nem deixam chegar ao povo a capacidade de se alimentar e de alimentar os seus próprios filhos.

Não sendo de maneira nenhuma descartável nem injusta a vontade de melhorar as questões que condicionam as nossas vidas, mais, sendo mesmo desejável que nos candidatemos a tomar as iniciativas nesse sentido, a verdade é que vivemos em Portugal em condições que a maioria dos habitantes deste planeta desejaria e invejaria.

Então, o que é que nos falta?

Falta-nos participar nas decisões que nos importam. Falta-nos a vontade de mandar nos acontecimentos, de tomar as nossas oportunidades, de influenciar as normas que nos impõem, de sermos donos da nossa vida e do nosso destino.

Era essa a convicção de quem lutou para trazer a democracia às nossas vidas: para que pudéssemos ser parte da decisão e podermos influenciar a sociedade em que vivemos.

Pois bem, com abstenções nas eleições que passam os 60% é fácil de compreender que a população não quer saber daquilo que lhe pode acontecer.

Alguns dirão que não vale a pena, que os políticos são todos iguais; outros pensarão que é porque tudo se decide a favor de um Estado que não se preocupa com as pessoas; outros ainda que é de Bruxelas que vem a direção e que tanto faz aquilo que aconteça. E todos se abstêm de se envolver naquilo que seria natural e que pode verdadeiramente servir para melhorar as suas vidas e mudar a qualidade com que se vive em Portugal.

É verdade que tanto os partidos políticos como todos aqueles que por dentro os fazem viver e existir têm sido sempre os promotores de um distanciamento cada vez maior entre a população e o poder político. É verdade que para que eles continuem a mandar têm de conseguir que o povo fique anestesiado.

Mas é verdade também que está nas nossas mãos a possibilidade de mudar tudo isso, aumentando a nossa participação cívica - pelo menos indo votar.

Vai ser muito difícil conseguir mudar estas convicções, e está aberto caminho para soluções populistas. O que nem sequer é completamente negativo, considerando que poderão provocar o regresso à participação das pessoas que se tinham desligado da atividade pública.

Por outro lado, são soluções dramáticas que levam ao caos e ao autoritarismo - legitimadas e insufladas pelo descrédito das lideranças oportunistas, desligadas do real.

O que nos falta é encontrar quem represente uma alternativa que nos encha de esperança sobre o futuro, que justifique sairmos à rua e lutar para voltar a pertencer. A pertencer aos que conduzem Portugal, aos que acreditam que seremos melhores se participarmos todos. Que nos dê o alento de agradecer o que temos, apesar de aspirarmos a mais.

É preciso travar esta melancolia do presente. Amanhã será tarde.

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