Por que é a habitação cara em Lisboa?

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Um estudo de uma seguradora inglesa clama que Lisboa foi considerada a terceira cidade do mundo mais cara para viver; os autores do estudo devem conhecer um mundo diferente do que eu conheço... É certo que nos últimos anos os preços de imobiliário residencial em Lisboa, tal como em muitas cidades do mundo, subiram. E algumas zonas da cidade de Lisboa estão com um preço efetivamente bem mais alto do que outras zonas da cidade e da área metropolitana de Lisboa. Quais são as razões para isso?

Há vários mercados de imóveis residenciais em Lisboa. Sempre houve. O preço de um apartamento na Lapa nunca pôde comparar-se com um nas Galinheiras. Mas hoje há uma diferença essencial. Anos a fio de promoção de Portugal como destino turístico, colocaram Lisboa (e Porto) no radar de clientes internacionais. Há hoje zonas em Lisboa (e no Porto) que são ativamente procuradas por cidadãos estrangeiros com um rendimento disponível superior ao dos portugueses (pagam mais do dobro/m2); essas zonas em Lisboa têm hoje um preço marginal ditado pelos compradores internacionais. É assim em todas as cidades pelo mundo fora que se tornaram cidades internacionais e cosmopolitas com uma parte dos seus residentes provenientes do estrangeiro. Algumas dessas zonas da cidade de Lisboa coincidem com as áreas onde teve lugar a maior parte do investimento em Alojamento Local - que permitiu a reabilitação urbana desses bairros - pelo que os preços aí subiram ainda mais. Mas excluamos essas zonas de procura internacional da nossa equação. Mesmo assim, os preços do imobiliário para fim residencial em Lisboa têm continuado a aumentar, como o demonstram os preços do primeiro semestre de 2022, já sem procura proveniente de vistos dourados. Uma das razões radica num aumento constante da procura de imóveis. Ou os compradores não consideram os preços tão altos, ou, tendo estado o dinheiro barato nos últimos anos, preferem comprar imobiliário a ter depósitos não-remunerados ou outras alternativas de investimento. E os bancos parecem satisfeitos em conceder crédito à habitação baseados em avaliações que não andam muito longe dos preços de mercado.

CitaçãocitacaoNão há nem oferta mínima de habitação promovida diretamente por entidades públicas, nem oferta adicional bastante por parte do setor privado.esquerda

A outra razão funda-se numa insuficiência da oferta de imóveis residenciais. Não há nem oferta mínima de habitação promovida diretamente por entidades públicas, nem oferta adicional bastante por parte do setor privado. A liberalização económica que teve lugar na sociedade portuguesa e a má gestão levaram à extinção da EPUL. Mas até jurisdições ultraliberais onde o preço da propriedade imobiliária subiu bastante, como Singapura e Hong Kong, têm programas robustos de habitação (mormente social) promovida por empresas ou agências públicas - bem geridas... Porém, havendo procura firme e continuada, e fundos nacionais e estrangeiros interessados em investir, e não havendo escassez de empresas promotoras imobiliárias e de construção, por que não há oferta adicional bastante por parte do setor privado? Provavelmente porque a burocracia e as delongas nos processos de licenciamento urbanístico são tão demoradas e dispendiosas que muitos promotores e construtores optam por outras oportunidades. Mas, seja através de uma nova EPUL, seja por via de mecanismos que estimulem o setor privado - mormente diminuindo burocracias - se não se aumentar a oferta, os preços dos imóveis residenciais em Lisboa continuarão altos.

Consultor financeiro e business developer
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