Polónia: Santos deixou a seleção, mas "entrou" na política
Donald Tusk, atual chefe do partido liberal Plataforma Cívica (PO) nunca escondeu a sua paixão pelo futebol. Até jogou, mas sempre como amador. Como político, nas últimas semanas tenta na qualidade de líder informal da oposição combater os seus adversários políticos tanto nos encontros eleitorais como nas redes sociais. Em meados de outubro há eleições parlamentares na Polónia, as quais o partido de Tusk não ganha desde 2015. Desde então o PO perdeu também nas presidenciais e autárquicas. Talvez por este motivo a linguagem usada por Tusk é cada vez mais amarga e agressiva. Num dos tweets publicados na última semana o político, escrevendo sobre a governação da coligação dos partidos conservadores de Direita Unida, liderada pelo Lei e Justiça (PiS) de Jarosław Kaczynski, mencionou que tem vontade de... vomitar.
Acusando regularmente o governo de "destruir a Polónia", na quarta-feira, o líder da oposição polaca colocou mais um invulgar tweet, comparando o vice-primeiro-ministro polaco a... Fernando Santos. "O que Santos fez à equipa polaca é semelhante ao que Kaczynski está a fazer ao Estado polaco. Despedimo-nos de ambos com alívio", escreveu Donald Tusk na rede social X (antigo Twitter) pouco antes do treinador português ser demitido pela federação polaca. O desejo de Tusk tornou-se realidade com o selecionador, mas no caso de Kaczynski dificilmente acontecerá, pois a Direita Unida continua a liderar as sondagens pré-eleitorais.
A leitura dos comentários sobre a demissão de Fernando Santos do cargo de selecionador da Polónia, onde trabalhou apenas 232 dias, sugere que a maioria dos adeptos de futebol na Polónia acredita que a principal culpada da atual falta de resultados das "Águias" é a própria federação de futebol, que não cuida da estabilidade no comando técnico. Basta ver as estatísticas: o sucessor do Português será o sexto selecionador em apenas cinco anos.
Apesar do mau desempenho da seleção de Santos, que perdeu três dos cinco jogos com a sua equipa nas eliminatórias para o Euro 2024, caindo para o penúltimo lugar do grupo, nos comentários de especialistas e nas sondagens de adeptos organizadas pelos meios de comunicação social, o técnico português não é o principal culpado da crise na seleção polaca.
Numa consulta aos leitores organizada pelo diário online Wpolityce.pl, apenas 7% consideraram Fernando Santos como o principal culpado pelo fracasso da seleção, que no Grupo E está em quarto lugar, atrás da Albânia, República Checa e Moldávia. Apesar de a Polónia ainda ter hipóteses de apuramento para o Europeu, mesmo depois da derrota de domingo contra a Albânia, em Tirana, por 0-2, são cada vez menos os adeptos que acreditam na equipa e, sobretudo, no seu líder Robert Lewandowski, o avançado do FC Barcelona.
O despedimento de Fernando Santos não desagradou apenas a muitos adeptos na Polónia, mas também várias figuras importantes do futebol polaco. Em defesa do português saiu Henryk Kasperczak, antigo medalhado no Mundial de 1974 e treinador de vários clubes da primeira liga francesa e de seleções, como Marrocos e Senegal. A continuação de Santos foi também apoiada pelo ex-senador do partido PO de Donald Tusk, Antoni Piechniczek. Este antigo selecionador, com a qual a Polónia conquistou o terceiro lugar no Campeonato do Mundo de 1982, em Espanha, defendeu a necessidade do português continuar como treinador por mais do que alguns meses seguidos.
Ambos sublinharam que a Polónia não tem hoje, "antes de mais, uma equipa". Piechniczek, cuja seleção venceu Portugal na fase de grupos do Mundial de 1986, critica também a atitude do capitão da equipa, a quem acusou após o Mundial do Qatar, de alegadamente ter forçado a federação a despedir treinadores nacionais. "Já demitiste dois selecionadores. Lembra-te que és apenas um futebolista", avisou em dezembro Piechniczek a Lewandowski na rádio RMF FM. Alguns dias antes, chegavam do Qatar notícias sobre um conflito na seleção polaca entre os futebolistas e o selecionador. Rapidamente, a federação despediu Czesław Michniewicz, que por fim acabou por juntar-se ao Abha Club da primeira divisão saudita. No entanto, o selecionador polaco nem ouviu um agradecimento do capitão, Robert Lewandowski.
Este, desde o Mundial continua a ser criticado e culpado pelo fraco rendimento da equipa nacional. E sabe disso. No domingo, Lewandowski assumiu a culpa pela derrota contra Albânia, admitindo que ele e os seus colegas precisam de mudar seriamente o jogo da equipa. Quando questionado por um jornalista sobre uma possível demissão do Fernando Santos do comando polaco respondeu: "Não é esse o meu papel."