Popularidade de Marcelo em queda. Costa aguenta-se
Quanto maior a subida, maior a queda. O adágio aplica-se a Marcelo Rebelo de Sousa, que, de novembro para dezembro, vê a popularidade cair de forma abrupta - tem agora 62% de avaliações positivas, de acordo com o barómetro da Aximage para o DN, o JN e a TSF. Ainda assim, bem acima de António Costa, que estaciona nos 55%. O que não muda é a relação de forças no que diz respeito à confiança num ou noutro: o Presidente da República continua a valer três vezes mais (50%) do que o primeiro-ministro (16%).
No que diz respeito a Marcelo, o que o barómetro mensal demonstra é que está de regresso ao seu patamar habitual, ou seja, a uma percentagem de avaliações positivas um pouco acima dos 60 pontos percentuais e a um saldo positivo em redor dos 40 pontos (diferença entre avaliações positivas e negativas). Os 74% de notas positivas que conseguiu em novembro não se transformaram em tendência.
Durante este mês, o Presidente foi chamado a intervir em dois temas polémicos que chamuscaram o governo: no plano de reestruturação da TAP, em que deu um aval à solução, defendendo que é necessário "pagar o preço"; e no caso da morte do cidadão ucraniano Ihor Homeniuk, em que chegou a admitir a extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e a pedir uma "mudança de protagonistas", parecendo com isso referir-se ao ministro Eduardo Cabrita.
Isso não impede, no entanto, que, a exemplo dos meses anteriores, a maior falange de apoio a Marcelo Rebelo de Sousa seja a dos eleitores socialistas: não só 84% lhe dão nota positiva, como estão bastante divididos quando têm de escolher entre entregar a sua confiança ao Presidente ou ao primeiro-ministro do seu partido.
O suporte entre os que votam no PS é, aliás, uma das características comuns a Marcelo e a Costa, uma vez que os socialistas também estão maciçamente satisfeitos com o seu líder: 89% dão-lhe uma avaliação positiva. A avaliação que fazem os restantes segmentos partidários também é semelhante nos dois políticos: estão bem cotados à esquerda (mais Costa do que Marcelo) e ambos com saldo negativo entre a nova direita radical e liberal (de novo mais Costa do que Marcelo).
Diferença clara só entre os eleitores do PSD: o primeiro-ministro ainda consegue um escasso saldo positivo, mas o Presidente marca 70% de avaliações positivas.
Outro traço comum reside na idade dos apoiantes: estão ambos solidamente ancorados nos eleitores mais velhos, com vantagem para Marcelo, que consegue 78% (61% para Costa).
Além disso, gozam ambos de um maior favor entre o eleitorado feminino (mais 8% do que entre os homens, no caso de Costa, mais sete no caso de Marcelo).
A separação de águas torna-se mais nítida quando se pede aos portugueses para escolherem em quem preferem depositar a sua confiança. Apesar de ser possível responder que seria "igual" para os dois, o Presidente arrecada 50% dos votos para si, contra 16% do primeiro-ministro. Olhando para os diferentes segmentos (idade, região, classe social, género e partido), Marcelo vence quase todos por goleada. As duas exceções em que o preferido é Costa são os eleitores socialistas (por 5%) e os comunistas (mais de 30%).
Um resultado em linha com a exigência que os portugueses entendem que o Presidente da República deve ter face ao governo liderado por António Costa: 71% acham que Marcelo deveria ser mais exigente (igual ao resultado de novembro). Mais uma vez, as exceções estão nos eleitorados socialista e comunista, que recusam essa exigência.
Governo abaixo de Costa
Como tem sido habitual ao longo dos últimos meses, o governo como um todo recebe uma avaliação uns furos abaixo do primeiro-ministro. A diferença é que em dezembro aumentou esse fosso, com 47% de avaliações positivas e 31% de negativas, talvez por efeito da controvérsia na TAP e do escândalo no SEF.
Direita quer mais exigência
Quando se pergunta pela exigência que deve ter Marcelo sobre a ação do governo, é à direita que se pede mais vigor, seja entre os eleitores do PSD seja entre os que escolhem o Chega e a Iniciativa Liberal.
Setembro
Primeiro-ministro, governo e oposição como um todo acusavam o desgaste da crise provocada pela pandemia. A exceção era o Presidente da República, com 64% de avaliações positivas. Marcelo Rebelo de Sousa conseguia ainda 47% na confiança em comparação com os 12% de António Costa. Os maiores fãs de Marcelo já eram os socialistas (83% de avaliações positivas). Costa estava em queda nesse mês, com 54% de avaliações positivas (menos nove pontos face a julho). A oposição passava de saldo positivo para negativo em todos os segmentos.
Outubro
António Costa continuava em queda (para 51%) e cada vez mais dependente do beneplácito dos eleitores socialistas, pagando a fatura da barganha no Orçamento do Estado e da segunda vaga da pandemia, nesta altura já mais aguda do que a primeira. Marcelo também acusava algum desgaste, com 60% (menos quatro pontos). Notavam-se vários pontos em comum entre os dois: maior apoio entre socialistas (85% a Costa e 84% a Marcelo) e um saldo negativo só entre os três partidos mais pequenos à direita. Na confiança, mantinha-se a vantagem de Marcelo (45%), com Costa a vencer apenas entre os socialistas. A oposição recuperava fôlego, mas o saldo ainda era negativo.
Novembro
A popularidade de Marcelo disparou para 74% (mais 14 pontos) e arrastou a de Costa, que inverteu a tendência de quebra (56%). As duras restrições anunciadas dias antes, no âmbito do estado de emergência, com as quais a grande maioria concordava, são a melhor explicação para este pico. Voltavam a ter em comum o apoio socialista (90% Costa, 83% Marcelo), mas o primeiro-ministro ficava ancorado à esquerda, com saldo negativo à direita, e Marcelo mostrava-se transversal. Marcelo valia três vezes mais na confiança e ganhava também este jogo nos socialistas. A oposição voltava ao saldo positivo (13 pontos), um acontecimento raro, com o paradoxo de serem os socialistas os mais satisfeitos. A principal figura era Rio (35%), seguido de Ventura e de Catarina (ambos com 20%).
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