Por favor, Sr. Biden, para o bem do país, não se candidate
A maioria dos americanos acreditou em Biden quando este disse à sua equipa, em março de 2019, que seria presidente apenas por um mandato. Mesmo quando decidiu concorrer a um segundo mandato, muitos aprovaram essa decisão, pois era considerada a pessoa com maior probabilidade de vencer Donald Trump.
O passado de Biden é impressionante, geriu e ultrapassou a crise da covid e a economia continuou a crescer além das expectativas. Apesar de ter de conviver com um Congresso hostil nas mãos do partido da oposição, aprovou legislação cumprindo muitas das suas promessas feitas na campanha eleitoral. Tem conseguido gerir duas grandes crises de política externa: a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, e a atual guerra entre o Hamas e Israel.
Por outro lado, os EUA saíram do Afeganistão de forma caótica e o dinheiro que a sua Administração injetou na economia contribuiu para um significativo aumento da inflação. No entanto, os democratas não estão errados ao considerar que os primeiros três anos de Biden no cargo foram dos mais bem-sucedidos entre as presidências recentes.
Infelizmente, o resto do eleitorado americano não tem a mesma opinião.
O seu período de glória com o público terminou com a retirada mal gerida do Afeganistão em 2021 e, desde então, a taxa de aprovação de Biden tem sido negativa. A última sondagem mostra uma rejeição de quase 60%.
Nas circunstâncias atuais, a eleição presidencial de 2024 será entre Biden e Trump. O eleitorado dos EUA está altamente polarizado e, com a dispersão geográfica dos eleitores, as eleições presidenciais são decididas por apenas alguns milhares de votos em apenas 10 swing states. Uma ligeira alteração pode influenciar uma eleição.
Numa sondagem recente do Siena/New York Times nos seis swing states mais críticos Trump aparece com uma vantagem significativa de 4 a 11% sobre Biden em todos, exceto num, indicando que Trump venceria as eleições se fossem hoje. Segundo a sondagem, Biden perde apoio em todas as categorias de eleitores da população que lhe deu a vitória em 2020: afro-americanos, latinos, menores de 30 anos, urbanos, etc. Quando questionados se confiam em Trump ou Biden para gerir melhor a economia, Trump bate Biden por uns largos 22%, com uma diferença favorável de 11 a 12% de confiança para lidar com a imigração, a segurança nacional e o conflito israelo-palestiniano. Biden tem mais 9% de confiança para lidar com o aborto e uma diferença verdadeiramente surpreendente de apenas 3% sobre Trump para melhor proteger a democracia.
A equipa de Biden argumenta que normalmente as previsões feitas um ano antes das eleições são erradas - ainda há um ano inteiro para mudar as opiniões do eleitorado. Também acreditam que, se Trump for condenado em tribunal, o seu apoio diminuirá o suficiente para alterar o resultado.
Podemos contar com surpresas até às eleições de novembro de 2024, mas os acontecimentos não vão inverter as convicções subjacentes, nomeadamente:
- Uma esmagadora maioria de 67% dos americanos diz que o país está no caminho errado. Temem outro covid, estão preocupados, pessimistas, zangados, convencidos de que as coisas deveriam correr melhor. Perante este clima dominante, muitos votarão por uma mudança de liderança;
- Apesar dos resultados económicos e financeiros que indiciam o contrário, 81% dos americanos consideram que a economia dos EUA está a funcionar apenas de forma razoável ou mal, sem dúvida devido ao aumento do custo de vida e às recentes elevadas taxas de juro. Para o americano médio, os preços subiram tão dramaticamente que as pessoas veem apenas que têm de pagar mais por quase tudo o que compram e, por isso, culpam Biden;
- Mais importante, 71% dos americanos acham que Biden é velho demais para continuar até aos 86 anos. Identificam a sua idade como uma fraqueza, uma característica que abominam. Acho que, independentemente do que Biden faça durante o próximo ano, não vai ser capaz de mudar essa perceção. Quando o público associa certas características aos candidatos, é praticamente impossível mudá-las.
A sondagem Siena/NY Times também reduz a convicção de que Biden é o único capaz de derrotar Trump. A sondagem indica que se Trump concorresse contra qualquer Democrata que não fosse Biden, perderia em todos os seis swing states. Há outros candidatos Democratas potencialmente fortes. Trump é hoje um candidato mais fraco do que em 2020 e, se for condenado em tribunal, pode ficar ainda mais fraco, mas apesar disso o passado positivo de Biden não chega para convencer os eleitores de que deve fazer um segundo mandato.
Por favor, Senhor Presidente, tenho medo, receio que corra um enorme risco ao tentar a reeleição. Se deixar o seu lugar a um candidato mais jovem, ficará na história como um grande estadista e poderá dedicar-se ao seu cargo no último ano, enquanto que a sua imagem ficará permanentemente denegrida se perder para Trump. Mesmo as pessoas que lhe são mais fiéis acreditam que candidatar-se é um risco intolerável, não só para si, mas para o país e para um mundo preocupado que vive com medo dos estragos de mais uma presidência ultranacionalista e errática de Trump.
Autor de Rendez-Vous with America, an Explanation of the US Election System
Presidente do American Club of Lisbon. As opiniões aqui expressas são pessoais e não são as do American Club of Lisbon.
Este artigo e outros estão disponíveis em inglês em RendezVouswithAmerica.com.
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