Pontal. Um diagnóstico e uma proposta
Com o regresso do PSD à Quarteira e ao comício do Pontal o partido laranja libertou-se de mais um dos trágicos disparates de liderança de Rui Rio. Depois do fim dos debates quinzenais no Parlamento com a alegação de que estes eram apenas um exercício de show off, o abandono do Pontal por iniciativa de Rui Rio retirou ao PSD um dos seus mais significativos atos políticos, momento de reencontro do universo laranja e oportunidade para a afirmação política e apresentação de linhas programáticas para o retorno da atividade política. Não, dr. Rui Rio, não é preciso uma sortie para haver uma rentrée!
Assim não espanta que Luís Montenegro tenha reposto um dos principais eixos de afirmação social-democrata na rentrée política, corrigindo a herança de Rui Rio.
Do regresso ao Pontal surgiu um diagnóstico do atual momento político e um oportuno programa de emergência nacional que marcará a agenda política na abertura do Parlamento.
Embora pareça existir uma fragilidade na liderança da bancada parlamentar, Montenegro está determinado a correr uma maratona que se avizinha longa e difícil.
O diagnóstico que fez do momento político foi completo e assertivo. Mas também não faltam "casos" no governo que possibilitam um exercício critico acertado. O governo tem vindo a facilitar a vida às oposições. Basta, assim, que estas façam o seu trabalho, estejam atentas, e matéria não falta.
O conteúdo do discurso de Montenegro, a sua estratégia, a circunstância de verificar-se que vai apresentar com regularidade propostas alternativas ao Executivo não deixa dúvidas de que o seu alvo não é apenas o todo governamental, mas também os restantes partidos do espectro da oposição à direita, nomeadamente a Iniciativa Liberal e o Chega. Ou seja liderar a oposição.
Particularmente contundente nas questões da saúde e dos incêndios antevê-se que, futuramente, o escrutínio nestas e noutras matérias vai ser apertado. Na área da saúde, o novo líder social-democrata sublinhou, entre outros aspetos, a falta de material cirúrgico atualizado, uma vertente pouco mencionada mas que é de importância vital na construção do edifício científico do SNS. De facto, a falta de investimento e as cativações feitas pelo Executivo resultaram também na desertificação da componente cirúrgica e na carência verificada na aquisição de modernas ferramentas de ciência cirúrgica para o exercício médico. Mais um elemento a justificar a fuga de clínicos para o privado.
Relativamente aos incêndios, Montenegro evidenciou um facto incontornável. Onde está a reforma da floresta? O que foi feito? Como é que o governo multa (e bem) os proprietários que não limpam as suas terras e depois deixa ao abandono as matas e espaços verdes que estão sob responsabilidade do Estado. Como é possível que um património florestal protegido como o da Serra da Estrela, que está sob tutela direta do ICNF, não esteja sujeito a rigorosas medidas de vigilância e uma intervenção que previna os incêndios?
Mas do Pontal saiu também um atual e justificado programa de emergência nacional. Trata-se de uma proposta que não sai do Orçamento de Estado em exercício mas vai obter os meios financeiros ao acréscimo no valor dos impostos que o Executivo está a receber resultantes dos aumentos de preços e da inflação.
Uma proposta que antecipa um debate político que vai ter de ser feito para encontrar ferramentas de ajuda às famílias mais carenciadas e mais expostas ao atual síndroma inflacionário.
Montenegro demonstrou no Pontal determinação e energia para desenvolver uma oposição responsável e ativa. Um bloco social-democrata forte limita o crescimento do Chega. Os que querem impedir a afirmação de partidos xenófobos e racistas em Portugal percebem que um PSD forte é um antídoto para a afirmação de partidos populistas. Rui Rio enfraqueceu o PSD e retirou-lhe espaço político. Luís Montenegro pode recolocar o partido laranja na sua histórica trajetória de afirmação no contexto nacional. E é, particularmente, importante que o faça enquanto oposição sobretudo quando está no poder um governo de maioria absoluta que a avaliar por estes cinco meses está sem rei nem roque.
Jornalista