O Brasil, e não só, vai nesta semana às ruas pela Amazónia. A ideia, iniciada nas redes sociais, partiu do Movimento 342, um coletivo de artistas liderado por Paula Lavigne, atriz e produtora radicada no Rio de Janeiro.."Tudo começou com uma movimentação nas redes sociais para irmos às ruas, num primeiro momento pensámos em ir na sexta-feira [hoje], acompanhando a Fridays for Future, aquela iniciativa da menina Greta [Thunberg], mas nós, o Movimento 342, somos um movimento de artistas, então toda a gente tem peça de teatro, show, concerto às sextas-feiras à noite, o que nos impossibilitava de ir à tarde, não houve quórum", conta Paula ao DN.."Foi aí que nasceu a ideia do domingo, do sábado, dependendo da cidade, e tudo começou a rolar, a sociedade civil se movimentou, nem te sei dizer quantas cidades são, sei que Lisboa já está na lista, porque a cada minuto aumenta o número de atos, eram 11, agora já são muitas mais.".Há atos, cujo mote é "Todos pela Amazónia", já marcados para as praias de Ipanema e do Leblon, no Rio de Janeiro, no domingo, mas também em São Paulo, junto ao Museu de Arte da cidade, conhecido como MASP, na Avenida Paulista. Brasília, Curitiba, Natal, Belo Horizonte, Manaus e Salvador são outras das capitais estaduais já com atos confirmados, assim como as cidades de Atalanta, no estado de Santa Catarina, e Ribeirão Preto e São Carlos, municípios paulistas..Em Lisboa será na segunda-feira, às 18.00, na Praça Camões. E Sydney, na Austrália, também terá um protesto..Nos últimos dias, artistas como Caetano Veloso, marido de Paula Lavigne, Anitta, Elza Soares, Taís Araújo ou Luan Santana manifestaram-se contra a destruição da maior floresta do Brasil. O protesto estendeu-se aos americanos Leonardo DiCaprio, Lindsay Lohan, Kim Kardashian e Madonna, entre outros.."A política do Bolsonaro para a Amazónia é criminosa, criminosa, criminosa, não encontro outra palavra, infelizmente, porque o oxigénio que a direita respira é o mesmo oxigénio que a esquerda respira", lembra Lavigne. .A Rede Sustentabilidade, a propósito, protocolou ontem um pedido de impeachment do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, no Supremo Tribunal Federal. No documento, parlamentares do partido de Marina Silva acusam o ministro de "crime de responsabilidade". O pedido também indica que Salles cometeu atos incompatíveis com a função "ao perseguir agentes públicos"..A ideia inicial partiu do senador Fabiano Contarato, presidente da Comissão do Meio Ambiente do Senado, e foi acolhida por outros membros do partido como o senador Randolfe Rodrigues e a deputada Joenia Wapichana, que assinaram o documento junto com Contarato..O país registou, entre janeiro e 19 de agosto, um aumento de 83% das queimadas em relação ao mesmo período de 2018, com 72 843 focos de incêndios até ao momento. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que vigia o desmatamento por meio de imagens de satélite..O fogo está a progredir mesmo em áreas de proteção ambiental: 68 incêndios foram registados em territórios indígenas e áreas de conservação nesta semana, a maioria deles na Amazónia..O estado de Mato Grosso, na região centro oeste do Brasil, lidera as queimadas com 13 682 focos de incêndio em 2019 - um aumento de 87% em relação ao mesmo período do ano passado -, ainda segundo o INPE. Mesmo entre julho e setembro, quando é proibido promover queimadas naquele estado, houve um aumento de 205% no número de incêndios..O desmatamento e as queimadas ganharam repercussão internacional, depois de São Paulo, cidade a mais de 2500 km da Amazónia, ver o céu escurecer na última segunda-feira como consequência do mau tempo e do fumo das queimadas vindas das regiões norte e central do país, além do Paraguai..A água da chuva daquele dia estava contaminada com fuligem de fogo, segundo reportagem da TV Globo..Fotos da Amazónia desmatada invadiram as redes sociais no Brasil e no mundo e aumentaram a pressão sobre Jair Bolsonaro. O presidente, no entanto, disse que as organizações não governamentais que atuam na proteção ambiental podem estar envolvidas em incêndios ilegais como retaliação por receberem menos verbas desde o seu consulado.."Pode haver, não estou afirmando, uma ação criminosa dessas ONG para chamar a atenção precisamente contra mim, contra o governo do Brasil. Esta é a guerra que enfrentamos. Faremos todo o possível e impossível para conter o fogo criminoso", disse Bolsonaro, sem apresentar provas para sustentar a acusação..Representantes dessas ONG repudiaram a afirmação.